por Felícia Cabrita e João Amaral Santos
«Enquanto não se esclarecer o assunto da cocaína, todos são suspeitos de tráfico de droga e lavagem de dinheiro, incluindo os três tripulantes e os dois passageiros [João Loureiro e o espanhol Mansur Ben-barka Heredia]. Não estão presos, mas estão todos a ser investigados», afirma ao Nascer do SOL Elvis Secco, coordenador-geral do departamento de Repressão a Drogas e Fações Criminosas da Polícia Federal brasileira.
O nosso jornal sabe que no âmbito da cooperação policial entre países, a Polícia Judiciária (PJ) portuguesa já abriu um inquérito e está a colaborar com as congéneres brasileiras para proceder ao levantamento de possíveis antecedentes e outras situações suspeitas da parte dos envolvidos: viagens efetuadas anteriormente entre Portugal e Brasil, património que detêm nos dois lados do Atlântico e, sobretudo, movimentos financeiros realizados recentemente. Por exemplo, João Loureiro tem-se deslocado àquele país com frequência, o que, segundo a investigação, não bate certo com as declarações prestadas à SIC, onde justificou deslocação ao Brasil com uma oportunidade de emprego como consultor numa empresa brasileira interessada em efetuar investimentos em Portugal.
«Ainda não é possível estabelecer uma conexão entre a droga encontrada quer em relação à tripulação, quer em relação aos passageiros. Mas não é por eles não terem sido apanhados em flagrante que não estão a ser investigados. É preciso perceber se, neste período, houve movimentações financeiras suspeitas. Nestes casos, a responsabilidade passa sempre pela investigação de lavagem de dinheiro», adianta Elvis Secco.
Embora a investigação esteja a decorrer, confirma que «não há nenhuma restrição à saída do Brasil» dos envolvidos. Aliás, os três tripulantes portugueses já se encontram em solo nacional e Mansur Ben-barka Heredia em Espanha, que voou para Madrid.
O único passageiro que se mantém no Brasil é mesmo João Loureiro. O ex-presidente do Boavista e filho de Valentim Loureiro tinha viajado de Tires para o Brasil no mesmo avião – um Dassault Falcon 900 da Omni, empresa privada de transporte aéreo sediada no Aeródromo de Cascais –, no dia 27 de janeiro. A viagem de regresso esteve por várias vezes agendada, mas acabou sempre adiada. Da lista de passageiros do avião constavam outros nomes ligados ao mundo do futebol, como o jogador recém-contratado pelo Benfica Lucas Veríssimo e os empresários Bruno Macedo e Hugo Cajuda (mas nenhum terá utilizado o avião).
Depois de várias escalas, a partida acabou por acontecer no dia 10 de fevereiro, do Aeroporto Internacional de Salvador, na Baía, mas a viagem acabou interrompida depois de um piloto ter identificado uma avaria no aparelho que obrigou a regressar à pista e a chamar os mecânicos. Aquando da verificação, os mecânicos encontraram um dos pacotes com cocaína. «O alerta à Polícia Federal foi dado por um dos pilotos portugueses», confirma Elvis Secco. «Não é uma situação normal, 500 quilos de droga é uma grande quantidade. Havia cocaína escondida na carenagem [fuselagem do avião], oculta no motor, no soalho… por isso tinha de ter sido tudo muito bem preparado. Neste momento estamos também a tentar localizar empresas que possam ter feito a manutenção do avião durante esses dias no Brasil», confirma o delegado.