Francisca Pinto Ribeiro Pereira: “Não sei estar sozinha. Isso para mim é uma coisa que não existe”

A conversa durou cerca de uma hora mas só por causa do limite destas páginas. A boa disposição é imagem de marca e a família a palavra-chave. Quer ter o quarto filho, mas o estado do mundo deixou esse desejo em stand-by. Fala-nos da vida no Brasil, dos seus projetos e de como se tornou «a menina feliz»…

A última vez que conversámos estavas grávida da Julieta. Passaram cerca de três anos e meteu-se uma pandemia pelo meio. Como é que estás?

Estou radiante em relação à Julieta, obviamente. O tempo passa a correr e lembro-me perfeitamente de que quando estava grávida dela tinha imenso medo de como iria ser ter mais um filho. Só que ela foi a melhor coisa que aconteceu nas nossas vidas. Além de ser uma miúda super extrovertida e animada – até digo que é igual a mim -, veio dar uma estabilidade emocional também à família. É engraçado, nós achamos que a Julieta é, assim, o pilar. Este último ano tem sido um ano em que estamos mais unidos do que nunca. Tê-los aos três faz-nos agradecer termos conseguido chegar até aqui com três filhos saudáveis, felizes e tranquilos e também na companhia que nos fazem. No ano passado ficámos cinco meses em casa, com eles, e em que só saímos para ir para a casa dos meus pais no Alentejo, mas estivemos sempre os cinco juntos e foi um desafio.

O primeiro confinamento também foi cá em Lisboa ou no Rio de Janeiro?

Quando Portugal começou a confinar, o Brasil ainda não estava assim. E foi engraçado porque o Ricardo [Pereira], no dia 15 de março – altura em que começou o confinamento em Portugal –, foi quando acabou as gravações da novela que estava a fazer no Brasil. Nós achámos por bem, e por termos a noção do que estava a acontecer em Portugal e no mundo, começar a confinar por lá também. Eles só começaram a confinar no final de março. Ficámos lá ainda quase um mês, em casa, e quando começaram as aulas online pensámos: ‘Vamos para Portugal’. Assim estaríamos perto dos pais do Ricardo, que não têm mais ninguém porque é filho único, e era melhor estarmos perto dos nossos familiares, não sabendo no que iria resultar. E viemos para Portugal. Portanto, o início do confinamento foi no Brasil, mas o resto foi cá. Foi uma aventura.

O que faziam para distrair três filhos, ainda por cima tão pequenos? Há muitas pessoas que perguntam o que podem fazer, porque é muito tempo em casa, sobretudo para as crianças…

