“Andamos constantemente angustiados com a possibilidade de infetar alguém”, explicam estudantes de enfermagem

Os alunos da Escola Superior de Enfermagem do Porto desabafaram que “muitas vezes” lhes é dada uma máscara cirúrgica “para um turno inteiro de trabalho”, no qual contactam “com inúmeros doentes com máscaras mal colocadas ou sem elas”.

Mais de cem estudantes da Escola Superior de Enfermagem do Porto (ESEP) exigiram, este domingo, melhores condições para prosseguir os estágios, esclarecendo que querem ser “parte da solução e não contribuir para o agravamento” da pandemia da covid-19.

Numa carta dirigida à direção da ESEP, à qual a agência Lusa teve acesso, os alunos abordaram a falta de equipamentos de proteção individual (EPIs) e referiram que, em caso de surtos em locais de estágio, não são tratados como profissionais de saúde, temendo ser "veículos de transmissão" quer para doentes, quer para as próprias famílias.

“Não queremos contribuir para a rutura de um SNS [Serviço Nacional de Saúde] já fragilizado, por nos expormos a perigos desnecessários. Não queremos contribuir para a morte dos doentes de quem tratamos ou de um entre querido, porque não temos acesso aos EPIs que seriam necessários ou porque não nos foi disponibilizado um teste de despiste. Queremos fazer parte da solução, não contribuir para o agravamento do problema”, é possível ler na carta dos alunos que dizem estar “preocupados, indignados e frustrados com algumas situações que se têm passado”, sendo que “muitas vezes” lhes é dada uma máscara cirúrgica “para um turno inteiro de trabalho”, no qual contactam “com inúmeros doentes com máscaras mal colocadas ou sem elas”. “Nestas situações, e segundo a evidência científica, a eficácia da máscara cirúrgica torna-se diminuta”, salientaram.

“Andamos constantemente receosos e angustiados com a possibilidade de infetar alguém. Não só as pessoas que mais gostámos e que vivem connosco, mas também, os doentes que nos são atribuídos no estágio. Muitos desses doentes encontram-se numa condição de saúde debilitada, provavelmente, não sobreviveria a esta doença. Não é isto contraditório àquilo que é preciso fazer neste momento? Como é que podemos quebrar as cadeias de transmissão se nem um teste nos é disponibilizado, quando contactamos com um doente covid-19 positivo no estágio?”, questionaram.

“É simplesmente impossível não falar da não inclusão dos estudantes de enfermagem, em ensino clínico, nos grupos prioritários da vacinação. Sabemos que esta delicada situação não está dependente de vós, mas gostaríamos de saber o que tem feito por nós relativamente a este tema. Prestamos os mesmos cuidados que os profissionais de saúde, estamos expostos diariamente aos mesmos riscos”, concluíram.