Dizê-lo não é novidade: Apesar de as mulheres terem cada vez mais relevo em cargos de topo a nível mundial, o certo é que para a maioria das mulheres a desigualdade de género ainda existe. As provas desta desigualdade são vistas a olho nu mas cada vez mais provadas por estudos de várias entidades mundiais. Os mais recentes dados do Eurostat, a propósito do Dia Internacional da Mulher que se celebra a 8 de março, mostram que 46% dos trabalhadores na União Europeia são mulheres, mas só 34% ocupam cargos de gestão. Em Portugal, a percentagem de mulheres a ocupar esses cargos está acima da média da UE mas, ainda assim, não ultrapassa os 36%.
No que diz respeito aos Estados-membros, a maior percentagem de mulheres em cargos de gestão no primeiro trimestre do ano passado foi registada na Letónia (45%) e Polónia (44%), seguindo-se Bulgária, Hungria, Eslovénia e Suécia (42% cada).
Já os países onde as mulheres representam apenas um quarto dos gestores são a Croácia (24%), Holanda (26%) e Chipre (27%).
As diferenças são notadas também ao nível salarial o que levou a Comissão Europeia – liderada por uma mulher, Ursula von der Leyen – a apresentar uma proposta em matéria de transparência salarial para garantir que as mulheres e os homens da União Europeia recebem uma remuneração igual por um trabalho igual. Esta proposta é, aliás, uma prioridade na política de von der Leyen que vai mais longe, tendo ainda como objetivo que as empresas da UE fiquem obrigadas a revelar, mediante um pedido do trabalhador e de forma anónima, os níveis de remuneração média auferida por sexo, pelos colegas com as mesmas funções.
«Para o mesmo trabalho, a remuneração deve ser igual. E, para que exista igualdade de remuneração, é necessária transparência. As mulheres devem saber se os seus empregadores as tratam de forma equitativa. E, caso contrário, devem poder reagir e obter o que merecem», declarou a presidente da Comissão Europeia.
Já a comissária da Igualdade, Helena Dalli, não tem dúvidas: «As mulheres merecem o devido reconhecimento, igualdade de tratamento e que o seu trabalho seja valorizado, e a Comissão está empenhada em assegurar que os locais de trabalho cumpram este objetivo».
E se a desigualdade de género já era uma realidade, a pandemia veio mostrar ainda mais essa diferença. «A pandemia revelou o potencial de uma força de trabalho digital, mas o teletrabalho também aumentou os conflitos sobre o equilíbrio vida-trabalho, especialmente para as mulheres com filhos pequenos, até cinco anos», avança o Instituto Europeu para a Igualdade de Género (EIGE, na sigla em inglês).
No espaço comunitário, Portugal é, aliás, o país a registar o quinto maior impacto da pandemia no mercado de trabalho, afetando de forma desproporcional as mulheres.
No que diz respeito ao teletrabalho, estão nesta condição mais mulheres que homens: 45% vs. 30%. Destaque ainda para as «pesadas reduções de emprego em profissões dominadas por mulheres», como é o caso dos setores têxtil, retalho, alojamento, lares e trabalho doméstico.
O alerta fica dado: a não ser que sejam tomadas mais políticas de igualdade de género, e que essas políticas sejam «uma prioridade e centro dos planos de recuperação», a «Europa vai andar para trás».
Os dados sobre estas diferenças entre homens e mulheres multiplicam-se. No que diz respeito a Portugal, as mulheres trabalham diariamente uma hora e 13 minutos a mais do que os homens. Esta é uma das conclusões de um estudo da CGTP.
Os dados revelam ainda que, em Portugal, 78% das mulheres trabalhadoras fazem pelo menos uma hora de trabalho doméstico por dia, enquanto apenas 19% dos homens o fazem.
