Candidatos afastam adiamento das eleições

Marcelo voltou a ouvir partidos, mas nenhum defendeu adiamento das presidenciais. Presidente e recandidato acusado de apoiar Governo Socialista pelos candidatos de direita. Ana Gomes alerta que “vai trabalhar para trazer de volta a direita neoliberal”.

O debate com todos os candidatos, na RTP, ficou marcado pelas críticas a Marcelo Rebelo de Sousa que não esteve no estúdio por indicações das autoridades de saúde.

O primeiro tema em discussão foi o adiamento das eleições por causa do confinamento geral, mas os candidatos concordaram que é praticamente impossível.

Marcelo Rebelo de Sousa revelou que voltou a ouvir os partidos sobre a possibilidade de adiar as presidenciais por causa da pandemia, mas “não houve nenhum que defendesse a ideia de uma revisão constitucional”. Ou seja, “não há condições para a Assembleia da República avançar para uma revisão que permitisse o adiamento”.

Foi consensual a ideia de que já não há tempo para mudar a data das eleições. Ana Gomes foi a única a reafirmar que essa possibilidade devia ser ponderada, mas garantiu que não deseja “o adiamento das eleições”.

O debate só aqueceu quando os candidatos dispararam contra o atual Presidente da República. Tiago Mayan acusou Marcelo de “estar ao lado deste Governo”. O candidato da Iniciativa Liberal defendeu que este caminho leva à “estagnação económica e à podridão do sistema político” e lamentou que Marcelo não tivesse exigido “acordos escritos” a seguir às últimas eleições legislativas. “Deixou cair essa exigência”.

André Ventura foi mais longe e classificou Marcelo Rebelo de Sousa como o “candidato do Governo socialista”. O líder e deputado do Chega voltou a apontar o dedo a Belém por “permitir a substituição” de Joana Marques Vidal, que "levou à detenção de José Sócrates", e de Vítor Caldeira.

Já Ana Gomes alertou que se o atual Presidente da República “fosse reeleito iria trabalhar para trazer de volta a direita neoliberal". A militante socialista acusou Marcelo Rebelo de Sousa de ser um “obstáculo” à regionalização e de ter ignorado temas fundamentais como as alterações climáticas.

À esquerda, João Ferreira acusou o Presidente e recandidato de falhar em temas como a “valorização do trabalho, a cultura ou o direito à habitação e Marisa Matias acusou Belém de gerar "bloqueios nas respostas a problemas estruturais" como as leis laborais ou a saúde.

Vitorino Silva também criticou a colagem ao Governo porque “precisa” dos votos dos socialistas. “Por isso é que nunca se zangaram”.

Marcelo Rebelo de Sousa, que entrou no debate por videoconferência, a partir de casa, em Cascais, respondeu às críticas com o argumento de que "o papel do Presidente é ser fator de unidade”

O Presidente "não cria crises onde já há crises, não cria vazios onde não há alternativas", acrescentou, insistindo na ideia de que é preciso “uma esquerda forte e uma direita forte”.

Antes do debate, Marcelo Rebelo de Sousa confessou ter ficado “irritado” por não ter “uma opinião por escrito” das autoridades de saúde sobre a sua participação no debate.

“Sinto-me muito irritado por não ter uma opinião por escrito para saber se podia ou não ir ao debate. A primeira opinião é que podia, depois foi que não, e na dúvida vim para casa”, disse, à RTP, Marcelo Rebelo de Sousa.