Olha, uma das partes boas da escola online e de ser o horário brasileiro era eles só começarem as aulas ao meio dia – horário de Portugal – e nós aproveitávamos a manhã. Eu e o Ricardo, que adoramos fazer ginástica, fazíamos sempre uma aula em família. Punhamos os miúdos a fazer qualquer coisa connosco. O Vicente está sempre a dizer que quer ser como o Cristiano Ronaldo, então fazíamos sempre ginástica de manhã. Depois tomávamos um bom pequeno-almoço todos juntos e ao meio-dia dividíamo-nos. O Vicente tinha aulas com o Ricardo e a Boo [Francisca] tinha aulas comigo. O Vicente estava no 2º ano e a Boo no jardim de infância, a começar as letras. Mas se eles agora vierem para casa eu nem quero imaginar, porque o Ricardo vai gravar e eu vou ficar sozinha com os três – e agora a Julieta também vai ter aulas de Zoom. Eu dizia à professora dela: ‘Ela tem três anos, não vai acontecer. Eu vou ter outros dois a terem aulas e vou ter que virar um polvo’ [risos]. A Boo ainda não sabe ler e eu vou ter que ficar com ela, além de que não vou ter aqui o Ricardo. Uma coisa era quando nos sentávamos os quatro na mesa da sala de jantar, o Ricardo ficava num canto com o Vicente e eu no outro com a Boo. Ao contrário de muitos pais, eu acho que isto foi muito importante para a nossa família. Demo-nos todos muito bem. Claro que houve momentos de tensão e em que estávamos mais cansados, tentámo-nos reinventar e fazer coisas giras. As crianças ficaram felizes da vida por estarem connosco. Houve momentos em que eles não queriam fazer trabalhos ou que estávamos mais cansados, mas acabávamos sempre por levar aquilo da melhor maneira. No último dia de aulas, a professora da Francisca fez um vídeo muito giro de final de ano, onde inicialmente apareciam os miúdos todos na escola, as festas, os trabalhos e no final eram as fotografias que os pais mandavam das aulas online e dos pais com eles. Olha, comecei a chorar baba e ranho a pensar no que nós ultrapassámos. Estivemos sempre ao lado dos nossos filhos, virámos professores e a importância que isso teve. Eu também entendo aqueles pais que não tinham tempo porque tinham que estar a trabalhar e que não tinham paciência, eu às vezes não a tinha porque a Julieta também andava a correr pela casa e a pedir atenção. Mas, quando olhei para trás e passou, disse ao Ricardo: ‘Uau, conseguimos!’. E não foi assim tão difícil. Temos amigos que nos diziam que não aguentavam mais, mas eu também acho que isso se deve muito à nossa maneira de ser. Nós somos extremamente positivos. Eu sou uma pessoa super alegre e bem disposta, claro que também tenho os meus maus humores, mas vejo sempre o lado bom das coisas. Acho que tentámos tirar o melhor partido disso para fazermos ginástica juntos, para cozinharmos juntos, para vermos séries juntos, para vermos os filmes do antigamente, o Star Wars, sei lá, todos os filmes da Disney da nossa época. Fizemos tudo. Chegámos a estar setenta e tal dias, se não me engano, sem ver ninguém, sem ir ao supermercado – era tudo online –, mas quando as coisas abriram fomos saindo com calma para casa dos meus pais e começámos a espreitar para o mundo. Agora digo ao Ricardo que tenho medo de ficar sozinha com os três [se as escolas voltarem a fechar], mas é assim: Bora lá.

Os vossos filhos já estavam com saudades da escola ou vocês eram tão bons professores que preferem ter aulas em casa?

Ontem, quando estávamos os cinco a jantar, disse: ‘Meninos aproveitem cada dia que estão na escola porque não sabemos se vocês não vão ter que voltar para casa e às aulas online’. E a cara deles… Não disseram nada. Na escola, eles almoçam na secretária deles, quase não saem da sala de aula, é tudo muito esquisito e estranho, mas eles levam isto da melhor maneira, adaptaram-se super bem. Acho que isso é muito importante para a vida deles, aprenderem com os professores, conviverem, estarem na escola porque, por muito que nós façamos o nosso trabalho, não é a mesma coisa. Senti que mudaram muito, quando estavam em casa – mimados, birras e cansados de tudo isto -, claro que é bom estar em casa com o pai e a mãe, obviamente, mas também é bom estar na escola com os amigos e aprender. Isto até foi importante para eles darem valor à escola. Por muito que me esforce não é a mesma coisa. Além de que eles aprendem de forma totalmente diferente de nós. Às vezes eu e o Ricardo ficávamos a olhar um para o outro e dizíamos: ‘Eles estão no primeiro e terceiro ano imagina quando forem mais velhos [risos]’.

É difícil fazê-los entender o que se está a passar ou, até pelo facto de serem crianças, adaptam-se melhor às circunstâncias? O recreio mudou, almoçam nas secretárias…

Eles estão super adaptados. Já não saem de casa sem máscara e nem sequer precisam [têm menos de 10 anos] mas, enfim, é mais uma proteção. O mindset deles já está para o mundo em que vivemos hoje em dia. No outro dia diziam-me que as janelas da sala de aula tinham que estar abertas e eu perguntava: ‘Mas vocês não têm frio?’. E eles: ‘Não mãe, o ar tem que circular por causa do coronavírus’. E eu, amorosa, a pôr mantas nas mochilas deles, que nem as querem. Já se habituaram a esta nova realidade.

Como gerem a escola entre Portugal e o Brasil? Antes da pandemia como era feita essa gestão?

