Há sintonia entre o primeiro-ministro e o Presidente da República na necessidade de prolongar o estado de emergência até maio mas os partidos não veem todos a mesma necessidade. Depois da 18.ª reunião do Infarmed, as reações dividiram-se entre o reconhecimento de que os indicadores epidemiológicos são positivos e a necessidade de cautelas e medidas que evitem uma quarta vaga mas também que evitem o agravar da crise no país.
António Costa, que desta vez não participou na reunião do Infarmed, pronunciou-se depois de uma visita ao liceu Camões. O entendimento do Presidente da República (sobre manter o estado de emergência até maio) “é o entendimento do Governo. Pelo menos até ao final deste processo, é necessário manter o estado de emergência para garantir que todos os passos são dados com segurança”, respondeu aos jornalistas.
Costa começou por fazer uma primeira reação à reunião do Infarmed no Twitter: “A situação epidemiológica em #Portugal mantém-se estável com redução do número de casos #COVID19. No entanto, o risco efetivo de transmissão está a aumentar. Não obstante o #desconfinamento em curso, é muito importante manter todas as cautelas e aplicar as medidas de prevenção”.
O RT está a subir desde 10 de fevereiro e na reunião foi apresentado o último cálculo do INSA, que o coloca em 0,89 na média dos últimos cinco dias, 0,92, no último dia da análise. O que gerou preocupação da oposição, isto depois de há duas semanas Rui Rio já ter considerado preocupante se o RT convergisse para 1, o que os especialistas admitem que vai acontecer mas que não deve ser o único indicador analisado.
Para já, tanto o RT como a incidência mantêm-se abaixo das linhas vermelhas. Na reunião no Infarmed, André Peralta Santos, da DGS, apresentou o cálculo da incidência cumulativa a 14 dias de 79 casos por 100 mil habitantes a nível nacional, o que segundo o Observador foi um dos indicadores lido na sala com apreensão, já que a meta era que se chegasse aos 60 casos por 100 mil habitantes. Os dados apresentados pela DGS não batem certo com os dos boletins, sendo os quais, com base nos diagnósticos nos últimos 14 dias, bem abaixo de 79 casos por 100 mil habitantes, situando-se esta terça-feira nos 67 casos por 100 mil habitantes a 14 dias. Os cálculos a nível nacional são ainda influenciados pela introdução no sistema de casos antigos da Madeira, referentes a janeiro, pelo que excluindo a região e calculando a incidência apenas no continente é agora de 63 casos por 100 mil habitantes. Ainda assim, na reunião, Baltazar Nunes, do INSA, assumiu que o objetivo de chegar aos 60 casos por 100 mil habitantes no fim de março já não deverá ser atingido.
No final da reunião, o deputado do PSD António Maló de Abreu defendeu que “a situação exige muitas cautelas, apesar de ser obviamente necessário uma palavra de esperança”, considerando que o Governo deve ter uma “política firme e uma política que não tenha condescendência”. Do CDS, as críticas dirigiram-se à suspensão da vacina da AstraZeneca, com o partido a acusar o Governo de ter criado “irresponsavelmente” uma perceção de insegurança. O BE anunciou que vai apresentar uma proposta para reforço da testagem, que considera fundamental. “Aquilo que, neste momento, é de retirar como conclusão desta reunião do Infarmed – a primeira depois do início do desconfinamento – é de que é preciso mesmo apostar muito na testagem massiva em Portugal”, afirmou Moisés Ferreira. O PCP, pela voz do deputado José Pires, destacou que Portugal “apresenta a melhor situação epidemiológica” da UE e criticou quem quer criar obstáculos ao desconfinamento. Aqui mais próximo da Iniciativa Liberal, que considerou excessiva o anúncio da renovação do estado de emergência até maio. Também o Chega defendeu que o país não o aguenta.