Jovem que matou e desmembrou amigo no Algarve disse que objetivo “não era matar”, mas sim “humilhar”

Maria Malveiro diz ter sido vítima de assédio sexual. “Senti-me humilhada naquele dia e não consegui ultrapassar aquela situação”, confessa. “Quis vingar-me dele, mas a minha vingança não passava por assassiná-lo”.

Maria Davidachwili, a segurança de 20 anos acusada de matar e desmembrar um amigo no Algarve, afirmou no primeiro interrogatório judicial que o seu objetivo era "humilhar" e "não matar" a vítima – Diogo Gonçalves, de 21 anos –, após ter sido vítima de assédio sexual.

A gravação das declarações prestadas em primeiro interrogatório foi ouvida em audiência de julgamento, esta sexta-feira, no Tribunal de Portimão, "para melhor ponderação da prova", a pedido do Ministério Público.

A arguida começou por explicar que conheceu Diogo em 2019, e que quis "vingar-se" após este ter "forçado um contacto físico", durante um encontro em sua casa. "Deixei claro que só queria amizade com ele e contei-lhe que namorava com a Mariana", afirmou. Face à rejeição, Diogo terá tentado forçar Maria a ter relações sexuais. "Atirou-me para cima da cama e colocou uma das mãos dentro das minhas calças", afirmou a segurança, contando que o jovem lhe terá dito que era lésbica "porque nunca tinha experimentado uma boa 'picha'".

"Senti-me humilhada naquele dia e não consegui ultrapassar aquela situação", confessou. "Quis vingar-me dele, mas a minha vingança não passava por assassiná-lo". Depois desse dia, os encontros entre ambos continuaram, mas "nunca sozinhos". "Mandava-me mensagens todos os dias e acho que ele estava obcecado por mim", acrescentou. 

A arguida confessa que começou a pensar "seriamente" no plano, que consistia em "seduzi-lo e amarrá-lo", em fevereiro de 2020, pouco tempo antes da noite do crime.

"Queria humilhá-lo da mesma forma que ele me fez e o meu plano era seduzi-lo e amarrá-lo. Levei um medicamento que consegui através da minha namorada, com a desculpa de ter insónias. Ela não sabia do plano", contou. "Eu disse-lhe que ia a casa de um amigo que não demorava muito e ela ficou no carro a descansar porque tinha saído de serviço nessa manhã".

A segurança contou que dissolveu o fármaco num sumo de laranja e que o deu a Diogo, pedindo-lhe para "fechar os olhos e sentar-se numa cadeira, onde o prendeu com abraçadeiras". "Fui ao carro dizer à Mariana que estava tudo bem e ela quis entrar comigo. Viu-o preso", afirmou, tendo depois se envolvido numa luta com a vítima e voltado a sufocá-la quando "ele agarrou com força" o braço de Mariana: "perdi completamente o meu bom senso e civismo e voltei a sufocá-lo porque não queria que ele a magoasse".

"Queria protegê-la e voltei a sufocá-lo para depois chamar a polícia. A Mariana estava em pânico e assustada. Nunca tinha feito isto a uma pessoa antes. Pedi à Mariana para ver os sinais vitais e ela disse que estava morto. Não chamei as autoridades porque não queria estragar a carreira da Mariana. Eu sei que o que fiz foi errado. Sentei a Mariana no sofá e disse-lhe que ia resolver a situação.", confessou.

A jovem admitiu ainda ter cortado os dedos polegar e indicador para ter acesso aos telemóveis de Diogo. "Consegui cortar o polegar e o indicador que eram os dois que ele usava para desbloquear o telemóvel. Para um telemóvel era o polegar e para o outro era o indicador. A Mariana estava em choque".

Apesar de Mariana ter conhecimento do crime, Maria confessou ser a responsável pela morte, pelo desmembramento e pela forma como tentaram desfazer-se do corpo. 

Recorde-se que as jovens foram acusadas pelo Ministério Público dos crimes de homicídio qualificado, profanação de cadáver, de dois crimes de acessos ilegítimos, um crime de burla informática, roubo simples e uso de veículo. Em março de 2020, mataram e desmembraram Diogo Gonçalves, colocaram as partes do corpo em sacos do lixo e transportaram-nas para Sagres e Tavira, antes de abandonar o veículo da vítima no cabo de São Vicente. 

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