Tinha 23 anos quando viajou para Oslo, onde concluiu o mestrado em Gestão com major em Finanças através do programa Exchange disponibilizado pela Católica Lisbon School of Business & Economics, faculdade em que já se havia licenciado em Gestão. Três meses depois, arranjou trabalho e por lá foi ficando. Atualmente, Gonçalo Neves Lima tem 31 anos e já conta 8 na Noruega. Trabalhou na Oil & Gas, passou pela área da energia solar e, hoje, trabalha como consultor noutra multinacional. «Quando vim, Portugal não estava muito bem. Aqui ganha-se bem, as coisas funcionam, O trabalho é bom e a qualidade de vida é ótima», diz à Luz.
Em Oslo, o termómetro marcava nos últimos dias de janeiro -10Cº e Gonçalo confessa que, apesar da dificuldade de adaptação ao frio no primeiro inverno, habituou-se rapidamente à cidade e ao tempo. «Uma coisa engraçada é que aqui, quando está bom tempo [antes da pandemia da covid-19], as pessoas iam todas para a rua, porque é muito raro. Em Portugal é indiferente, está bom tempo num dia, mas amanhã também pode estar. Apesar de saber que aí também houve agora dias em que esteve muito frio», conta.
A registar cerca de 300 casos de covid-19 por dia no final do passado mês de janeiro, no que respeita à pandemia, sublinha a confiança dos noruegueses no Governo. «Aqui foram menos agressivos no lockdown [confinamento]. Mas acho que a grande diferença é que as pessoas cumprem as medidas decretadas pelo Governo. A semana passada [última do mês de janeiro], disseram para não nos encontrarmos com ninguém. E as pessoas não vão. Mas não vão mesmo», garante, adiantando: «Também há muitas coisas naturais que previnem o contágio. Primeiro, os jovens saem todos de casa dos pais aos 18 anos, logo aí já não há o risco de contagiar os pais ou mesmo os avós. O mercado de trabalho deles permite que os jovens estudem e trabalhem. Em Portugal não tens essa opção. Depois, há dinheiro, as coisas são limpas com muita regularidade». «Mas o fator principal é ter um Governo que te dá recomendações que façam sentido. Aqui, confiam totalmente no Governo», reforça.
Gonçalo admite que o nível de vida é incomparável com o de Portugal, razão também pela qual foi permanecendo na capital norueguesa, onde comprou casa há um ano e meio.
«Trabalha-se das 8h às 16h, salvo raras exceções, e é mesmo das 8h às 16h, com meia hora de almoço. Não há aquela cultura de sair às 19h ou às 20h, ou às vezes mais tarde, como aí», diz.
«Várias pessoas do meu projeto dizem que têm que ir buscar os filhos à escola, se assim for, às 15 horas estão a sair do trabalho. Isso é impensável acontecer em Portugal», acrescenta.
No dia-a-dia, desloca-se nos transportes públicos, outro serviço que destaca pela boa qualidade: «Aqui, ninguém tem carro. Nem quero ter carro. Tudo funciona perfeitamente, transportes, saúde… Nem se sente essa necessidade». «Dizem, por exemplo, que se paga imensos impostos, eu não acho, ou seja, acho que se justifica, porque as coisas realmente funcionam. Já fui cá operado duas vezes, e correu tudo super bem: liguei, marquei e resolvi sem quaisquer problemas. Claro que preferia pagar menos impostos, mas para aquilo que recebo não me posso queixar», assegura.
Além da família e dos amigos, que, admite, «é o que custa mais nesta decisão de ter ido para fora», o que sente mais falta de Portugal é da gastronomia. «Do que sinto mesmo falta é da comida. Cá as coisas são diferentes, só fazem uma refeição quente por dia. Nós estamos habituados a almoço e jantar. Mas também é difícil bater a gastronomia portuguesa».
Pensa regressar a Portugal num futuro próximo, mas, por enquanto, tenta visitar Lisboa, pelo menos, quatro vezes por ano: «São quatro horas o voo direto». Faz-se bem.