Vários empresários queixaram-se de atrasos e de obstáculos em relação a pedidos anteriores. Como está agora esta situação?
Temos estado a acompanhar estas situações mas, neste momento, todas aquelas que possam não estar regularizadas são questões muito pontuais. Muitas delas prendem-se com questões de dívidas que entretanto surgiram e que poderão estar a bloquear o sistema. Já não temos as situações como tínhamos durante o processo inicial. Já está praticamente tudo regularizado e as que não estão são situações em que os trabalhadores estiveram, por exemplo, de baixa e estão a acumular com o pedido dos apoios, o que criou um entrave no sistema. São sempre questões muito particulares. Não temos hoje situações significativas de casos que não tenham sido pagos sem nenhuma justificação.
E quanto aos pedidos das autarquias que disponibilizaram verbas para compensar perdas ao fim de semana?
Há muitos empresários das áreas do comércio e da restauração que não têm contabilidade organizada, estão no regime simplificado, e o que acontece é que, depois, ficam excluídos dos apoios. Isso é uma situação que no Apoiar vai ser ultrapassada e, além disso, vão também ser criados apoios para essas entidades. Mas, normalmente, é uma questão mais difícil porque, não tendo dados históricos e contabilísticos que permitam avaliar a situação da empresa, é mais difícil conseguir-se atribuir apoios.
Há muitos empresários nesta situação?
Diria que é uma percentagem significativa, não diga que seja metade, talvez ande à volta dos 33%. Mas ainda é significativo.
O que acha dos novos apoios?
Acho que todos os apoios juntos são bastante significativos para as empresas, desde que estas possam beneficiar deles. E mesmo para quem tenha as tais dívidas, agora também está previsto que possam fazer acordos prestacionais para poderem recorrer aos apoios. Os apoios que existem vão de alguma forma conseguir reforçar a tesouraria das empresas no seu conjunto. É o caso das rendas, do apoio à manutenção dos postos de trabalho, seja qual for aquele por que se opte. Tudo em conjunto, reforça bastante a tesouraria das empresas.
Mas há aqui uma questão muito importante: primeiro, a gestão de expetativas dos recebimentos – o pedido é feito numa altura e os recebimentos não são imediatos. E, para os empresários, isto cria muitas vezes um problema de tesouraria maior e inclusivamente de não estarem à espera que demore tanto tempo. Acho que este tem sido um dos principais problemas com que os empresários se têm deparado.
Aos contabilistas, há duas perguntas que os empresários fazem: de quanto é o apoio e quando o vão receber. Estas são as perguntas que os empresários querem ver respondidas e é a questão que tem sido a mais difícil de gerir, quer o estado de pagamento, quer de termos uma perceção exata de quando são os pagamentos. Esta quinta-feira, quando o ministro da Economia apresentou as novas medidas, nomeadamente a extensão e o reforço do Apoiar, já teve essa preocupação e anunciou datas específicas.
Acho que é uma das questões mais importantes que temos de gerir, mas agora há um esforço para pagar o quanto antes, o que é extremamente importante. Mas também é importante que se diga aos empresários que nada disto é imediato, têm de existir pedidos, têm de ser avaliadas as situações das empresas, e por muito rápido que seja, para os empresários é sempre tempo demais.
Com este novo confinamento, atividades que são obrigadas a fechar são aquelas que foram mais penalizadas desde que surgiu a pandemia…
São sempre os mesmos. Feliz ou infelizmente, estamos em todas as empresas e os contabilistas certificados são os que melhor conhecem tudo o que se está a passar. Os setores mais afetados são aqueles que têm mais contacto com as pessoas: cultura, restauração, comércio, tudo. Foram os mais afetados no primeiro confinamento, continuaram a ser neste semiconfinamento que existiu e, agora, neste novo confinamento. Precisam de ter imensa coragem para enfrentar estes novos desafios, mas espero que consigam ter porque encerrar uma atividade e voltar a abrir e voltar a reerguer-se é muito mais difícil. Espero que os empresários consigam ter a força para manter os seus negócios.
E também são as atividades sem contabilidade organizada. Poderemos assistir a uma mudança?
Nestas áreas, sim. As pequenas empresas e as pequenas atividades não deviam precisar de um sistema organizado. Só que depois, com os apoios, com os incentivos, esta pandemia veio mostrar-nos que, muitas vezes, dependemos também de um Estado social e dos incentivos e, aí, essa situação torna-se relevante.