Situação por concelho é mais crítica do que mostram os últimos dados

Balanço feito pela DGS não inclui ainda os casos diagnosticados a partir de quarta-feira. Região Centro e Alentejo já estão em risco extremo, com todo o país a caminhar para lá.

Toda as segundas-feiras, a Direção-Geral da Saúde publica a incidência de novos casos por concelho num período de referência de 14 dias, números que ao longo dos últimos meses se tornaram a forma de perceber como evoluía a epidemia no país e como estava cada município – e, depois de o Governo ter adotado este indicador, que concelhos poderiam vir a ter medidas mais restritivas. No balanço disponibilizado ontem pela DGS há um agravamento da situação, com mais concelhos no vermelho, mas as incidências por município estão esta semana ainda mais desatualizadas face à evolução da epidemia nos últimos dias, em que aumentaram os diagnósticos. Assim, tal como na semana passada surgiu a expetativa de que Lisboa, Porto e Coimbra pudessem ter deixado de estar no patamar de risco muito elevado com base nos dados publicados na segunda-feira pela DGS, agora, os valores conhecidos estão também aquém do risco de contágio atual no país. Não contabilizam ainda os casos conhecidos a partir de quinta-feira, que fizeram disparar a incidência a nível nacional, agora próxima do nível de risco extremamente elevado (acima dos 960 casos por 100 mil habitantes).

Como perceber os dados

Ao longo da última semana, de segunda-feira a domingo foram diagnosticados 57 658 casos no país, o que compara com 34 mil casos na semana anterior. Foi a semana com mais casos diagnosticados desde o início da epidemia. A incidência por concelho disponibilizada esta segunda-feira diz, no entanto, respeito ao período entre 23 de dezembro e 5 de janeiro, a última terça-feira, com um desfasamento de menos um dia face às edições anteriores mas não incluindo a maioria da semana passada. Como os boletins da DGS dizem sempre respeito às notificações feitas até à meia-noite do dia anterior, este período inclui o primeiro dia com mais de 10 mil casos diários (os números divulgados quarta-feira), mas não ainda os que se seguiram. E os casos continuaram em patamares elevados. Desde quinta-feira foram reportados mais de 42 mil novos casos, que não entram assim nesta última fotografia nacional disponibilizada pela DGS. Na anterior atualização ficavam de fora 34 mil casos. Todas as semanas há este desfasamento nos dados, mas agora estão em causa mais casos e isso ajuda a perceber porque é que à segunda-feira é noticiado um determinado número de concelhos em risco elevado e ao longo da semana, nas intervenções do Governo, são referidos outros números. Assim, se for consultar qual a incidência no seu concelho, é preciso ter presente que neste momento, com a situação a agravar-se em todo o país, ele está pior do que os números publicados ontem pela DGS.

Quão pior?

Os dados publicados esta segunda-feira mostravam que, no período já referido, havia 57 concelhos em risco extremamente elevado (mais de 960 casos por 100 mil habitantes) e 132 no nível de risco mais elevado (entre 480 e 960 casos por 100 mil habitantes), números já recorde. O i procurou perceber junto da Direção-Geral da Saúde se, dada a evolução da situação, existia ontem um cálculo mais atualizado da incidência por concelho e quantos municípios estão agora em risco extremamente elevado ou muito elevado, mas não teve resposta até ao fecho desta edição.

Sem informação por concelho que reflita a totalidade dos diagnósticos nos últimos dias, é no entanto possível calcular a incidência por região. E a situação agravou-se significativamente face a 5 de janeiro (boletim de 6 de janeiro). Nessa altura, Portugal continental registava uma incidência cumulativa a 14 dias de 615 casos por 100 mil habitantes, sendo de 690,3 na região Norte, 678,9 na região Centro, 579,7 na região de Lisboa e Vale do Tejo, 661,7 na região do Alentejo e 461,7 no Algarve. Agora, com os dados notificados ontem (ou seja, no período entre 28 de dezembro e 10 de janeiro), a incidência a nível nacional subiu para 899,6 casos por 100 mil habitantes, estando pela primeira vez acima do patamar dos 800 casos desde o início da epidemia e já próximo da fronteira entre o risco muito elevado e o extremamente elevado – que poderá ser ultrapassada já amanhã. Na prática, nunca o risco de contágio foi tão elevado no país. Em novembro, no pico da segunda vaga, a região Norte registou o maior número de casos e foi a única a passar o patamar dos mil casos por 100 mil habitantes – e onde se viveu a maior pressão nos hospitais e aumento de mortes. Agora, o agravamento surge em todas as regiões, com a região Centro e Alentejo já acima dos mil casos por 100 mil habitantes, um nível de contágio sem precedentes desde o início da pandemia no país.

Na região Norte, a incidência voltou a subir para os 922 casos por 100 mil habitantes. Na região de Lisboa e Vale do Tejo está nos 890 casos por 100 mil habitantes, também com um risco de contágio sem precedentes. Isto significa que os números por concelhos são agora superiores e Lisboa ou Sintra, os mais populosos, terão aumentado para mais próximo deste patamar. O Algarve registava uma incidência de 743 casos por 100 mil habitantes. Com a tendência para agravamento nos próximos dias, as projeções apontam para que os casos estejam a crescer em torno de 9%. Às segundas-feiras, com laboratórios fechados ao domingo, as notificações diminuem, e aumentam ao longo da semana. Carlos Antunes, investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, adiantou ao i no domingo que as projeções apontam para uma média diária de 12 mil a 13 mil infeções. Como no início da semana surgem habitualmente menos diagnósticos, as notificações deverão disparar no final da semana – infeções que já aconteceram e que não são afetadas ainda pelas novas medidas. Em média, o período de incubação do vírus é de cinco a seis dias, mas pode ir até aos 14.