Eles andam numa escola internacional que tem os mesmos horários, o mesmo calendário escolar, as mesmas matérias, não mudam nada. É igual em qualquer parte do mundo. Foi uma das coisas que pesou para mim e para o Ricardo, por causa da vida que temos, mas eles andam para trás e para a frente, têm amigos nos dois lados. Uma coisa boa nesta escola é que os professores nunca são os mesmos, todos os anos mudam mesmo que as crianças continuem. Não há aquele hábito, que nós tínhamos, de ser sempre a mesma professora da primeira à quarta classe e os miúdos estão sempre a ir e a vir… Como é uma coisa tão natural para eles, que também adoram morar nos dois países, estão sempre bem. Isso tem sido super fácil para nós, mesmo.

Apesar de gostar do Cristiano Ronaldo, o Vicente começa a dar os primeiros passos na representação. Como é que reagiste? Estavas à espera?

Os meus filhos mais velhos, parecendo que não, são muito tímidos e nos teatros da escola eu até dizia: ‘Bolas, nós os dois tão efusivos e os nossos filhos tão tímidos, como é possível?’ [risos]. E, na novela [Amor, Amor; SIC], precisavam de um miúdo de 8 anos para fazer do Ricardo em novo e disseram que a pessoa perfeita era o Vicente, por ser igual a ele. O Ricardo conversou comigo e eu achei o máximo, mas primeiro tínhamos que perguntar ao Vicente. Foi muito giro porque chamámos o Vicente à sala e perguntámos se queria fazer esse papel e ele, com um ar muito sério, respondeu: ‘Vou pensar’ [risos]. Passadas umas horas, voltou e disse: ‘Eu aceito. São quantos dias, quantas horas, o que é que é para fazer?’. O Ricardo estudou os textos com ele, mas não lhe disse nada, nem faz assim ou assado, nada. Não lhe deu dicas nenhumas porque achou que isto teria que ser uma coisa natural, que viesse mesmo dele. Quando fomos para as gravações ele não queria ficar. Acho que teve um momento de pânico. Passado um bocado já estava na maior, um pouco envergonhado na parte de cantar, mas adorou. É o que diz o Ricardo, eles fazem o que eles quiserem, mas foi o máximo e eu estava babadíssima. A minha mãe até me disse: ‘Xica, eu percebo que estejas excitada, mas ele só disse uma frase’. E eu: ‘Não interessa, para mim fez um filme inteiro’ [risos].

O confinamento teve dois lados diametralmente opostos. Se, por um lado, os divórcios aumentaram, por outro, também há os chamados bebés quarentena. Pondo de lado a primeira, a pergunta inevitável é: sempre vem um quarto filho? Nós temos muita vontade de ter mais um filho e nunca escondemos isso. Aliás, desde que comecei a namorar com o Ricardo disse-lhe logo: ‘Vou já avisar-te, eu quero ter quatro filhos’.

Disseste logo que querias ter muitos filhos?

Logo!

Influência de teres três irmãos, ou seja são quatro ao todo…

Sim, claro. Eu vou dizer-te uma coisa: eu adoro uma casa cheia, sou a melhor amiga dos meus irmãos, damo-nos super bem. Não há pessoas de quem eu mais goste no mundo do que eles – e eu queria dar isso aos meus filhos. O Ricardo é filho único, tem muitos primos mas não é a mesma coisa. O amor de irmãos, aquela união de partilhar o amor dos pais e tudo aquilo é uma aventura em que ficamos juntos, quer queiramos quer não. Sempre soube que queria ser mãe e desde pequenina que sonhava com quantos filhos ia ter. Queria ser mãe jovem e sempre disse ao Ricardo que queria ser mãe cedo. Hoje diz-me que, se me tivesse dado ouvidos, teríamos tido filhos muito mais cedo porque até poderíamos ter tido mais. Mas pronto, é a lei natural da vida e eu fui mãe com 26 anos, até foi cedo. Respondendo à tua pergunta, nós queremos muito o quarto filho, mas eu sinceramente estou com muito, não digo medo porque eu não tenho medo, mas estou com muito respeito em relação ao que está a acontecer no mundo. Não sei se podemos levar vacinas, ainda não há grávidas que o tenham feito, não sei quais são os efeitos… O mundo está tão confuso neste momento que, embora queiramos muito e os miúdos passem a vida a pedir mais um mano, eu chamo-me à razão todos os dias e penso que devemos deixar que isto, pelo menos, acalme. Se não tivesse acontecido isto neste momento, provavelmente estaria aqui com um bebé ao colo a falar contigo [risos]. Só que acho que não é necessário, eu não sou uma mulher velha, portanto, ainda posso ter filhos mais tarde, não temos pressa e eu realmente respeito muito aquilo que estamos a viver. A gravidez é uma coisa para ser vivida com amor, sem stresse, uma coisa natural e não é uma prioridade neste momento. É esperar para ver no que isto vai resultar.

