Com a pressão nas unidades de cuidados intensivos a aumentar em todo o país, o presidente do colégio de Medicina Intensiva da Ordem dos Médicos considera que não faz sentido esperar por quinta-feira para iniciar o confinamento. Ao i, o médico sublinha que o momento atual vai exigir intervenções do lado da resposta dos serviços de saúde mas também da procura. E apela a uma rápida redução de contactos. “Temos de regressar a um confinamento. Isso é absolutamente central e temos de o fazer imediatamente. Não faz sentido estar à espera de quinta-feira. E o mais importante, no meu entendimento, é que o cidadão perceba que o deve fazer desde já, mesmo que o despachar ou decretar seja mais tarde. Quando lutamos contra fenómenos tendencialmente exponenciais como as epidemias, é mais importante ser precoce do que ser perfeito”, defende José Artur Paiva. Alerta no entanto que o cumprimento do confinamento vai exigir um enquadramento que permita às pessoas ficarem em casa. “Para isso precisamos do Governo: é preciso garantir a cada cidadão a segurança social para que o confinamento seja feito com tranquilidade psicológica e financeira do próprio e da família. Não há dúvida de que precisamos de bastante sensibilidade social para este momento, sabendo que uma pandemia tem um fator discriminador terrível. É preciso legislação específica que permita que o cidadão possa e queira fazer esta restrição dos seus contactos sociais e circulação, que é absolutamente necessário nesta altura.”
Ocupação de UCI nos 90%
Os hospitais estão em contingência para o aumento de doentes mas nas próximas semanas a atividade programada não urgente terá de ser toda suspensa, diz José Artur Paiva.
Com o número de doentes em UCI a aumentar, ontem a ocupação nacional de camas para doentes críticos, entre doentes covid e não covid, aproximava-se dos 90%. “Vamos precisar de ganhar mais áreas e recursos humanos e expandir a capacidade ao máximo, o que envolverá a cessação de atividade não prioritária e não urgente. Ao longo dos últimos meses isso foi feito, mas agora é essencial e tem de acontecer em todos os hospitais. Significa que haverá uma priorização do doente crítico em desfavor do que é menos agudo e é agora que o temos de fazer, para não cairmos na priorização de doentes críticos. Temos de conseguir que a prioridade seja sempre entre o doente crítico e o que pode esperar”, reitera.
Ao todo, o presidente do colégio de Medicina Intensiva da Ordem dos Médicos, numa altura em que os serviços estão em permanente contacto, estima que além das 1160 camas de medicina intensiva atualmente disponíveis no SNS (já quase o dobro de janeiro do ano passado) seja possível abrir pelo menos mais 120, com mobilização de outras áreas hospitalares e recursos humanos.
Ontem a ministra da Saúde admitiu o cenário de requisição civil, se vier a ser necessário. José Artur Paiva não vê uma necessidade “imediata”, mas considera que, para responder aos doentes não covid-19, é necessário aumentar a colaboração com o setor privado ao longo das próximas semanas.