O “orgulho na democracia e na liberdade” não foram suficientes para Marisa Matias. A declaração foi feita pela candidata do Bloco de Esquerda no momento em que votava, mas viu os seus resultados caírem quase para metade face às últimas eleições presidenciais. Se, em 2016, a também eurodeputada conseguiu alcançar 9,6% dos votos – o equivalente a um total de 253 214 sufrágios -, desta vez, rondou os 4%. A sua mais-valia, o contacto na rua, foi condicionada por tempos de pandemia, o que poderá ter influenciado o seu resultado. Também Ana Gomes, como adversária, não facilitou o seu caminho. O combate à corrupção, uma das políticas de bandeira bloquista, recebeu eco junto da candidata independente e os discursos acabaram por ser duplicados. Ainda assim, deu os parabéns à sua “concorrente” por ter ficado “acima das aldrabices e do ódio de André Ventura”.
E nem as ondas de solidariedade em torno do batom vermelho, depois das críticas por parte de André Ventura, conseguiram salvar o seu resultado, tendo Marisa Matias aproveitado para tecer duras críticas ao também candidato – “o país votou na extrema-direita” – e garantiu que os combates que tem pela frente são difíceis e fundamentais. “Queremos um país solidário, é essa a nossa tarefa. Que se junte pelo Serviço Nacional de Saúde”, disse, justificando esta tendência com os problemas que o país está a enfrentar face à crise económica e social.
“Dei o melhor de mim”, disse Marisa Matias no seu discurso de derrota, reconhecendo que os seus resultados ficaram aquém do que estava previsto. Mas deixou uma garantia: “Continuam a contar comigo todos os dias”. E acrescentou: “Hoje como ontem, amanhã como hoje, cá estarei para ganhar e perder, como fiz sempre”.
Cerca de 30 minutos antes, o líder parlamentar do Bloco de Esquerda tinha reconhecido que os resultados não haviam atingindo os objetivos traçados para as eleições. Pedro Filipe Soares também deixou uma palavra à reconfiguração da extrema-direita. “A normalização da extrema-direita, em particular dos dirigentes, resulta numa reconfiguração da direita que hoje está aos olhos de toda a gente. Avisámos várias vezes e muitas vezes fomos ignorados e outras fomos até contestados”, salientou.
No entender do responsável, não há dúvidas: “Sendo umas eleições presidenciais, neste momento tão particular no país, cá estaremos, a Marisa Matias e o Bloco de Esquerda, para as lutas que são necessárias e essenciais”, afirmou, destacando a “resposta à enorme crise pandémica, económica e social que temos pela frente”, a luta pelos direitos de quem trabalha e o combate às alterações climáticas. “Este é o resultado das lutas que temos travado, é o nosso património que continuaremos a levar por diante nos próximos dias”, concluiu o dirigente do Bloco.
Também Francisco Louçã comentou a derrota, não só de Marisa Martins, mas de todos os candidatos à esquerda. “Acho que à esquerda, com três excelentes candidatos, todos foram derrotados. Marisa Matias, certamente, uma votação muito inferior à que tinha, há uma queda de 10% para 5%. Acho que ninguém vai festejar à esquerda. Houve quatro candidatos da esquerda nas últimas eleições presidenciais, que tiveram cerca de 40% juntos. Há três desta vez, menos dispersão, que têm cerca de 25% juntos, porque Marcelo Rebelo de Sousa entrou em todos estes eleitorados, com intensidades diferentes, naturalmente muito mais no PS, mas também nos outros, e polarizou essa votação”, disse.
Chumbo do OE condicionou? O facto de o partido ter votado contra o Orçamento do Estado para 2021 poderá ter alguma influência no resultado. Ainda assim, a candidata bloquista não quis relacionar o chumbo do documento com os seus resultados. “Não nos permitem tirar uma conclusão”, disse apenas.