Uma e meia da manhã e começo a contar as horas que faltam até o alarme disparar. À falta de sono, decido ir tratar de mais uma máquina de roupa, já que cá por casa quem manda na matéria é o sol e, pelo menos, este não desiludiu nos primeiros dias de confinamento. Em contrapartida, o poder simbólico do arco-íris foi à vida, e muitos também acharam por bem ir à vida deles… As ideias para se ficar entretido em casa começam a escassear e aquele puzzle de milhares de peças também se resolveu rápido, com um copo de leite por cima só como desculpa mais confortante ao desistente.
Arruma-se a casa, desorganizam-se os horários, de tal forma que o relógio da cozinha também deixou de funcionar, mas nem por momentos é urgente trocar-lhe as pilhas. Faço nova tentativa para adormecer e adiciono mais um despertador à lista, desta vez com mais dez minutos em relação ao último. Pensei que a hora podia ser oportuna para o passeio higiénico como se, por instantes, o único mal do mundo fosse a maldita covid. Problema básico para os mais geniais, claro, que em três tempos faziam chegar a casa uma trela para animais de companhia e, assim, a proteção estaria assegurada. Fosse o inimigo invisível ou não.
O relógio não pára, com exceção para o da cozinha, que escolheu ficar como alerta contínuo para a hora do lanche. Baixo a luminosidade do telemóvel como se fosse a solução para o problema. Não me dou ao trabalho de ir fazer novo zapping na televisão, que também tem sido programa dos últimos dias, nem coragem para reabrir o livro que me roubou a madrugada de ontem.
Desisto mais uma vez. Abro o computador e tento não pensar em como vai ser quando perceber que continuo a diminuir a margem para os mais de três alarmes.
Por agora, apitou a máquina. E, já que a ouvi, mais vale ir dar já despacho. Até porque, afinal, pelo relógio da cozinha ainda são 17.47h. E, mais um bocadinho, é tempo de ir votar.