Também no Reino Unido há hoje um apelo para uma revisão da estratégia de testagem: não se trata de fazer mais testes mas de alargar a definição de caso suspeito. O Imperial College London alerta esta quarta-feira que além dos sintomas clássicos associados à covid-19 – uma tosse nova e persistente, perda de olfacto e paladar e febre – há outros sintomas comuns que podem surgir de forma isolada. A conclusão resulta da análise de um milhão de casos conduzida pelos investigadores reponsáveis pelo programa REACT, que publicou a última ronda de resultados no final de janeiro e é um dos maiores projetos a nível europeu de análise epidemiológica da covid-19. A cada mês, fazem 120 mil a 180 mil testes a pessoas com mais de 5 anos, ao longo de um período de 17 dias, seguindo os sintomas e evolução.
Agora, compilados resultados de um milhão de pessoas e com base nos sintomas apresentados no momento em que é feita a zaragatoa, concluem que em 60% dos casos positivos as pessoas infetadas não tinham sintomas. E se os sintomas clássicos são os conhecidos, o destaque é que há três sintomas que, combinados com febre, perda de paladar e olfacto e tosse, ou mesmo sem a presença destes sintomas, foram mais vezes associados a um teste positivo. Segundo os investigadores, ter calafrios, perda de apetite e dores de cabeça ou musculares pode, por si só, ser um quadro suspeito de covid-19.
Em comunicado, a universidade assinala que estes sintomas não surgem em todas as idades da mesma maneira. Calafrios são comuns em todas as faixas etárias, já as dores de cabeça são mais comuns em crianças e adolescentes, o grupo etário dos 5 aos 17 anos, a perda de apetite é mais comum nos adultos dos 18 aos 54 e maiores de 55 e dores musculares mais comuns também nos adultos jovens e de meia-idade. Sintomas como febre ou tosse parecem menos comuns em crianças e jovens.
Atualmente no Reino Unido, de resto como na maioria dos países europeus e também em Portugal, é considerado um caso suspeito de covid-19, com indicação para ser testado, alguém que tenha uma tosse nova, febre sem outra causa atribuível, dificuldade respiratória ou perda de olfato ou paladar súbito. Em Portugal, a definição surge na norma 020/2020 da Direção Geral da Saúde e é também essa a recomendação do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças, o organismo que emite orientações de saúde pública na UE.
"Estas conclusões sugerem que muitas pessoas com covid-19 não são testadas – e não ficam em auto-isolamento – porque os seus sintomas não coincidem com as orientações da saúde pública que ajudam a identificar pessoas infetadas", diz Paul Elliott, diretor do estudo REACT, citado no comunicado da universidade. "Compreendemos que existe a necessidade de critérios claros e que incluir muitos sintomas comumente encontrados noutras doenças como a gripe sazonal pode levar as pessoas isolarem-se desnecessariamente. Esperamos que nossas conclusões sobre os sintomas mais relevantes possam contribuir para que o programa de testes tire proveito das evidências mais atualizadas, ajudando a identificar mais pessoas infectadas", conclui.
Para a equipa, com os atuais critérios, se toda as pessoas que os apresentam e são elegíveis para testes forem testadas são apanhados metade dos casos sintomáticos de covid-19. Se os critérios forem alargados a estes sintomas mais comuns, seria possível aumentar a deteção para dois terços dos casos de infeção, com menos pessoas infetadas a circular. As conclusões e análise estão para já disponíveis numa pré-publicação e a universidade adianta que o artigo foi submetido para publicação numa revista científica com revisão por pares.