Carlos Tavares é o protagonista de um dos maiores negócios da indústria automóvel dos últimos anos. Depois de intensas negociações que se arrastaram mais de um ano e após a aprovação por parte de Bruxelas, a fusão entre a francesa PSA e Fiat-Chrysler deverá ficar finalmente concluída a 16 de janeiro, depois de as assembleias de acionistas das empresas terem votado favoravelmente à operação, com mais de 99% dos votos. Desta operação resultará a Stellantis, cujo liderança ficará a cargo do gestor português de 62 anos e quem tem pela frente um mandato de cinco anos.
Para Carlos Tavares não há dúvidas: esta fusão vai «criar valor», estando assim dados os passos para «avançar para a próxima fase desta história fabulosa».
A paixão pelos automóveis esteve sempre na base do sucesso profissional de Carlos Tavares. Até 2013 era o número dois da Renault Nissan, onde esteve 32 anos, mas é nessa altura que chega o convite para liderar o grupo PSA, concorrente da empresa onde trabalhava. Em 2014 mudou de rumo e arregaçou as mangas para abraçar uma nova aposta e uma nova marca. A verdade é que a escolha do gestor português para estar à frente da empresa francesa representou uma quebra na tradição da história da Peugeot, que sempre escolheu o seu líder através de uma seleção interna.
Carlos Tavares nasceu em Lisboa. Filho de uma professora de francês e de um representante de uma seguradora em Portugal, estudou no Liceu Francês, na capital, e mudou-se aos 17 anos para o país onde vive hoje, formando-se em Engenharia pela École Centrale de Paris em 1981 – uma das mais conceituadas a nível europeu.
Mas desde cedo que foi fascinado pelo mundo automóvel e chegou a ser comissário de pista no Autódromo do Estoril. «A minha paixão era conduzir carros», chegou a revelar em entrevista à RTP mas, como admitiu que não tinha talento suficiente para entrar na competição, aproveitou a sua formação para experimentar carros em circuitos. Um dos engenheiros da Renault afirmou ao Le Monde que o engenheiro português é um «das poucas dezenas de especialistas mundiais que sabem tudo sobre um carro, desde o desenho à produção, passando pelo marketing».
A sua paixão pelos automóveis e pelas corridas levou a que fosse apelidado de car guy, e continua a valorizar as corridas de automóveis. Tem em casa vários carros clássicos cuja manutenção é feita pelo próprio engenheiro. Essa loucura chega ao ponto de decorar o gabinete de trabalho com fotografias de carros de competição. Pai de três filhas, é à mais velha, Clémentine, que se deve o nome da equipa pela qual corre: a Clementeam, gerida pela própria mulher.
Negócio em números
A dimensão da Stellantis, tendo em conta os dados agregados das duas empresas relativos a 2019, vai colocá-la como o terceiro fabricante mundial em volume de negócios, com 167 mil milhões de euros, e o quarto em volume de veículos, com mais de oito milhões. À frente fica apenas a Volkswagen, Toyota e a aliança Renault-Nissan-Mitsubisthi.
A estimativa é que a fusão permita uma poupança de cerca de 3.700 milhões de euros em sinergias anuais, sendo que não está previsto o encerramento de fábricas em resultado da transação. «Seremos mais fortes juntos do que separados», afirmou Carlos Tavares. E justifica: em primeiro lugar, a Stellantis traz uma grande complementaridade «em termos geográficos e em termos tecnológicos», segundo porque as duas entidades vão «somar investimentos em investigação e desenvolvimento».
Carlos Tavares foi também notícia em 2020 por ter abdicado de 35% do seu salário fixo para ajudar na luta contra o novo coronavírus. O gestor português anunciou a doação de 600 mil euros à Fundação PSA, para que esta fornecesse equipamentos e serviços aos profissionais de saúde. Em 2019. o gestor recebeu um total de 7,6 milhões de euros em salário.