Abel Matos Santos e Luís Gagliardini Graça vão desfiliar-se do CDS. Os dois fundadores da Tendência Esperança em Movimento (TEM) discordam do rumo do partido e alertam que «este CDS tomou o mesmo caminho que tende a torná-lo irrelevante na política nacional».
Num documento conjunto a que o Nascer do SOL teve acesso, Matos Santos e Luís Graça, apontam várias razões para bater com a porta. Os dois militantes começam por explicar que lutaram internamente pela «mudança de rumo e de política», mas perderam a esperança que Francisco Rodrigues dos Santos consiga dar a volta e inverter a queda do partido. «Não escamoteamos que o rumo e as políticas tomadas por este CDS não representam a nossa forma de estar, pensar e agir. Não nos sentimos representados nem sentimos que possamos representar este CDS. Deste modo, a única posição lúcida a tomar é a de nos desfiliarmo-nos».
A rutura com ‘Chicão’ e o apoio a André Ventura
Abel Matos Santos entrou para o CDS em 2005, quando Ribeiro e Castro liderava o partido, e tornou-se mais conhecido como porta-voz da Tendência Esperança em Movimento.
Foi candidato à liderança, no último congresso, mas desistiu para apoiar Francisco Rodrigues dos Santos. O acordo durou pouco tempo. Matos Santos foi forçado pela direção do partido a demitir-se da comissão executiva devido à polémica com os textos que escreveu, nas redes sociais, com elogios a Salazar e à PIDE.
Uns meses depois assumiu estar desiludido com a liderança de Rodrigues dos Santos. «Foi uma desilusão. Quando esperávamos que se apresentasse sem tibiezas para poder fazer crescer o partido, andou aos ziguezagues para agradar ao sistema, porque o sistema também está dentro do CDS. Muita gente que votou Rodrigues dos Santos está desiludida», disse, em dezembro de 2020, numa entrevista ao SOL.
No último Conselho Nacional, em que o partido discutiu a possibilidade de antecipar o congresso, o fundador da TEM defendeu que Francisco Rodrigues dos Santos devia abandonar a liderança e avançou com uma proposta que passaria por uma «direção de salvação do CDS com figuras da direita conservadora».
Na campanha para as eleições presidenciais, no início do ano, Matos Santos voltou a distanciar-se da direção do partido e apoiou publicamente a candidatura de André Ventura. Nessa altura, justificou o apoio ao líder do Chega com a necessidade de votar no candidato que «quer romper com o sistema podre e corrupto» e que representa a «direita patriota e solidária».
Questionado sobre se admite aderir ao partido de André Ventura, Abel Matos Santos prefere não abrir o jogo. «Continuarei a participar na vida pública e política, disponível para me bater pelas causas em que acredito», diz ao Nascer do SOL.
Francisco Rodrigues dos Santos não escondeu, recentemente, o desagrado com o apoio dado por Matos Santos ao candidato do Chega. Num entrevista ao Observador, há um mês, o líder do CDS, confrontado com a saída Pedro Borges de Lemos para o Chega e o apoio dado por Matos Santos, garantiu que até vê «como positivo a saída de algumas pessoas para o Chega» para tornar o CDS um partido «mais respirável que contraria alguns fanatismos». As declarações não agradaram ao fundador da TEM que, juntamente com Luís Graça, vai entregar o cartão de militante nos próximos dias.