Por Francisco Rocha Gonçalves
Vice-Presidente da Câmara Municipal de Oeiras
Tenho muitas vezes presente uma frase atribuída a Eduardo Mondlane: “Portugal tem excesso de História”. Ouvi-a, a primeira vez há mais de 20 anos, e sempre retive o mesmo pensamento. É verdade!
Portugal é, talvez, a mais bem-sucedida experiência política da Europa. É quase um mistério perceber como é que este cantinho da Península Ibérica se manteve (e mantém) independente e com fronteiras estáveis há 900 anos e como foi que construiu esse excesso de História.
A nossa História não vive apenas nos livros que contam os feitos nacionais. Vive materialmente no Património que as gerações passadas nos legaram.
Na semana passada assinalámos um dos mais importantes, emblemáticos e simbólicos momentos em Oeiras, com a assinatura do auto de cedência da Quinta da Cartuxa para a posse do Município.
Chegaram ao fim estes penosos 30 anos de abandono, com graffitis a fazer esconder a beleza dos claustros, com o entulho, portas velhas e azulejos partidos a ensombrar os corredores do Convento, com uma Igreja desperdiçada pelos vitrais partidos e ali deixada ao esquecimento.
Três décadas de degradação e de várias insistências por parte do Município para que nos deixassem cuidar. Cuidaremos, então. Este é o nosso tesouro. O nosso Património, a nossa História, terá a dignidade merecida e será entregue às futuras gerações.
E todo este tempo de espera serviu de lição. Mais para uns, do que para outros. O estado de abandono a que muito património português foi relegado não é um determinismo.
A organização do Estado e a cooperação entre o Estado Central e o Estado Local – porque há apenas um Estado – com a entrega de Património para quem tem condições de dele cuidar, deveria ser o vetor fundamental da gestão do nosso tesouro.
O protocolo ora assinado com o Ministério da Justiça confere ao Município de Oeiras a gestão, por um período de 42 anos, da Quinta da Cartuxa, marca a abertura de um novo tempo. E este momento é histórico. Em primeiro lugar para a população de Caxias, que há muito aspirava por ver recuperado este valioso Património da sua localidade para que dele pudesse fruir.
Mas o simbolismo estende-se à Área Metropolitana de Lisboa e ao País, porque é disso que se trata com este valioso Património.
E agora vamos cuidar e trazer a Arte à História. Ali pretendemos que seja criado um Centro de Arte Contemporânea, com um programa cultural alargado, além da requalificação paisagística que irá integrar a Quinta da Cartuxa e a Quinta Real de Caxias.
E a este momento, de profundo simbolismo para Oeiras, junta-se o mesmo que foi vivido há pouco mais de um ano, com a aquisição da Estação Agronómica, também finalmente cedida pelo Estado, onde se inclui a Casa da Pesca e todo o espolio da antiga Quinta do Marquês de Pombal. E deste tesouro já estamos a cuidar com resultados a olhos vistos.
Dois sonhos cumpridos e a História a poder seguir o seu caminho além dos livros.
É este novo tempo que queremos ter em Oeiras, um tempo que deve chegar a todo o país, a todo o Património nacional para que dele ninguém se esqueça.