RT está a subir mas quão perto está de 1 não é consensual

Rui Rio saiu da reunião com o Presidente da República a alertar que o RT já está acima de 0,9. Cálculo feito pelo INSA, o organismo que faz a avaliação deste indicador para o Governo, não o coloca tão elevado. Mas é consensual que está a subir. Correção de dados na Madeira tem estado a…

As declarações de Rui Rio no final da reunião com o Presidente da República lançaram o alerta: o líder do PSD revelou ter recebido a informação de que o RT está já acima de 0,9 e traçou uma linha vermelha no que até aqui, e a menos de 24 horas de o Governo anunciar o plano de desconfinamento, parecia ser uma vontade generalizada de começar a reabrir o país: “Se subir para 1, não vale a pena desconfinar”, afirmou. Nos últimos dias, esta tinha já sido uma linha traçada pelos especialistas para decidir o alívio ou reposição de medidas de restritivas mas ao que o i apurou a questão neste momento é um pouco mais complexa: há diferentes formas de calcular o indicador e não é consensual que esteja tão elevado. Até porque acresce a isso um elemento atípico nos últimos dias: uma correção dos casos reportados na Madeira no sistema nacional de vigilância (SINAVE), de onde são extraídos os dados para os boletins da DGS, que fez aumentar o total de casos reportados a nível nacional mais do que aconteceu na realidade. Assim, se é consensual que o RT está a subir e que a tendência de descida de casos conseguida em fevereiro já está a dissipar-se, com o país a caminhar para uma situação de planalto (quando o R fica perto de 1) quão perto se está de uma situação em que a tendência volta a ser de subida, e se isso poderá acontecer em breve, não reúne consenso.

 

INSA calcula RT em 0,78

Apesar de a informação de que o RT estaria já acima de 0,9 ter saído da reunião com o Presidente da República, o i apurou que este não é o cálculo do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, a entidade responsável por analisar este e outros indicadores no Ministério da Saúde. Segundo a análise do Instituto Nacional de Saúde  o RT tem estado, no entanto, a subir desde dia 12 de fevereiro e é natural que caminhe para aí. Continuando abaixo de 1, os casos continuam a baixar, mas mais lentamente. O Instituto elabora relatórios diários em que é fornecida a evolução desde indicador, mas existe sempre um desfasamento temporal, já que é preciso ter presente não só quando é que as pessoas são diagnosticadas mas quando começam a ter sintomas. Além disso, a opção tem sido pelo cálculo do RT numa média de cinco dias. Às sextas-feiras é publicado um relatório semanal e também é disponibilizada a evolução dos valores ao dia. No relatório da semana passada o RT nacional era calculado em 0,72, dizendo então respeito ao período entre 24 e 28 de fevereiro. Podia então ver-se nas tabelas publicadas pelo INSA que no dia 28, o último da série, o RT situava-se a nível nacional em 0,73, quando atingiu o seu valor mais baixo por volta de 10 de fevereiro, quando chegou a ser de  0,60. Significa que 100 casos então diagnosticados dariam origem a 60,  cinco a sete dias depois. Quando sobe para 0,73, significa que grosso modo que os mesmos 100 casos vão dar origem a 73. Continuam a ser menos, mas a descida torna-se mais lenta. Segundo o i apurou, esta quinta-feira o cálculo situava-se em 0,78 e a tendência sugere que na próxima sexta-feira o cálculo apresentado, que dirá então respeito ao que se passou na semana passada, será na ordem dos 0,8. O INSA não quis comentar as afirmações feitas por Rui Rio e remeteu a informação para o relatório a divulgar na próxima sexta-feira.

 Também o Ministério da Saúde não comentou o valor revelado por Rui Rio. O i apurou, no entanto, que seguindo outras metodologias, é possível calcular um RT já superior a 0,9 a nível nacional, o que é neste momento a visão de alguns especialistas que participam no grupo de trabalho liderado pelo INSA que estudou a matriz de desconfinamento e de outros grupos académicos. E mesmo tendo em conta o efeito do acerto de casos na Madeira, há outros elementos que geram preocupação: a taxa de positividade nos testes está a estabilizar sem que tenha aumentado ainda significativamente a testagem. Por outro lado, a subida do RT, mesmo que ainda abaixo de 1, tem sido pronunciada – passou de 0,6 para 0,8 em menos de um mês e com o país teoricamente confinado, já que se vem verificando nas últimas semanas um aumento da mobilidade.

 A incógnita sobre o efeito das novas variantes, mais transmissíveis, e o aumento de casos no Centro e Leste da Europa são outros fatores de preocupação, embora Portugal tenha conseguido reduzir fortemente a incidência e internamentos, o que dá maior folga. Ontem os cuidados intensivos registaram pela primeira vez menos de 300 doentes internados, o que já não acontecia desde o início novembro. Na reunião do Infarmed, João Paulo Gomes, responsável pelo estudo da diversidade genética do SARS-CoV-2, revelou no entanto que a prevalência da nova variante inglesa sofreu uma maior subida na última semana, depois da sua disseminação ter sido travada no auge do confinamento. Representa agora 65% dos casos e é dominante, o que não acontecia quando o país confinou.

 

No ano passado, o país reabriu com o RT de 0,91

Por agora, o RT permanece abaixo de 1 em todo o país, sendo a excepção as ilhas, sendo a perspetiva dos especialistas que os casos tendam a aumentar – e o objetivo é tentar manter a epidemia dentro de patamares controlados, com o RT abaixo de 1 ou próximo, mais de 90% dos inquéritos epidemiológicos feitos atempadamente e taxa de positividade baixa. Quando o país começou a desconfinar a 4 de maio, o RT situava-se a nível nacional em 0,91, revelam os dados do INSA, que o i consultou. Voltou a estar a cima de 1 a 22 de maio, quase três semanas depois. Na altura, quando o país começou a desconfinar, a incidência a 14 dias era mais baixa que atualmente, rondando os 45,2 casos por 100 mil habitantes (a esta altura está acima de 100). Faziam-se menos testes mas também tinha havido menos introduções do vírus e potencialmente menos pessoas assintomáticas. O país abriu todo à mesma velocidade mas na altura Lisboa tinha já o RT acima de 1 desde os últimos dias de abril.