Uma em quatro famílias portuguesas perdeu “grande parte” do rendimento em 2020

Impacto da pandemia foi fatal para a carteira de muitos portugueses, revela barómetro da Deco Proteste.

O impacto da pandemia nas carteiras dos portugueses tem sido bem visível e o mais recente estudo da Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor (DECO) é mais uma prova disso: uma em cada quatro famílias perdeu “grande parte” dos rendimentos no ano passado.

Segundo o novo barómetro da associação, a pandemia “veio evidenciar as desigualdades sociais já vividas, afirmando que duas em três famílias portuguesas enfrentam dificuldades para suportar os custos inerentes ao dia-a-dia”.

“Mais de um quarto dos agregados inquiridos referiram que o seu rendimento sofreu cortes iguais ou superiores a 25%”, alerta Bruno Santos, public affairs da Deco Proteste, acrescentando que “é seguro dizer que estas famílias integram o patamar dos 63% que passam dificuldades financeiras e dos 6% que enfrentam uma situação crítica. Estas quebras de rendimento são explicadas pela perda de emprego, a inatividade profissional e a redução salarial”.

Ora, segundo o barómetro, 31% dos agregados situam-se no campo “conforto financeiro”, mostrando facilidade em pagar as suas contas, mas não mais do que isso.

“Partindo dos dados do Instituto Nacional de Estatística, no segundo trimestre de 2020, cerca de um milhão de pessoas estava a trabalhar a partir de casa, diminuindo as despesas com transporte e alimentação em restaurantes. A nível de lazer, muitas salas de espetáculo e comércio funcionavam a meio gás, algumas viagens foram canceladas, contribuindo para a poupança dos portugueses. Esta situação fez com que as famílias em dificuldade diminuíssem em 2020, comparativamente com os dados apresentados em 2019, melhoria que reflete apenas a redução de gastos”, avança a Deco.

Quando as restrições terminarem, as expectativas para este ano não são as melhores e acentuam o pessimismo e as dúvidas do último ano.

No que diz respeito aos gastos mais difíceis de suportar pelos portugueses, o barómetro revela que a necessidade de equipamento para as aulas a partir de casa é a explicação lógica para o acréscimo de dificuldade em honrar as despesas de educação, em 2020, em todas as regiões, à exceção de Lisboa e Vale do Tejo.

Juntam-se os gastos com o automóvel (combustível, manutenção e seguros), que ocupam o topo da lista. Seguem-se as despesas com dentista, férias grandes (viagens e estadias), manutenção da casa (obras, pinturas, etc.) e óculos e aparelhos auditivos.

Já as áreas mais afetadas economicamente são Porto, Vila Real, Setúbal e Aveiro, sendo estes os distritos a Norte onde as famílias vivem com mais dificuldades. O barómetro identificou o distrito de Vila Real com mais agregados em zona de desconforto (82%) e, no Centro, Aveiro (79 por cento). Em Leiria e Setúbal, as percentagens também andam na casa dos 70 por cento.

Nas regiões Norte, Centro e Lisboa e Vale do Tejo, as despesas com o lazer são as referidas com maior frequência como as mais difíceis de pagar, embora também lhes seja atribuído menor valor. No segundo lugar dos gastos mais expressivos, posicionam-se os associados à saúde. Por sua vez, é desigual o peso económico das despesas com a habitação e com a saúde.

Por sua vez, no Sul e Ilhas, o Algarve e Madeira sofreram o maior impacto nos rendimentos. As atividades dependentes do turismo, quase congeladas, tiveram um papel a desempenhar no encurtamento da liquidez.