Há pouco tempo publicaste nas redes que foi a 15ª passagem de ano que celebraram juntos. Sabias, quando aconteceu o tal jogo de matraquilhos, seria o início desta vossa história?

O jogo de matraquilhos foi para aí há 19 anos. Nós tivemos essa história uns anos antes e depois cada um foi à sua vida. Aqueles namoricos. É engraçado que sempre que alguém falava de um ao outro havia sempre uma coisa especial, eu ficava sempre muito à rasca. Quando nos voltámos a ver foi no Rock in Rio, eu choquei contra ele. Mesmo como num filme. Se alguém tivesse filmado aquele momento… Nós ficámos embasbacados a olhar um para o outro. Foi inacreditável o nosso reencontro.

Sentiste logo que ias ser a atriz principal da vida do Ricardo?

[risos] Completamente. Uma semana depois ele disse que eu ia ser a mulher da vida dele e a mãe dos seus filhos. Nós nunca fizemos jogos um com o outro, falávamos quando nos apetecia e foi tudo muito rápido porque encaixámos mesmo muito bem. Tivemos aquele momento do jogo de matraquilhos e, passados quatro anos sem nos vermos – porque eu fui para Londres e ele para o Brasil -, quando nos reencontrámos nunca mais nos largámos.

Quando começam a namorar, o Ricardo já vivia no Brasil. Desde o início a mudança era inevitável. Foi difícil para ti e para a tua família?

Foi muito difícil. Aliás, fui logo passados uns meses. Ele ia ser protagonista de uma novela e eu trabalhava com o meu pai no Palácio do Correio Velho, no departamento de Arte Moderna e Contemporânea e tinha a minha vida aqui. O Ricardo disse-me: ‘Eu vou, só que não vou sem ti’. E eu sempre lhe disse que nunca deixasse de viver os seus sonhos e oportunidades por minha causa. Foi muito difícil, o meu pai reagiu super mal, super mal.

Tinhas 22 anos?

Sim, tinha 22 anos.

Foi um choque?

Sim, o meu pai entrou em negação, fingiu que eu nem sequer tinha dito que iria para o Brasil. Então eu disse ao Ricardo que não ia dar para ir com ele e ele respondeu que não iria sem mim e que então ficava em Portugal. Olha, larguei tudo e foi a melhor decisão que tomei na minha vida. Eu olhei para ele e tive a certeza de que aquele homem não me ia deixar na mão. Eu também sabia que me ia virar de qualquer forma, ia arranjar trabalho onde quer que fosse e tinha-o ali e sentia o amor dele por mim, sentia que era verdadeiro. Na altura, os meus pais acharam que eu era completamente louca e toda a gente me dizia: ‘Não faças isso pelo amor de Deus. Vais para o Brasil com um ator?’. Estás a ver não estás? Mas foi a melhor decisão que tomei e faria tudo outra vez. Vivemos experiências inacreditáveis enquanto solteiros lá no Brasil e começámos os dois a construir o nosso castelo. Normalmente digo, pedrinha a pedrinha, lá vamos nós. Eu tenho muita sorte, porque a nossa história é mesmo muito bonita. Falamos a mesma língua, queremos as mesmas coisas, apoiamo-nos um ao outro e isso cresceu de uma forma tão bonita e natural entre duas pessoas que se respeitam, que se adoram e que querem o bem uma da outra. Ainda bem que fui mesmo sem o meu pai querer – e voltava a fazê-lo [risos].

