«Atualmente, a sociedade vive momentos de grande insegurança e incerteza. Mais do que nunca, é urgente refletir sobre o modo como vivemos, tomamos decisões, agimos e organizamos a nossa sociedade». Foi a pensar nisso que foi criado o movimento MAE- Movimento Acção Ética, que conta com fundadores como António Bagão Félix, Paulo Otero, Pedro
Afonso e Vitor Gil. «Como todas as coisas, estes movimentos vão crescendo a partir de conversas que se vão tendo e da partilha de preocupações comuns entre pessoas que se conhecem», diz ao Nascer do SOL, Vítor Gil.
Uma questão que, segundo este médico cardiologista, ganha maiores contornos quando «os temas éticos têm andado bastante arredados da nossa vida – quer vida política, social, económica». E, acrescenta, este grupo achou que fazia sentido criar um movimento que «não é constitucional, não é partidário e é constituído por gente livre e independente, independentemente de muitas pessoas terem no presente ou no passado as suas posições políticas, religiosas, etc.».
Entre vários princípios que estão na base do MAE destacam-se: o valor inviolável e inegociável da vida humana; o respeito integral pelos princípios da dignidade e da centralidade da pessoa; a consideração da dignidade como propriedade inalienável de cada um e de todos os seres humanos, sem condições ou restrições; o respeito pela autonomia da pessoa, que existe por si e em si, repudiando visões programadas do ser humano; a consagração do valor da solidariedade como um princípio ordenador da vida em sociedade, uma virtude moral e um dever social.
«Cada um de nós está neste movimento com as características de independência, liberdade e, obviamente, com o relacionamento inter pares e uma complementaridade», refere Vítor Gil ao nosso jornal. E a ideia do grupo é a partir de agora tomar posições públicas: «Feliz ou infelizmente, todos os dias vão existindo motivos para a nossa reflexão».
Um destes casos diz respeito à eutanásia, na ordem do dia. «O movimento apareceu antes disto. Sabíamos que isto ia acontecer, aconteceu e estamos, naturalmente, preocupados com isto e temos vindo a pensar sobre isto. A nossa opinião é que o acórdão do Tribunal Constitucional é um acórdão ‘muito fraco’».
Mas as questões não ficam por aqui. Também as vacinas é outro tema que preocupa este grupo. «A questão da equidade é posta aqui em causa e há critérios que nunca foram abordados». E dá exemplos: em Inglaterra foi feito estudo que identificava como prioritários também os mais desfavorecidos, uma vez que pertencem ao grupo de mais vulneráveis à doença. «O que pode merecer crítica é a opção de, em alguns sítios por exemplo, terem vacinado determinados grupos de risco por ordem que não tenha sido a ordem decrescente do risco e no caso de Lisboa até foi por ordem alfabética. É completamente absurdo que um Abel que tenha 80 anos e que esteja cheio de saúde seja vacinado antes de um Zeferino que tenha 90 e esteja doentíssimo».
Já a questão da solidariedade é vista como um desafio. «No início disto, quando ainda havia quem pusesse em dúvida se se podia usar a máscara ou não, lançámos uma campanha onde dizíamos assim: ‘a tua máscara é a minha defesa’ ou ‘a minha máscara é a tua defesa’. E dizíamos que usar a máscara era um exercício solidário. Mais do que proteger-me a mim, a máscara protege o outro. E, portanto, lá está um exercício solidário, fundado no princípio ético que é o tentar defender o outro. Ora, se todos tiverem a preocupação de defender o outro, todos nos estamos a defender uns aos outros. Esta preocupação não tem sido de toda a gente», lamenta.