As forças armadas de Myanmar continuam a espalhar o terror no país e nenhum civil está a salvo da fúria dos seus militares. A mais dramática chacina ocorreu num cemitério, quando soldados dispararam contra pessoas que se encontravam reunidas num funeral em memória das 114 vítimas que faleceram no sábado durante as manifestações contra o golpe de estado levado a cabo pelas forças militares.
Este foi o novo máximo de vítimas que aconteceu durante a repressão dos protestos, avançou o órgão de comunicação social local Myanmar Now, que ocorrerem em cerca de 40 regiões e estados como Rangum, Mandalay, Sagaing, Bago, Magwe, Tanintharyi e Kachin, enquanto o número total de mortos já ultrapassou os 400 nos últimos dois meses.
Até ao momento, não existem informações sobre se alguém foi ferido durante o ataque ao funeral, que aconteceu no domingo, na cidade de Bago, perto de Yangon, capital comercial de Myanmar. “Enquanto estávamos a cantar canções da revolução as forças de segurança chegaram ao local e começaram a disparar sobre nós”, disse uma testemunha ao Al Jazeera. “As pessoas, incluindo eu, começaram a fugir assim que ouviram os disparos”.
O violento ataque aconteceu no mesmo dia que os militares de Myanmar celebravam na capital, Naypyidaw, o dia das forças armadas com um grande desfile militar. “Os generais militares estão a comemorar o Dia das Forças Armadas depois de terem matado mais de 300 civis inocentes”, disse Sasa, porta-voz do CRPH, um grupo contra a ditadura militar criado por legisladores depostos, em um fórum online.
Recriminação internacional Os chefes de Estado-Maior de 12 países ocidentais condenaram o uso de “força letal” pelo exército de Myanmar. “Enquanto chefes de Estado-Maior, condenamos o uso de força letal contra pessoas desarmadas pelas forças armadas da Birmânia e os serviços de segurança associados”, pode ler-se no comunicado difundido pelo Pentágono e assinado por responsáveis da Alemanha, Austrália, Canadá, Coreia do Sul, Dinamarca, Estados Unidos, Grécia, Itália, Japão, Nova Zelândia, Países Baixos e Reino Unido.
Estes militares pediram ao exército birmanês que “ponha fim à violência e trabalhe para restaurar o respeito perdido junto do povo birmanês”. “Militares profissionais devem seguir os padrões internacionais de conduta e são responsáveis pela proteção – e não pelo dano – do povo que servem”, salientaram os líderes. O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, condenou as dezenas de mortes e pediu uma resposta “firme, unida e dedicada” da comunidade internacional.
“É fundamental encontrar uma solução urgente para esta crise”, defende o secretário-geral da ONU, que apela aos militares que evitem recorrer à violência destacando que quem comete graves violações dos direitos humanos deve ser responsabilizado.