Ao início da noite, a margem que lhe era atribuída pelas projeções das várias televisões deixava em aberto a possibilidade de manter, porventura melhorar, o resultado de 3,28% que nas presidenciais de há cinco anos lhe deram o sexto lugar entre dez candidatos. Numa primeira declaração apressada aos jornalistas que em Penafiel o acompanharam em noite eleitoral, dizia, repetia, que não lhe interessava falar em percentagens. Interessavam-lhe números absolutos e finais: vitórias ou derrotas, essas medir-se-iam por mais um ou menos um voto do que os surpreendentes 152 094 obtidos em 2016. “Para mim é uma grande vitória conseguir convencer mais um português ou uma portuguesa”, anunciava.
Perto das dez da noite, voltaria a falar, agora num discurso que não se entendia se de derrota ou de vitória – difíceis ainda de aferir quando não estavam ainda contados todos os votos. Dirigiu-se a todos os portugueses, aos “portugueses do mundo” e a todos aqueles aos quais, vivendo em território nacional, não conseguiu chegar numa campanha que, isolado dos outros candidatos, decidiu fazer em casa. “Estou mesmo muito feliz que mesmo fazendo campanha em casa e em segurança consegui votos em todo o mundo. As minhas primeiras palavras são para os portugueses do mundo, para os que não me conseguiram ver nas suas terras. Gostava de ter ido em campanha para o Alentejo, para o Algarve, para as ilhas, para a Guarda, para Castelo Branco, para Évora, para Beja, para Portalegre”, enumerou, trazendo à memória o momento do debate da RTP entre todos os candidatos em que Carlos Daniel o lembrou de não haver necessidade de repetir os nomes de todos os candidatos. “O povo foi mandado para casa e eu sou contra as mordomias. Somos um país que tem excelentíssimos a mais. Mas de casa e em segurança consegui falar para todo o mundo, consegui falar para vós, e a prova é que tive votos em todo o mundo e em Portugal continental”.
A derrota em Rans Que por todo o mundo Vitorino terá recolhido votos é um facto. Que à hora do fecho desta edição o tal voto a mais do que na última vez que se candidatara à Presidência poderia ainda acabar por surgir também. Do que Tino de Rans – como ficou conhecido desde o tempo de Guterres o candidato oriundo da freguesia cujo nome se colou ao seu nome – não estaria à espera seria que essa contagem voto a voto acabasse por dar em Rans, a sua Rans, a vitória a Marcelo Rebelo de Sousa. Taco a taco, é certo, 389 contra 369 votos, 44,25% contra 41,98% acabados de contar os votos da freguesia do concelho de Penafiel, mas uma hecatombe quando se olha para os números de há cinco anos, quando Rans lhe deu 60,93% dos votos e apenas 22,88% a Marcelo Rebelo de Sousa.
Pelo feito disse na vez em que falou ao país ter tentado congratular o Presidente reeleito. “Liguei-lhe duas ou três vezes, não atendeu, pronto, um telefone só dá para atender a um de cada vez”. Contou que há cinco anos convidou o então eleito Presidente para que um dia visitasse Rans e que em cinco anos a visita nunca aconteceu. “A Rans nunca veio um Rei, nunca veio um Presidente da República e gostaria que o Presidente da República nestes cinco anos cá viesse”. Ficou o convite.
E voltou ainda Vitorino, candidato que para um dos debates na RTP levou um conjunto de “pedras de todas as cores” recolhidas em Peniche, à metáfora dos muros que foi usando ao longo da campanha: “Gosto de fazer caminhos, não gosto de fazer muros. Estou apenas a meio do caminho”.
O “caminho” de Vitorino Depois de questionado sobre uma eventual recandidatura, daqui a cinco anos, apontaria a direção do seu caminho, recorrendo à História e, de novo os reis, D. Afonso Henriques. “Esta candidatura demonstrou que qualquer português anónimo, simples pode ser candidato a Presidente da República”, afirmou, sublinhando ter levado avante “uma candidatura sem padrinhos, sem pai, sem o apoio de ninguém, apenas o de meia dúzia de amigos que de forma desinteressada mas com muito interesse” o ajudaram. “É possível que a partir deste momento qualquer português que me esteja a ver daqui por cinco anos possa ser candidato. E não tenham medo, porque não há portugueses de primeira nem de segunda. Não tenham medo. Esta candidatura foi a prova de que um homem simples, do povo, de uma terrinha pequenina deste país pode lutar de igual para igual se lhe derem as mesmas oportunidades. Toda a gente sabe que não nos deram as mesmas oportunidades. Por medo”.
Agora, o que quer Vitorino é, também ele, que se altere a Constituição para que qualquer português em idade de votar possa ser candidato a Presidente da República. “Porque é que não dão as mesmas oportunidades a todos? O país tem nove séculos, tem 900 anos de História, tenham respeito pela nossa história, pelos portugueses, porque nenhum português é mais do que outro”. E continuou: “D. Afonso Henriques, que foi Rei, se fosse vivo ainda, poderia ser candidato a Presidente da República. Não há teto para cima, porque é que há teto para baixo?”, questionou. “Uma pessoa com 35 anos pode concorrer, um jovem com 34 não pode. Gostava que daqui a cinco anos houvesse um jovem com 18, com 22, com 24, uma mulher, um homem jovem que pudesse concorrer. Porque é que os políticos viram as costas aos jovens? Não os deixem para trás. Mudem a Constituição para que a partir do momento em que uma pessoa pode votar possa ser candidata a Presidente da República. Vai ser a minha luta. A minha grande luta é que os jovens sejam tratados por igual porque os jovens gostam de política, interessam-se por política, não gostam é de nós, políticos”.