Este último confinamento encerrou cabeleireiros e barbeiros, mas, miraculosamente, a larga maioria das figuras públicas, dois meses passados, continua a aparecer com o cabelo aprumado. É o milagre das rosas, o confinamento do Solnado.
Portugal esteve sujeito a mais um confinamento em que as atividades económicas tiveram tratamento diferenciado. Livrarias encerradas, papelarias abertas. Sapatarias fechadas, lojas de eletrodomésticos abertas. Grandes armazéns de bricolage abertas, lojas de roupa encerradas. Restaurantes proibidos de vender bebidas em take away, supermercados autorizados. Teatros encerrados, programas de televisão permitidos com aglomeração de pessoas.
Regras que aceitámos, mas na realidade discutíveis.
Talvez a solução tivesse passado pelo sistema de rodízio. As segundas, quartas e sextas, uma tipologia de comércio aberto, às terças, quintas e sábados outra. Parece-me que a necessidade de comprar um par de sapatos é tão importante ou mais necessário do que comprar um secador de cabelo. Talvez quem tenha definido as regras tenha mais de um par de sapatos. Talvez desconheça o país real.
Mas o mais exótico e perigoso foi o facto de se proibir a venda de água e café nas estações de serviço na estrada nacional e autoestradas. Porventura quem decidiu nunca conduziu em trabalho de noite, nunca dirigiu um camião. Negar um café a quem tem ainda de fazer centenas de quilómetros à noite e com sono não parece uma decisão acertada. Negar água, nem se comenta. Também se poderia questionar se a construção civil é uma atividade essencial.
Mas decidir, é fazer escolhas. E, ao escrever estas linhas, desconhecendo o plano de reabertura a ser anunciado pelo primeiro-ministro, livremente posso arriscar que nesta reabertura as regras vão ser mais equilibradas entre a saúde e a economia.
Portugal foi o país da Europa que menos apoio deu às empresas e trabalhadores, pelo que a retoma da atividade é a única forma de garantir a sobrevivência das empresas e do trabalho. Testar, testar, testar. Temos de testar todos, principalmente quem entra no país. Será certamente a melhor forma de promover um destino seguro para o turismo e garantir mais eficazmente que não voltaremos a confinar.
Os portugueses, apesar do sacrifico, portaram-se bem nos dois confinamentos. Não fica bem acusá-los do contrário. É necessário ser ainda mais assertivo nas novas regras. Não vimos nenhum especialista em saúde mental no Infarmed, pelo que qualquer plano apresentado pelos especialistas é seguramente tendencioso.
Por isso a decisão tem de ser política. Senhor primeiro-ministro, devolva-nos a nossa liberdade e controle todos à entrada de Portugal.