André Ventura sonha com dois dígitos na noite eleitoral, ou seja, no mínimo 10% dos votos. Mas quer mais: esmagar a esquerda e obrigar até a uma segunda volta nas presidenciais. Porém, o também presidente do Chega quer, sobretudo, ganhar espaço político… para o seu partido, o suficiente para fazer parte de uma solução para governar no futuro e tentar impor a agenda que já anunciou, a começar naquilo a que chamou a IV República (com a refundação da Constituição).
Nos últimos dias de campanha, Ventura recorreu a Deus, por várias vezes, no seu discurso: «a chuva que cai hoje do céu é sinal de que somos, estamos e continuaremos abençoados e no caminho certo», declarou o candidato num minicomício à chuva. Já antes tinha entrado no registo do bem e do mal. E clamou pelos votos, com dramatização extrema: «Estas eleições tornaram-se a eleição do bem contra o mal, dos portugueses de bem contra a minoria que pretende impor-nos as suas regras, a eleição dos portugueses que trabalham e pagam impostos e sentem, há 46 anos, que tudo é dado a alguns e tudo é tirado a quem contribui para Portugal». Ou seja, para o candidato apoiado pelo Chega estas eleições são o tudo ou o nada. Isto porque já admitiu demitir-se do cargo de líder do seu partido, caso fique atrás da embaixadora Ana Gomes. A caravana de Ventura, com seguranças à mistura, foi a que teve momentos mais conturbados, com protestos em várias iniciativas. Os manifestantes acusaram-no de fascista. Ventura nem se importou com o adjetivo: chegou mesmo a dizer que assumia o título porque tinha uma demanda: o combate à corrupção e o perfil do homem antissistema. Será que chega no dia 24? Logo se verá.
Pelo caminho, André Ventura distribuiu críticas e alguns insultos que obrigaram todos os candidatos adversários a demarcarem-se ou a tentarem isolá-lo no seu discurso. A versão mais visível desta guerra foi o embate com Marisa Matias. A candidata apoiada pelo Bloco de Esquerda ganhou nas redes sociais uma campanha pelo vermelho, numa alusão às críticas que Ventura lhe desferiu por causa do batom vermelho.
Nos derradeiros dias de campanha, André Ventura quis fazer queixa à Comissão Nacional de Eleições, acusando o Bloco de boicotar a sua candidatura. O BE desmentiu-o. Ontem, em Setúbal, houve distúrbios com arremesso de pedras, designadamente, ao carro do candidato e muita tensão entre manifestantes, (a maioria de etnia cigana) e a polícia. Segundo a polícia estiveram mobilizados cerca de 40 elementos para o local, avançou a RTP, recorrendo a bastões. De realçar que Ventura tem atacado a comunidade cigana, acusando-os de viver de subsídios.