Pegando um bocadinho na preocupação dos teus pais… Começas a namorar com um galã da ficção, que naturalmente faz par romântico com muitas pessoas. Foi também um processo de aprendizagem lidar com isso ou o Ricardo sempre te transmitiu segurança? Ou sempre foste muito segura?

Por acaso não. Como qualquer adolescente eu era insegura na vida com os rapazes. Não fui de ter muitos namorados, mas com as pessoas com quem estive tinha sempre muitas inseguranças. Com o Ricardo eu nunca, nunca tive ciúmes e isso deve-se a uma razão: ele nunca me fez sentir insegura. O Ricardo já contracenou com as mulheres mais bonitas do Brasil, só que ele faz sempre com que eu me sinta segura, quer sempre integrar-me nos grupos e leva-me com ele, apresenta-me a toda a gente e aquilo é uma forma tão natural que eu, às tantas, penso que realmente aquela sempre foi a profissão dele. Ele já era ator quando começámos a namorar. Sempre tive imenso respeito da parte de todas as pessoas que trabalharam com ele e até ficámos grandes amigas. As próprias atrizes me perguntavam: ‘Como é que você não fica doida com isso? Eu própria, que sou atriz, não consigo’. E muita gente me pergunta isso, mas eu acho que depende muito da pessoa em si.

Mas já tiveste alguma situação mais constrangedora com alguma fã? Ou tiveste de dizer: ‘Ricardo, esta pessoa vais ter que bloquear’?!

Nunca. E digo-te mais: nunca mexi no telemóvel dele. Nunca abri mensagens, nada. Nem ele a mim. Acho um piadão. O trabalho dos atores e dos artistas vive dos fãs e das pessoas que os admiram, então eu tenho respeito por todas as pessoas. Houve uma vez que estávamos a sair de carro do Copacabana Palace e uma miúda vem a correr e enfia um bilhete para dentro do carro com uma poesia, levanta a t-shirt e põe as maminhas no vidro. Eu chorei a rir. O Ricardo a perguntar-me se eu achava aquilo normal e eu não conseguia parar de rir. É normal, há pessoas para tudo. Graças a Deus, nunca tive nenhum problema. Sou a primeira a chamar os fãs para lhes tirar a fotografia com o Ricardo. Houve uma vez uma fã que desmaiou em cima de mim quando o viu e dei-lhe água com açúcar. Quando acordou estava em cima de mim, no meu colo, estávamos no chão e, quando olhou para mim, disse-lhe: ‘Também me acontece todos os dias quando o vejo. Percebo perfeitamente’. Riu-se imenso. É uma brasileira amorosa que é nossa vizinha e sempre que nos vemos rimo-nos disso. Eu respeito muito, nunca me fez confusão, eu também o admiro muito.

O Ricardo participa num projeto um bocado disruptivo, o ‘Amor de Quarentena’. Costuma falar sobre os projetos em que participa? Como é que viste este projeto?

Claro que sim, quem achas que o ajudou a escolher as fotografias? [risos]. Eu não baixo as mãos a nada, acho isso o máximo e também adoro que ele me procure para a criação das personagens porque ele também me ajuda com os meus projetos. Somos os dois muito um pelo outro. Com o ‘Amor de quarentena’, até com a voz que ele fazia eu ajudava, com as fotografias, vídeos, a ver o que encaixava. Acho que foi uma ideia inacreditável, se ele não me enviasse mensagens todos os dias eu se calhar também tinha aderido [risos].

Apesar de a família ser o grande pilar da tua vida, o que está espelhado nas tuas redes, também tens muito para além disso. Gostas de correr e de fazer desporto. Sempre tiveste um estilo de vida muito saudável?

Eu sempre fiz desporto mas nada como faço hoje em dia. Quando fui mãe do Vicente deu-me um clique para a saúde, para poder estar aqui perto deles. Também ajuda morarmos no Rio de Janeiro, o hábito de vida saudável está muito neles. Tenho três filhos cariocas…

Foi uma decisão fácil ter os três filhos no Brasil?

