Começaste a estudar na escola de Teatro de Cascais ainda na tua adolescência. Mas antes já tinhas feito algumas coisas. Quando apareceu esse gosto pela representação?
Eu comecei uns anos antes de entrar para escola de Cascais a fazer cursos e workshops na agência onde eu estava na altura. Aí acabei por conhecer alguns professores que me levaram à Escola Profissional de Teatro de Cascais. Naquela altura tive oportunidade de trabalhar canto com o FF e de trabalhar representação com um ator que era o Raimundo Cosme, que estava a fazer uma peça com a companhia dele, a Plataforma 285, e lembraram-se que precisavam de uma jovem atriz e, como ele me estava a dar aulas, acabou por confiar em mim para fazer com ele O Leilão. Era uma peça pequenina e curtinha, que foi feita no espaço do Cão Solteiro, uma sala para 16 pessoas, e foi esse o meu primeiro projeto profissional. A sala era tão pequena, foi um começo muito cru e humilde que deu origem ao resto da minha carreira. O gosto apareceu porque já em pequenina gostava de cantar e dançar e montar espetáculos. Eu tinha um amigo de infância, no sítio onde passávamos férias em família, com quem me juntava e, nas patuscadas de verão, preparávamos peças e desfiles e, portanto, sempre foi uma coisa que eu gostei de fazer. Além disso, as referências que eu tinha na altura da televisão eram as Chiquititas, a Floribela, onde toda a gente cantava e dançava e eu acaba por imitar o que via. Mas, no fundo, acho que foi um começo muito natural, de miúda que gosta de cantar e de dançar.
O que te levou a, tão nova, aos 14 anos se não me engano, tomares a decisão de seguir mesmo teatro?
Eu lembro-me de que naquela altura estava muito indecisa entre ir para a Escola de Teatro ou seguir Economia. Foi uma decisão um bocadinho inevitável. Quando eu estava a trabalhar com a Plataforma 285 os meus dias eram caóticos, porque eu ia para a escola, tinha aulas o dia todo, ao final do dia a minha mãe ia-me buscar, jantávamos em casa – tive imensa sorte de a minha mãe poder andar comigo para trás e para a frente – e pegava nas coisas e ia para os ensaios ou para o espetáculo. Os meus dias acabavam no teatro e começavam no teatro, porque muitas vezes passava da meia noite quando os espetáculos terminavam, e, portanto, acabou por ser uma escolha inevitável. Eu gosto muito do que faço e, na altura, comecei a pensar que podia ser uma saída profissional. Acho que foi tudo muito natural e fluído, as coisas apareceram na altura certa.
Por um lado, estudaste aquilo de que gostavas realmente, mas, por outro, também estavas a trabalhar. Sentes que, de alguma maneira, não viveste ao máximo a tua adolescência?
Acho que sempre tive a responsabilidade que conseguia ter na altura, sempre me predispus a trabalhar e a estudar ao mesmo tempo. Acho que desde que comecei a trabalhar que foi assim. E quando entrei na Escola Profissional de Teatro de Cascais e estive um tempo só a estudar, pouco tempo depois apareceu a minha primeira novela. Tendo um trabalho como este tão cedo, temos a oportunidade de imediatamente aplicarmos muitas das coisas que aprendemos na escola. Acho que talvez até eu o começar a fazer – e o Zé (Condessa, namorado), que começou antes de mim – havia uma certa estranheza, não quero dizer preconceito, mas havia uma grande reticência por parte dos professores por se ter quase esse estatuto de trabalhador-estudante. Mas acho que também é uma questão de ires provando que consegues fazer as duas coisas ao mesmo tempo, não só à escola onde estás a estudar, mas também aos pais. Em relação aos meus, senti que sempre houve uma necessidade de provar que conseguia fazer as duas coisas ao mesmo tempo sem falhar em nenhuma delas. E, por outro lado, também era uma questão de provar a mim mesma que conseguia abraçar esses desafios todos ao mesmo tempo. Sempre tive essa necessidade de superação a mim mesma. Acho que foi isso que fez com que eu, de facto, começasse a entrar nessa vida maluca de ter dias de quase 48 horas, como acontece agora. Eu estou a fazer de protagonista na novela e no teatro tenho também um papel importante e este ritmo tornou-se uma necessidade.
Nunca te faltou tempo na adolescência para saíres e estar com os teus amigos?
Estou a sentir isso só agora, depois das quarentenas todas e de estar a trabalhar numa situação de pandemia, comecei a sentir falta de algumas coisas, embora nunca com arrependimento. Nunca pensei ‘eh pá, gostava de ter vivido mais coisas da minha idade’, mas, de facto, agora, quando somos privados de tudo, olho para trás e penso ‘se calhar, se tivesse largado um bocadinho mais…’. Porque eu sou muito exigente comigo e acredito que é isso que me faz privar mais vezes de certas coisas e de certas vivências, sou muito responsável e não quero falhar em nada. Acho que isso leva-me a tomar decisões que me fazem focar muito no trabalho, eu sou assim, gosto de ser assim e não mudo isso por nada, acho que é algo que me caracteriza a nível profissional. Mas, sim, eu gostava de ter feito outras coisas, mais do que sair à noite, gostava de ter viajado mais e esse é, sem dúvida, um dos meus planos daqui para a frente.
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