«Redução de custos em larga escala, fusões entre os principais bancos portugueses para garantir a viabilidade do setor e a criação de um grande banco nacional» são as recomendações da Roland Berger Portugal para manter o sistema financeiro português sustentável. «Perante a conjuntura económica e social do país, decorrente do período de pandemia, e tendo em conta o momento atual da banca portuguesa, o estudo reveste-se de extrema importância para a definição do futuro do setor bancário nacional, já que além de uma caracterização das principais alavancas que vão condicionar a performance dos bancos portugueses, apresenta um conjunto de recomendações bem sustentadas que pensamos serem bases importantes para a reestruturação do setor e para garantia de um crescimento sustentável dos bancos nacionais», afirma António Bernardo, CEO da consultora.
De acordo com o estudo não há dúvidas: os bancos portugueses vão enfrentar um conjunto significativo de desafios, obrigando a banca a levar a cabo a transformação dos seus modelos de negócio, tendo em conta que estão a braços com «um excessivo peso das moratórias na sua carteira de crédito; um rácio de eficiência insuficiente; deterioração da rentabilidade do setor para níveis abaixo do custo de capital, o que cria grandes desafios à capitalização dos bancos; número de agências 58% acima da média europeia; reduzida produtividade dos seus colaboradores; acumulação de excessos de liquidez; e uma dimensão reduzida dos bancos portugueses face a outros mercados, sendo, por exemplo, seis vezes inferior ao setor bancário espanhol».
Consolidação
Para fazer face a este cenário, o estudo sugere o aprofundamento do processo de consolidação no espaço dos maiores bancos portugueses – espaço onde se encontra, por exemplo, a Caixa Geral de Depósitos, o Millennium bcp ou o Novo Banco –, potenciando a criação de um grande banco nacional com ativos no valor de 200 mil milhões de euros.
Por outro lado, defende que seja reforçada a estrutura de média dimensão, sendo o Crédito Agrícola apontado como um potencial consolidador bancário. «Como exemplo de bancos médios que o Crédito Agrícola poderia consolidar, a Roland Berger aponta o Montepio ou o EuroBic, reforçando a estrutura de bancos de dimensão média, com ativos entre 80 e 120 mil milhões de euros», salienta.
O documento aponta também para movimentos de consolidação entre bancos de pequena dimensão que assegurem um mínimo de massa crítica no setor, reforçando a estrutura de bancos no intervalo entre 10 mil milhões e 20 mil milhões de euros. «Também aqui, alguns bancos de reduzida dimensão poderão enfrentar desafios a prazo se não crescerem, como o EuroBic ou o BNI Europa, e alguns (como, por exemplo, o Abanca) poderão vir a ser consolidadores e outros serão consolidados».
Estes argumentos não convencem a Associação Portuguesa de Bancos. «A consolidação bancária é apenas uma das vias para dar resposta ao desafio da rentabilidade. Em qualquer circunstância, a consolidação não significa só fusões e aquisições. Pode ocorrer por via da redução de ativos e da estrutura das instituições – no fundo, elas próprias diminuírem a sua capacidade instalada», diz, acrescentando ainda que, em termos de concentração, o sistema bancário português «é considerado, a nível europeu, como tendo um nível de concentração razoável para economias da nossa dimensão».
Ainda assim, a entidade liderada por Faria de Oliveira admite que «isso não significa que possamos passar ao lado do movimento de concentração que tem vindo a acentuar-se a nível europeu, desde logo na nossa vizinha Espanha». Mas garante que é necessário ver como vai evoluir o mercado, em especial no novo contexto criado pela atual crise. «É inegável reconhecer que o nosso país necessita de um sistema bancário com bancos sediados, com presença forte, em Portugal, com capacidade competitiva face aos seus pares europeus, moderno na atuação e utilização de instrumentos inovadores, suficientemente diversificado mas encontrando soluções que reduzam sobrecapacidades instaladas, com uma governance de elevada qualidade, eficiente e de visão prospetiva», diz ao Nascer do SOL.
Uma perspetiva diferente tem o analista da XTB ao considerar que a criação de ‘um grande banco’ poderá ser uma das melhores alternativas para o setor da banca. «A banca nacional é bastante frágil e no contexto atual em que vivemos, prejudicou bastante este setor e expôs ainda mais as fragilidades de alguns bancos», acrescentando que poderia ajudar na redução de custos.
Redução de custos
Segundo a Roland Berger Portugal, o futuro da banca nacional terá de passar também por uma disruptiva redução de custos, com a otimização do footprint de agências em mais de 30%; por uma revisão organizacional e redução da base de colaboradores; por ganhos de eficiência de 20%, revendo e digitalizando os processos de negócios e comerciais; pela inovação na abordagem comercial aos diferentes segmentos de cliente, em particular nos segmentos de PME e Affluent; e ainda através da criação de uma oferta bancária de referência para captação e gestão de grandes patrimónios em Portugal.
E dá números. De acordo com o mesmo estudo, o sistema bancário português apresenta um potencial de redução da rede de agências nacional em 30%, ou seja, um corte de mais de 1500 agências, numa segmentação de rede assente, por exemplo, na adoção de novos modelos de agência que melhor respondam ao novo papel do balcão ou à exploração de potenciais parcerias locais. E dá como exemplo as juntas de freguesia para colocação de produto bancário. «Este corte de agências terá de ser acompanhado por uma forte redução de colaboradores e uma revisão da estrutura organizacional, no que representaria uma redução de custos de 20%».
Uma medida aplaudida pelo analista da XTB ao admitir que «essa possibilidade poderá ser uma das melhores alternativas para o setor», uma vez que entende que «a banca nacional é bastante frágil e no contexto atual em que vivemos, prejudicou bastante este setor e expôs ainda mais as fragilidades de alguns bancos». E lembra que, tal como avançou a consultora Roland, a redução do número de agências atuais deverá ser algo a ter em conta. «O número de agências bancárias em Portugal é muito superior à média Europeia e essas agências não justificam o nível de produtividade dos funcionários», refere ao Nascer do SOL.
No entanto, o analista da XTB admite que o «facto de existirem menos instituições a operar no setor bancário diminui o nível de concorrência neste setor. Basta saber se os bancos de menor dimensão (médios e pequenos bancos) conseguem ganhar uma maior quota de mercado se estas decisões se concretizarem».