Nunca fiz alarido disso, it is what it is [é o que é]. Até ponderámos que a Julieta nascesse em Portugal para estarmos perto da família, só que eu sou tão apaixonada pela nossa equipa médica e correu sempre tudo tão bem que pensei que seria uma estupidez estar a ir agora para uma aventura. Se corre sempre tudo bem, para quê metermo-nos nisso? O meu médico está sempre a dizer que se vai aposentar e eu digo-lhe: «Nem pensar, ainda me falta um filho» [risos]. Portugal e o Brasil são a nossa casa.

Os vossos são provavelmente mais cariocas do que portugueses? Nós falamos português de Portugal com eles. Quem está de fora diz que eles têm expressões muito de brasileiro e entre eles são capazes de dizer: «Você me machucou, vou falar pra mãe», mas depois chega ao pé de mim e diz: «Mãe, a Boo magoou-me». Têm coisas muito brasileiras desde o ‘pega’, o ‘cadê’, falam muito no gerúndio mas quando vêm para cá falam português de Portugal. Eu acho isso giro.

Qual é a melhor parte de viver no Brasil?

Eu sou, obviamente, uma pessoa do sol e do calor. O Rio de Janeiro é uma cidade em que a energia vem da terra. Eu não sei explicar isso. Sei as saudades que sinto quando não estou lá e o Ricardo também sente isso. Nós falamos muitas vezes sobre a energia do país. Tem tantas coisas boas. O que Portugal não tem eles têm e o que eles não têm Portugal tem. Aqui [Portugal] está a família, lá está a família que nós criámos. É um turbilhão, sou completamente apaixonada pelos dois. Em qualquer um estou bem.

Apesar de tudo o Brasil é também conhecido por alguma insegurança. Já apanhaste algum susto?

Nada, graças a Deus. Também temos cuidado, mas nunca tivemos nenhum problema.

Voltando ao desporto. É fácil manteres um estilo de vida saudável com três filhos?

No meu caso, como disse há bocado, começou pelo Vicente. O Ricardo sempre fez desporto e também puxava muito por mim. Eu tinha engordado um bocado quando o Vicente nasceu e descuidei-me. Houve um dia em que pensei: vou deixar que isto tome conta de mim? Isto não tem nada a ver contigo Francisca». Nesse dia agarrei no carrinho com ele e fui fazer para aí dez quilómetros no calçadão e prometi que ia ser uma mãe mais ativa, fit, magra, e preparar-me para uma próxima gravidez. E do dia para a noite mudei. Comecei a cozinhar para ele, a minha família toda sempre cozinhou lindamente, eu não era assim nada de extraordinário mas comecei a cozinhar para o Vicente e isto foi crescendo de forma muito natural. Depois tive a Boo e passado um mês fui ter com o meu personal trainer e disse-lhe que queria provar às minhas amigas que somos capazes e que é tudo da nossa cabeça – e queria preparar-me para uma terceira gravidez. E o bichinho pelo desporto vem. Em relação à corrida, eu não corria, só na areia, que é completamente diferente de correr na estrada. Eu, que odiava correr, dizia: ‘Meia maratona? Nem que me paguem’. Até que tivemos um desafio, também para correr a meia maratona, e aí começaram os treinos a sério. Tivemos que contratar um PT para nos ajudar na preparação. Hoje tenho que me controlar todos os dias para não ir correr. Entretanto, mandei vir uma passadeira e um remo e não tínhamos onde pôr. Mas como agora também não recebemos visitas [por causa do confinamento], a nossa sala virou um ginásio [risos].

Nas redes sociais partilhas receitas saudáveis, #XicaChef. Como é que começou?

Eu pedia receitas às minhas nutricionistas para não ser sempre a mesma coisa e fui-me reinventando e tirava sempre muitas fotografias. E a Xicachef começa porque uma vez publiquei no meu Instagram uma receita e foi o post, na altura, com mais likes. Agora parei um bocadinho por causa do confinamento, mas vou voltar a fazer as minhas receitas, adoro cozinhar. Sou eu que cozinho para mim e para o Ricardo e adoro mas, lá está, não é gordices.

