A estratégia nacional do lítio recebeu esta semana um ‘impulso’ decisivo com o anúncio da criação de um cluster em Portugal para o desenvolvimento de uma cadeia de valor de baterias. O grupo de trabalho une perto de três dezenas de empresas e centros de investigação e deve constituir-se formalmente como associação em maio: será batizado como ‘Portuguese Battery Cluster’.
O objetivo é colocar em andamento no espaço de dois ou três anos o projeto do lítio português, em todas as suas vertentes: extração, refinação, criação de células, montagem das baterias (assemblagem), comercialização, utilização e reciclagem. As baterias made in Portugal esperam assumir-se, assim, como uma ‘ferramenta’ fundamental para nos próximos anos ‘alimentarem’ o país e a Europa, reduzindo a atual dependência energética do mercado asiático.
As conclusões surgiram no ‘Battery Summit’, organizado pelo Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia (INL) de Braga, que, durante dois dias, reuniu empresários, investigadores e políticos portugueses e espanhóis. A importância do momento ficou, aliás, bem patente na presença de todos os ‘pesos pesados’ do setor em Portugal e também de decisores políticos como o vice-presidente da Comissão Europeia para a União Energética, Maros Sefkovic, da comissária europeia Elisa Ferreira, do ministro do Ambiente João Pedro Matos Fernandes, do secretário de Estado da Energia João Galamba, e do ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior Manuel Heitor.
Ao Nascer do SOL, Pedro Salomé, líder de investigação do INL, que integra o grupo que está a desenvolver o cluster, chama a atenção que «as baterias vão ter um papel fundamental nas nossas vidas no futuro». «Hoje já andamos com uma bateria no bolso, mas essa importância vai ainda aumentar. Nos nossos carros, nas nossas casas, nos postes de iluminação… prevê-se que as baterias vão estar presentes em todos os aspetos do nosso quotidiano», refere.
As empresas e os investigadores acreditam que, além dos telemóveis e dos veículos elétricos – onde as baterias já são comummente utilizadas –, será no mercado doméstico das baterias estacionárias (para reserva de energia produzida através de fontes renováveis eólica ou fotovoltaica), que, em breve, se dará uma verdadeira ‘revolução’. «Dentro de cinco a dez anos a maior parte das casas em Portugal vai ter baterias instaladas», garante Pedro Salomé. Face a esta realidade, o investigador não tem dúvidas em apontar para uma solução interna ou, pelo menos, à escala comunitária: «Se esta realidade está identificada, então, faz todo o sentido Portugal ter uma cadeia de valor de baterias completa que lhe permita ficar menos dependente das importações, nomeadamente do mercado asiático».
Ponto de partida? O lítio
O primeiro passo para a concretização do plano será a extração do minério a partir do qual se criam as células que dão corpo às baterias: o lítio. Neste momento, as empresas Lusorecursos Portugal Lithium e Savannah Resources já têm contratos assinados com o Governo português para explorarem as reservas de lítio que existem em Montalegre e Boticas (Vila Real), mas o processo segue vagaroso. E foi o próprio vice-presidente da Comissão Europeia, Maros Sefkovic, que aproveitou a ‘Battery Summit’ para apelar para que seja possível «acelerar o acesso aos materiais fundamentais para baterias».
A empresa portuguesa Lusorecursos continua na linha da frente, e marca agora presença no ‘Portuguese Battery Cluster’. Ao nosso jornal, Ricardo Pinheiro, um dos sócios da empresa, descreve a plataforma como «um local que reúne as entidades que estão, querem estar ou têm potencial para estar na cadeia de valor do lítio e das baterias».
A Lusorecursos vai atuar na vertente da exploração, mas também na refinação e reciclagem. Por isso, Ricardo Pinheiro considera «fundamental» existir nesta fase uma sinergia a nível nacional e internacional que permita identificar, desenvolver e colocar no terreno a tecnologia necessária para concretizar as metas definidas. «As expectativas são identificar as entidades em Portugal e no estrangeiro que possam ser parceiros tecnológicos e representar as empresas e os centros de investigação nacionais junto das entidades internacionais, como a Comissão Europeia, a Associação Europeia de Baterias ou quaisquer outras. Isso permitirá identificar players que podem potenciar o projeto do lítio em Portugal, tornando-o uma referência na Europa», afirma.