Destaques em Portugal
Mas, apesar de todas estas diferenças há, em Portugal e no mundo, várias mulheres em lugares de topo que dão cartas nas áreas para as quais foram escolhidas. Em Portugal, vemos agora um grande destaque na ministra da Saúde, Marta Temido, ou na diretora-geral de Saúde, Graça Freitas, que são o rosto da luta pela pandemia em Portugal. Mas há mais. O Governo também conta com outras mulheres como a ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, a ministra da Cultura, Graça Fonseca, a ministra da Presidência e da Modernização Administrativa, Mariana Vieira da Silva, a ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, a ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública, Alexandra Leitão, ministra do Trabalho e da Segurança Social, Ana Mendes Godinho ou a ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes. A lista de secretárias de Estado conta também com algumas mulheres como Rita Marques ou Rosa Monteiro.
Fora do Governo, a lista de mulheres também é extensa. Falamos, por exemplo, da procuradora-geral da República Lucília Gago, Maria Lúcia Amaral, provedora da Justiça, Paula Amorim, ‘líder’ do grupo Corticeira Amorim, Cláudia Azevedo, presidente da Sonae, a artista Paula Rego ou Isabel Mota, presidente da Fundação Calouste Gulbenkian.
Destaque ainda para mulheres com grande destaque na vida política como é o caso de Ana Gomes, Catarina Martins, Mariana e Joana Mortágua, Cecília Meireles, Marisa Matias, entre outras. Raquel Varela ou Susana Peralta também são dois nomes com muita visibilidade na comunicação social.
Mas há tantas mulheres de destaque em Portugal, na política, na cultura, nas artes, na literatura e em tantas outras áreas que acaba por ser um pouco injusto não colocarmos aqui o nome de todas.
As mulheres lá fora
Lá fora, são mulheres que ocupam a presidência de grandes instituições europeias e mundiais ou que fazem parte de governos. Além de Ursula von der Leyen, que preside à Comissão Europeia, destaque ainda para a diretora executiva do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde ou a economista chefe do FMI, Gita Gopinath.
A nível político o nome com maior peso é o da chanceler alemã, Angela Merkel. Mas há mais: conhecemos ainda nomes como a primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, que tem tido um papel de destaque no combate à pandemia no país ou Sanna Marin, chefe de Governo da Finlândia que aos 34 anos fez história por ser a primeira-ministra mais nova do mundo. Há ainda Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos.
Sem esquecer Kamala Harris que fez história ao ser a primeira mulher afro-americana a tornar-se vice-presidente dos EUA.
Apesar de os nomes parecerem muitos, são ainda poucos quando comparamos a presença feminina à masculina. Segundo um estudo recente das Organizações Unidas, as mulheres chefiam apenas 23 países entre os 200 associados à ONU. Aliás, 119 desses países nunca tiveram uma mulher num cargo máximo.
Mas se andarmos mais para trás, a história política está carregada de grandes exemplos de mulheres em lugares de liderança. No Reino Unido há o exemplo da Dama de Ferro, Margaret Thatcher. Em Portugal, destaque para Beatriz
Ângelo, a primeira mulher a exercer o poder de voto ou ainda Maria de Lourdes Pintasilgo, a única primeira-ministra mulher em Portugal.
Mais números
A verdade é que, em Portugal, a diferença remuneratória entre homens e mulheres corresponde a 52 dias de trabalho pago ou 148,9 euros, com vantagem para os homens. Estes dados foram divulgados pelo Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social em novembro do ano passado.
Mas há mais. Depois de uma análise à liderança de 53 bancos europeus entre 2014 e 2019, a DBRS concluiu que, mesmo com algumas melhorias, as mulheres continuam «significativamente sub-representadas». No caso de Portugal, este é o país com menos mulheres na administração dos bancos e que apresenta o maior desequilíbrio.
Todos estes dados mostram que, apesar das diferenças ainda vincadas, o caminho de mudança está a ser feito, mesmo que a um ritmo não tão veloz como o desejado pelas mulheres.