O hospital de campanha montado no Estádio Universitário de Lisboa vai começar a receber os primeiros doentes este sábado de manhã. António Diniz, coordenador da Estrutura Hospitalar de Contingência de Lisboa, confirma ao Nascer do SOL que está agora tudo pronto para começar a receber doentes ainda que nas últimas horas tenha sido preciso acertar escalas, devido ao facto de alguns dos profissionais mobilizados terem ficado entretanto em isolamento. "Não são assim tão poucos, foram cerca de uma dezena, o que mostra a situação em que estamos".
Uma das dificuldades na organização da estrutura de apoio aos hospitais da região, instalada desde março na cidade universitária e que agora há necessidade de ativar, tem sido precisamente a mobilização de profissionais. O corpo inclui enfermeiros dos centros de saúde, médicos de família e internos de medicina geral e familiar e médicos hospitalares, que coordenarão cada uma das equipas que vai garantir os turnos sete dias por semana, 24 horas por dia.
A unidade vai ajudar a gerir a pressão crescente sobre os hospitais da região, explica António Diniz. Vão receber doentes estabilizados mas que não reúnem ainda condições para ter alta clínica. “São doentes estabilizados, que já não têm critérios de gravidade que impliquem que fiquem numa unidade tão diferenciada como um hospital mas não podem ter ainda alta clínica. Nessas situações, o hospital pede a transferência e os doentes poderão terminar o seu tratamento nesta estrutura e depois ter alta. Em princípio teremos os doentes connosco quatro ou cinco dias, não mais tempo.” Uma resposta que ajudará ao mesmo tempo a libertar camas nos hospitais para doentes em estado mais grave. “Por cada doente que internemos por quatro ou cinco dias, significa menos quatro ou cinco dias no hospital".
Fim de semana de teste – já a preparar a abertura de segundo pavilhão
António Diniz explica que este sábado há condições para receber os primeiros dez doentes e no domingo mais dez, num fim de semana que será ainda de teste para perceber como funciona toda a estrutura e equipas em ambiente real. “Temos de perceber se funciona tudo bem, mesmo a parte dos sistemas informáticos. A partir daí iremos encher, em função dos pedidos dos hospitais, até chegar à capacidade máxima do pavilhão que são 58 camas”, explica o coordenador.
Face à situação epidemiológica, ao mesmo tempo que entra em funcionamento a primeira estrutura, está já a ser preparada a abertura de um segundo pavilhão, revela ao i António Diniz. “Precisamos de 15 dias para que fique completamente operacional, tal como está este. Vamos ver se temos esse tempo.”
“Animados mas cansados”
A organização das equipas tem sido a preocupação nas últimas semanas. António Diniz explica que para ter as 58 camas com doentes são necessários 20 enfermeiros, 19 médicos, 15 assistentes operacionais e dois a três assistentes administrativos. Os colegas vêm de várias unidades da região e António Diniz sublinha que os turnos no hospital de campanha serão um esforço adicional além do serviço habitual e ao mesmo tempo implicará também mais trabalho para os colegas que ficam nas respetivas unidades. Estado de espírito? “Acho que todos estão animados, mas que estão cansados estão, soma-se a tudo o que foi a atividade no último ano. É um grande esforço que está a ser pedido a todos”, assume António Diniz, que considera que todas as formas de reconhecimento aos profissionais de saúde são necessárias, mesmo que simbólicas.
Como ajudar?
Numa altura em que muitas pessoas vão questionando como ajudar no combate à pandemia, António Diniz explica que, em termos de trabalho no local, tratando-se de internamento hospitalar, são necessárias habilitações em saúde. Para a abertura do segundo pavilhão serão precisos mais braços e o médico admite que nessa altura poderá ser necessário o apoio de elementos externos à área da saúde para atividades ocasionais “Temos tido várias pessoas a oferecerem-se, mas o trabalho numa estrutura deste género, em que vamos ter doentes internados, não pode estar dependente de trabalho de voluntários e de pessoas não diferenciadas em termos de formação em saúde”.
Mas, a esta altura, todos os apoios são bem-vindos, admite António Diniz. Seja "mimos" como ajuda para o pequeno-almoço ou televisores que ajudam a dar conforto ao internamento ou apoio com equipamento. O médico sublinha que para o hospital de campanha começar agora a funcionar, além dos organismos oficiais – a estrutura resulta da cooperação entre a Universidade de Lisboa, a Câmara Municipal de Lisboa, o Estado Maior General das Forças Armadas e a Administração Regional de Saúde Lisboa e Vale do Tejo – contou já com donativos de várias entidades privadas, de empresas a associações, ligadas ou não à saúde. “Foram decisivas. O equipamento que temos, do oxigénio aos monitores, electrocardiógrafos, desfibrilhadores, foram conseguidos com donativos feitos por empresas privadas. Nesse aspecto, se mais empresas quiserem colaborar, temos um segundo pavilhão para equipar. É muito bem-vindo tudo isso.”