Autárquicas e lideranças

O PSD já tomou a dianteira ao divulgar uma lista de novos candidatos e daqueles que irá designar para a renovação de mandatos…

Como era previsível, aí estão as autárquicas e a escolha dos candidatos a causar diversas ansiedades e crises existenciais, até pela importante prova de vida para diversos líderes partidários. Acho que da esquerda à direita muito nervosismo vai existir nos próximos meses, sobretudo como reflexo das presidenciais onde a esquerda se eclipsou e o centro-direita rejubilou.

Assim, o mais interessante será conhecer quem é quem nesta corrida e o PSD já tomou a dianteira ao divulgar uma lista de novos candidatos e daqueles que irá designar para a renovação de mandatos, subsistindo dúvidas em alguns municípios-chave. Entre os nomes listados sobressai Carlos Moedas para Lisboa. 

Uma surpresa esta escolha e outra, ainda maior, a sua aceitação que revela humildade, coragem e vontade de servir a causa pública, sempre de louvar, ao contrário de outros que ‘ab initio’ se mostraram indisponíveis. Dos méritos desta escolha há que referir que terá o potencial de federar todo o centro e a direita democrática, apesar de, com toda a franqueza, eu estar mais a vê-lo disponível para conquistar o PSD do que a Câmara Municipal de Lisboa, considerando a sua categoria pessoal, competência e perfil político.

Curiosamente, ao saber desta candidatura, de imediato me veio à memória uma estória com muita graça atribuída a Mário Soares. Um potencial e muito conhecido candidato à liderança do PS ter-lhe-ia perguntado se teria carisma para o lugar ambicionado. Soares, apenas lhe retorquiu, com cruel sagacidade: «Se saíres da Brasileira [no Chiado] com 3 ou 4 apoiantes em direção ao Rossio e se lá chegares com uma centena de pessoas atrás de ti, tens carisma!». Alguém acredita que Moedas hoje o conseguiria?

Para se ganhar esta Câmara em particular, há que ganhar eleições como Abecasis ou Santana Lopes o fizeram, rompendo com o socialismo predominante – ou seja, com carisma, discurso escorreito e popularidade! Moedas seria um presidente indiscutivelmente melhor que Medina e não tenho qualquer dúvida do que afirmo. Preparação superior, visão e clarividência, tornariam Moedas um presidente a deixar memória na cidade, mas para isso só lhe falta ganhar as eleições. Só ou tudo?

Nos entretantos, Medina ficou de certeza intranquilo. A sua sobrevivência no PS como putativo candidato à sucessão de Costa também ficou em causa e vê Pedro Nuno Santos a esfregar as mãos de contente. Um pequeno deslize e lá se vão as pretensões de Medina em todos os campos, restando-lhe ir jogar xadrez com Seguro, ambos a conjeturar como estratégias tão boas colapsaram com fragor. É a vida!

Também considero curioso ler que Santana Lopes terá vontade de regressar à vida política ativa. Mais uma vez demonstrando ter sete vidas, não teve qualquer pejo em abandonar a Aliança, depois de seduzir dezenas de militantes do PSD, lançando-se no regaço de Rio que inexplicavelmente o vê como trunfo eleitoral numa qualquer Câmara, referindo-se Sintra como abrigo de eleição. 

Tal como no futebol, onde Pimenta Machado disse um dia que «o que hoje é verdade, amanhã é mentira», Santana Lopes deixa órfãos todos os que nele acreditaram, desistindo após umas ‘curvas mais apertadas’ que irremediavelmente demonstraram que a Aliança era um projeto pessoal. Mas será que Rio não percebe que ‘Santana è finito’ no PSD?

Igualmente, é interessante ver as reações de alguns dos nomeados por Rio para a renovação de mandatos. Convencidos que geriam os seus tempos de recandidatura, viram-se completamente ultrapassados pela celeridade desta divulgação e, em vez de se manterem discretos a gerirem as suas frustrações, vieram dar voz pública à sua insatisfação. Alguma dúvida que, com Rio, os timings das decisões são dele?
Outras das surpresas desta lista, a confirmação de que Rio deseja ver Carreiras reconduzido em Cascais, pese as diversas declarações que proferiu e a hostilidade das afirmações do líder do PSD. Dir-se-á que não tinha outra alternativa, mas prefiro pensar que Rio agiu em nome do interesse do PSD e Cascais, ficando a aguardar os próximos capítulos. 

Comentário final para o Porto, onde Rui Moreira dá cartas e Rio arranjou ‘lenha para se queimar’, ao dedicar-lhe escusado tempo a hostilizá-lo. Segundo depreendi das declarações de José Silvano, Rio irá oportunamente revelar quem será a opção do PSD para enfrentar Moreira e terá de ser enorme ‘truta’ para não ser triturado, com a agravante para Rio de, até no Porto, elevar a contestação interna à sua liderança.

P.S. – o Benfica fez 117 anos e LFV reapareceu. Apesar de assumir a responsabilidade pela crise, foi incapaz de reconhecer erros próprios, alguns bem evidentes como a constituição deficiente do plantel. No fundo, normal para quem se julga credor da gratidão eterna de todos no Clube e fala sempre de forma tão autocrática. Em vez de procurar agregar, não perdeu o ensejo de insultar quem o critica, acrescentando que defenderá o Benfica de qualquer ‘assalto’. Insultos que refletem o nervosismo de uma época (até aqui) falhada ou prenúncio de ‘fim de regime’?