José Sócrates afirmou que chegou a Portugal uma “vaga de degradação política” com as eleições presidenciais. O antigo primeiro-ministro deixou críticas à extrema-direita, mas também a Ana Gomes.
"Aqui, em Portugal, entrámos também em campanha eleitoral para Presidente da República. E também aqui a vaga de degradação política chegou de forma avassaladora. A entrada na campanha do candidato da extrema-direita [André Ventura] mudou tudo", lê-se num artigo de Sócrates publicado, esta sexta-feira, na revista brasileira Carta Capital, intitulado “Ventos da tragédia”.
O antigo líder socialista considera ainda que "o espetáculo é agora de violência, agressão pessoal e brutalidade, primeiro nas palavras – começa sempre nas palavras".
"A linguagem não poderia ser mais esclarecedora da inspiração brasileira. Bem vistas as coisas, esta direita salazarista nunca deixou de existir em Portugal. Estava apenas adormecida pela história e à espera do momento certo", destacou, defendendo que "Trump e Bolsonaro deram a senha" ao propagarem a ideia de que "a moderação e o civismo democrático são filhos do politicamente correto e é preciso acabar com ele".
"Eis a primeira impressão geral da campanha – selvajaria, baixeza e apodrecimento. Ventos de desafio sopram por todo o mundo. O século vive agora com o fantasma do anterior. Resta saber quem serão os seus filhos", lê-se.
Mas Ana Gomes não ficou de fora do artigo de José Sócrates. O antigo primeiro-ministro lamentou que a esquerda portuguesa não resista a entrar "no jogo populista" e considerou mesmo que a ex-eurodeputada do PS segue a linha de "maldizer para agradar aos pasquins e garantir popularidade".
"Uma das candidatas usa igualmente a cartada do combate à corrupção, sem nenhum respeito pela inocência, pela presunção de inocência, pelos direitos individuais garantidos pela Constituição ou, mais simplesmente, pela boa educação e respeito devido aos demais. Toda uma carreira política dedicada à maledicência – maldizer os adversários, os ricos, os poderosos e maldizer também os seus próprios camaradas" no PS, critica.
"O próprio Presidente da República [Marcelo Rebelo de Sousa] tem de se defender das maldosas insinuações da candidata. No final, fica-nos a enjoativa impressão de que nada disto tem outro objetivo que não seja disfarçar um enorme vazio político", rematou.