André Ventura. “PSD, ouve bem: não haverá Governo em Portugal sem o Chega”

Candidato falhou objetivos, mas superou os dois dígitos e… o PCP no Alentejo. No final vai dar a palavra aos militantes do Chega.

“Continuamos a pensar atingir o segundo lugar”, admitia Rui Paulo Sousa, mandatário nacional de André Ventura, candidato apoiado pelo Chega e seu presidente, pelas 20 horas. O apuramento eleitoral deixou André Ventura à frente de Ana Gomes durante algumas horas mas, a partir das 22 horas de ontem, ficou claro que o também líder do Chega ficou atrás de Ana Gomes. Dos objetivos que colocou para a campanha, só cumpriu um: o de ter dois dígitos.

Porém, garantiu um resultado surpreendente no Alentejo, uma zona do país onde o PCP normalmente tem melhores resultados, designadamente em eleições autárquicas. No distrito de Lisboa, por exemplo, onde o PCP detém a Câmara de Loures, Ventura ficou à frente de Ana Gomes e de João Ferreira, o candidato apoiado pelo partido de Bernardino Soares, o autarca daquele concelho.

Na hora dos discursos, André Ventura foi atrasando a sua entrada em cena até à contagem de todos os votos. Mais, esperou que Ana Gomes falasse primeiro. E a diplomata falou. Por isso, quando subiu ao púlpito, com dezenas de apoiantes na sala, Ventura acabou a fazer uma intervenção triunfante. Apesar de não ter ido a uma segunda volta nem de ter ficado em segundo lugar, olhou para os números e fez duas leituras: “Esmagámos a extrema-esquerda em Portugal”. Mais, a noite também foi de reconfiguração à direita. A partir daqui fica o aviso ao sociais-democratas. “PSD, ouve bem, não haverá Governo em Portugal sem o Chega”, atirou Ventura. “Obrigado aos portugueses pelo enorme estalo no sistema em Portugal. Porque hoje foi um estalo, amanhã será uma avalanche que nos levará ao Governo de Portugal”, prosseguiu o candidato e presidente do Chega.

Sobre a esquerda, lembrou que “João Ferreira nem no Alentejo me ganhou” e Ana Gomes ficou à frente por pouco, sendo a representante do que há de pior no sistema. “Hoje rompemos outra barreira. Quebrámos o mito das terras de esquerda, ditas comunistas. Hoje, nem o PCP ficou à nossa frente. Mesmo nas zonas profundamente comunistas, o Chega mostrou que esse eleitorado é seu e que vai continuar a ser outro”, acrescentou Ventura.

Assim, com tantas variáveis nos números, só pode haver uma conclusão da noite. Ventura perdeu nos objetivos, mas ganhou na realidade para o futuro: “Não há segundas vias, nem ilusões. Não haverá Governo em Portugal sem que o Chega seja parte fundamental desse Governo. Não haverá Governo em Portugal sem nós”, assegurou o candidato. E o recado foi direto para o líder do PSD, Rui Rio, que falara uma hora antes. “Ouvimos dizer que foram os outros que falharam com a nossa ascensão. Não há volta a dar e não haverá Governo sem Chega nos próximos anos”, defendeu Ventura.

Uma das dúvidas da noite era a de saber se André Ventura se demitia por não ter conseguido uma segunda volta e ficar à frente de Ana Gomes, a ex-eurodeputada socialista. Ora, André Ventura vai devolver a palavra aos militantes do Chega para saber se o querem “ou não” à frente do projeto. A avaliar pela reação da sala, não haverá grandes dúvidas sobre o futuro do também deputado, que coloca o lugar à disposição para sair reforçado na liderança do Chega.

 

Os avisos na Direita

Ventura obteve 11,91% (493 952 votos) e da direita veio o primeiro aviso da noite. Paulo Portas, enquanto comentador na TVI24, lembrou que Portugal tem agora “o populismo de direita extrema ou de extrema-direita” com dois dígitos. O comentário é raro, vindo do antigo líder do CDS, mas serve também ao seu próprio partido e contraria uma frase que lhe é atribuída, noutros tempos, de que à frente do CDS só uma parede no Parlamento. Na sede dos democratas cristãos, o vice-presidente do partido António Carlos Monteiro recusou falar em nomes que não o de Marcelo Rebelo de Sousa: “Não é possível transpor resultados de eleições presidenciais para os interesses partidários que suportam esses mesmos candidatos”. O mesmo fez o líder do CDS, Francisco Rodrigues dos Santos, para já não falar de Rui Rio, presidente do PSD.

Mas o problema coloca-se. “Como lidar com André Ventura (….)” foi a pergunta que o antigo ministro adjunto Miguel Poiares Maduro deixou na RTP. O ex-governante no Executivo de Passos Coelho lembrou que o PSD “corre o risco de ficar refém do Chega”.