O ex-ministro socialista Jorge Coelho morreu esta quarta-feira aos 66 anos, vítima de um ataque cardíaco. Jorge Coelho foi ministro nos governos de António Guterres, deputado na Assembleia da República, conselheiro de Estado, dirigente do PS e comentador durante mais de uma década no programa Quadratura do Círculo.
O Presidente da República reagiu de imediato à morte do histórico do PS. Marcelo Rebelo de Sousa classificou Jorge Coelho como “uma das mais destacadas personalidades da vida pública portuguesa nas décadas de 80 e 90 e no início deste século”.
Numa nota publicada no site da presidência da República, Marcelo realçou a “grande intuição, espírito combativo, perspicácia política, afabilidade pessoal e sentido de humor”.
O chefe de Estado destacou um dos momentos mais importantes da carreira política de Jorge Coelho. Na sequência da queda da ponte de Entre-os-Rios, que provocou a morte de 59 pessoas, o então ministro de Estado do Equipamento Social demitiu-se com o argumento de que “a culpa não pode morrer solteira” e “têm que se tirar as consequências políticas”.
O Presidente da República considera que esse episódio, em março de 2001, “deixou na memória dos portugueses o gesto singular de assumir, em plenitude, a responsabilidade pela tragédia de Entre-os-Rios e a capacidade rara de antecipar o sentir do cidadão comum”.
A alma dos socialistas
António Costa, visivelmente emocionado, começou por dizer que este é “um momento particularmente difícil” para todos os socialistas. “Era um amigo de todos nós e de todas as gerações do Partido Socialista. Estou muito chocado”.
O secretário-geral garantiu que o PS vai fazer uma homenagem ao histórico do PS. “Poucos foram aqueles que conseguiram exprimir tão bem a alma dos socialistas”, acrescentou, lembrando que Jorge Coelho foi “sempre um fator de unidade” entre os socialistas.
Já Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República e amigo de Jorge Coelho há muitos anos, disse à agência Lusa que recebeu a notícia com “choque e muita tristeza”.
Ferro Rodrigues, que também esteve nos governos liderados por Guterres, descreveu-o como um “homem bom e solidário, foi sempre alguém que se bateu por causas, em especial pela democracia e pela igualdade. Foi também um sobrevivente, com quem aprendi a enfrentar as adversidades”.
Um admirável servidor
Jorge Coelho destacou-se na vida política nos tempos em que o partido era liderado por António Guterres. Era o braço-direito do então secretário-geral do PS e contribuiu para levar o partido ao poder depois de dez anos do cavaquismo.
Foi ministro nos dois Governos de António Guterres. Começou por ser ministro da Administração Interna e, mais tarde, assumiu a pasta das Obras Públicas. “Foi um admirável servidor da causa pública, um político de extraordinária inteligência e dedicação”, disse António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas.
“Mas, acima de tudo, Jorge Coelho foi um amigo muito querido que me acompanhou em momentos decisivos da minha vida e face ao qual tenho uma enorme dívida de gratidão”, acrescentou o secretário-geral das Nações Unidas.
Um dos últimos combates políticos de Jorge Coelho foi ao lado de Maria de Belém nas eleições presidenciais realizadas em 2016. A ex-ministra da Saúde disse, na SIC, que ficou “devastada” com a notícia e realçou que Jorge Coelho “era uma pessoa extraordinariamente bem formada” e “com enorme devoção às causas”.
João Soares também manifestou “tristeza” pelo desaparecimento do histórico do PS. “Que tristeza. Morreu um homem bom. Um homem de esquerda fiel às suas convicções. Perco um bom amigo. Um homem de caráter, corajoso, inteligente, solidário, digno, generoso”, escreveu o ex-deputado do PS, na sua página do Facebook.
A morte de Jorge Coelho foi também lamentada por figuras de outros partidos. O líder do PSD, Rui Rio, lamentou “profundamente o súbito desaparecimento de Jorge Coelho, pessoa afável e de excelente trato, com quem tinha uma agradável relação pessoal”.
Marques Mendes, conselheiro de Estado e comentador político, realçou que “era um político carismático, corajoso, determinado, convicto” e que “não deixava ninguém indiferente”.
O CDS também lamentou “profundamente” a morte do ex-deputado socialista. “Jorge Coelho foi um político de grande relevo na vida do país, ao qual se entregou no exercício das mais altas funções do Estado, com seriedade, visão e sentido de compromisso. Tinha, pois, uma rara forma de estar na política aberta ao diálogo e ao debate leal, procurando as convergências acima das diferença”, afirmou Francisco Rodrigues dos Santos.