Chegados ao final do quinto dia de campanha oficial para as presidenciais, seis candidatos carregam no acelerador para tentar convencer os eleitores. De norte a sul, as caravanas (reduzidas) dos candidatos focaram-se no anúncio de um novo confinamento do país (com exceção das escolas), com críticas ao Governo, mas também ao Presidente da República. Ana Gomes, ex-eurodeputada socialista, considerou mesmo que Marcelo Rebelo de Sousa, o recandidato presidencial, “não tem feito campanha” e isso “é uma forma de a desvalorizar”.
De facto, Marcelo tem-se cingido quase só a debates e entrevistas. Mais, só no sábado saberá como vai agilizar a última semana de campanha depois de fazer um novo teste à covid-19 e de as autoridades de saúde reavaliarem a sua situação, Isto porque Marcelo o Presidente chegou a estar em isolamento profilático esta semana, depois de ter tido um teste positivo ao novo coronavírus. Além disso, um dos seus seguranças testou positivo e, pelo caminho, o também chefe de Estado ficou em vigilância passiva. Ou seja, a ordem é para evitar aglomerados.
Marcelo Rebelo de Sousa não tem tido iniciativas de campanha, mas foi a um alfarrabista (que ia fechar) e tem-se desdobrado em entrevistas: a mais recente, a uma estação televisiva francesa no Museu de Arte Antiga. Quanto a iniciativas de campanha propriamente, só a partir de sábado “se verá”, adiantou ao i fonte próxima do recandidato presidencial.
O chefe de Estado irá votar a Celorico de Basto, como tem sido hábito, apesar de ter equacionado o voto antecipado já para o próximo dia 17.
Na campanha propriamente dita, o discurso de André Ventura em Portalegre ficará na história das corridas eleitorais pelo facto de o candidato ter distribuído adjetivos e insultos pelos adversários. Ninguém escapou: Marcelo seria uma “espécie de fantasma”; João Ferreira, o candidato comunista, alguém que tem ar “de operário beto de Cascais”; Marisa Matias, alguém a quem todos devem e ninguém paga; Ana Gomes, “a contrabandista”, por ter recebido uma vacina da gripe vinda de França; e até o líder comunista, Jerónimo de Sousa, mereceu a designação de “avô bêbedo”. No final, saiu do espaço onde discursou e ouviu insultos de “fascista”. Na resposta, Ventura desabafou, “Só isso?”, em jeito de ironia. Mais à frente, queixou-se de ser o político “mais ameaçado” desde o 25 de Abril.
Enquanto a maioria dos candidatos tentou ignorá-lo, Ana Gomes não quis deixar passar o assunto em branco. “É um perigo para a democracia, e a democracia não pode ser tolerante com os intolerantes. Temos as lições da história: aqueles que fazem insultos com a intenção de estigmatizar grupos étnicos com propósitos racistas, de instalar a divisão e de semear o ódio e a violência não podem ser tolerados na nossa sociedade”, declarou a candidata a partir de Cinfães, onde também carregou nas tintas para acusar Marcelo de obstaculizar o processo de regionalização. Pelo caminho considerou que as medidas anunciadas pelo Governo para o novo confinamento são duras, porém “indispensáveis”.
Já João Ferreira avisou que não estava disponível “para despiques estéreis”. E arrumou o assunto. O candidato preferiu falar sobre as medidas do Governo, alertando que seria possível manter alguma atividade cultural desde que cumpridas as normas sanitárias.
Em Lisboa, Marisa Matias considerou que “nem toda a gente tem as mesmas condições para fazer um confinamento” e criticou o Governo por anunciar as novas regras primeiro, sem adiantar quais eram os apoios a que as pessoas teriam direito para cumprir um novo confinamento. E recebeu o apoio da ex-deputada Ana Drago.
Mais a norte, Tiago Mayan Gonçalves foi ao barbeiro, no Porto, para falar dos pequenos empresários que pagam a fatura do confinamento. “O Governo tem de, de uma vez por todas, assumir as responsabilidades das suas decisões e dar resposta a estes empresários”, exigiu o candidato. Mais a norte, em Carrazeda, Vitorino Silva não poupou o Governo porque anda “a brincar com quem trabalha”.
Entretanto, foi ontem anunciado que os sete candidatos voltarão a encontrar-se num debate, no dia 18, promovido por Antena 1, Rádio Renascença e TSF. Ao mesmo tempo, a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) “cancelou os debates entre Vitorino Silva e os restantes candidatos à Presidência da República” no Porto Canal. A estação televisiva revelou no seu site que a “ERC considera que o modelo de debates da estação põe em causa o princípio da igualdade de tratamento e de não discriminação. O organismo entende que o Porto Canal privilegia um dos candidatos sobre os demais”. De realçar que os debates naquela estação foram marcados para dar voz a Vitorino Silva antes do agendamento dos debates com o candidato na RTP3.