Tens outra paixão que é o design de moda, área em que te licenciaste. Há quatro anos lançaste a tua marca de lingerie em parceria com a Cantê, a My Intimate Cantê. Um projeto que também ocupa muito do teu tempo…

A My Intimate é um quarto filho para mim. Tenho muita sorte nas sócias que tenho, a Mariana [Delgado] e a Ritinha [Rita Soares], estamos sempre de acordo em tudo. Já aconteceu termos tudo praticamente pronto e eu, de repente, mudo tudo. E elas em vez de me chamarem maluca concordam com a ideia, falamos completamente a mesma língua. Tenho sorte porque a Cantê é uma empresa muito grande e já está tudo muito bem estruturado e a My Intimate está a crescer step by step [passo a passo] mas dá-nos um gozo enorme. Não estamos com muita pressa de que seja uma coisa muito grande para já, mas está a crescer, temos ideias giríssimas e temos conseguido fazer coisas muito diferentes, tudo com produtos de marcas portuguesas, o que às vezes não é fácil. Mais ainda nesta fase. Temos fábricas com quem trabalhávamos que fecharam, tivemos de ir à procura de novos fornecedores para tentar manter uma marca portuguesa. Eu sou completamente apaixonada por isto, é um mundo. A nossa próxima coleção vai ser brutal.

Quando sai? Supostamente em março. A nossa ideia este ano é lançarmos em março e em setembro.

No Brasil, quando o Ricardo vai para as gravações e os teus filhos para a escola, há algum período em que te sintas mais sozinha?

Há pessoas que acham que eu sou uma dondoca e que estou sempre em casa sem fazer nada e eu até acho piada a que pensem isso de mim [risos]. Adorava ser essa pessoa mas não dá, não é de mim nem está dentro de mim. Eu nunca estou sozinha. Estou sempre a reinventar-me e a trabalhar nalguma coisa. Eu trabalho como relações públicas dos Minor Hotels, do grupo Olivier, tanto aqui [Portugal] como no Brasil. No Brasil também trabalho três hotéis do Tivoli e faço divulgações de uma clínica de nutrição no Rio de Janeiro que é a clínica da Patricia Davidson e trabalho com várias marcas. O próprio Instagram tornou-se uma ferramenta do meu trabalho. Eu nunca tenho muito tempo porque primeiro priorizo os meus filhos, sou uma ‘mãetorista’, faço de tudo, ajudo nas clínicas, trabalho no meu Instagram, estou sempre ativa na lingerie, além de acompanhar o Ricardo em tudo e de ajudá-lo no processo de criação das personagens. Eu não sei estar sozinha, isso para mim é uma coisa que não existe. Claro que às vezes tenho meia hora antes de ir buscar os miúdos à natação ou à escola e vou apanhar sol. Mas no Brasil apanhar sol é a mesma coisa que estar em casa a ver uma série. As pessoas às vezes dizem: ‘Lá está ela na praia’. Mas é como se fosse o meu terraço. Vou para a praia 20 minutos, faço uma corridinha e volto, é um estilo de vida diferente. Há pessoas que acham isso mas não há um minuto que não seja preenchido na minha vida.

Irrita-te seres ‘a mulher do Ricardo Pereira’?

Eu morro de orgulho dele. Nós somos uma equipa e eu sei disso. É-me indiferente, eu sou a Francisca e sei o papel importante que tenho na vida dele e na nossa. Estamos os dois de mão dada, lado a lado e é normal.

Qual a palavra que melhor te descreve?

Ui. Olha, eu tenho uma coisa que digo desde sempre: feliz. Quando eu era pequenina e a minha mãe me levou ao pediatra eu era tipo Julieta, muito conversadora, espevitada e palhacinha e o pediatra perguntou-me: ‘O que é que a menina quer ser quando for grande?’. E eu: ‘Uma menina feliz’. E ainda no outro dia estive a falar com o meu pai que me contou: ‘Ontem fui ver o Ramos de Almeida [que era o meu pediatra] e contei-lhe essa história’. E disse-lhe: ‘É realmente uma menina feliz. Ficou todo contente’. É isso que me descreve, ser feliz e tentar fazer os outros felizes.