O Plano Ferroviário Nacional (PFN) cumpriu ontem o seu primeiro quilómetro entre carris. Numa sessão de apresentação, realizada no auditório do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, em Lisboa, foram anunciadas as etapas que se seguem: o período de contributos está agora aberto (qualquer português pode participar através do site do PFN) e, até junho, vão decorrer cinco sessões regionais (havendo neste âmbito um período de consulta a “entidades territorialmente competentes”). Entre julho e outubro, será redigida a primeira versão do documento, com base nos contributos de entidades e particulares recolhidos. Entre outubro e dezembro, vai decorrer um novo período de consulta pública a “entidades territorialmente competentes”. E entre janeiro e março, já em 2022, o documento final será entregue ao Governo para posterior aprovação em Conselho de Ministros.
O ministro adepto da ferrovia Quem esperou mais de um século, também pode esperar mais um ano. Assim pensa, pelo menos, o ministro das Infraestruturas Pedro Nuno Santos: “Temos este processo pensado para durar um ano, se conseguirmos antecipá-lo melhor”, disse na sessão, não sem referir os objetivos do Executivo. “Não queremos um PFN feito à pressa e feito apenas pelo Governo, isso exige tempo”, explicou.
Pedro Nuno Santos considera que o PFN serve essencialmente para corrigir o erro histórico que foi o desinvestimento na ferrovia portuguesa verificado ao longo das últimas décadas por sucessivos governos. O ministro diz mesmo considerar “difícil” compreender como é que “a inteligência nacional” tomou esta opção, mas sempre se congratulou pela mudança de pensamento e estratégia: “Finalmente voltou-se a falar de ferrovia como ela deve ser falada”.
Recorde-se que nem só de metas nacionais se faz o renovado interesse pela ferrovia em Portugal: a União Europeia definiu metas que preveem triplicar o número de passageiros em comboio de alta velocidade e duplicar o tráfego ferroviário de mercadoria até 2050. E o país quer continuar a ser um bom aluno.
Para cumprir o plano, Portugal tem em Pedro Nuno Santos um governante que é, ao mesmo tempo, adepto incondicional da ferrovia. “Eu que sou muito adepto da ferrovia e quero que a ferrovia se expanda (…) também quero que as viagens de avião com menos de 600 quilómetros desapareçam da Europa”, disse.
Entre as principais metas anunciadas pelo Governo, destaca-se a resolução dos estrangulamentos no acesso às áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto e a criação de um eixo de alta velocidade entre Lisboa e Porto (que vai também permitir “ganhar” tempo em várias outras ligações). Outros objetivos passam por levar os serviços ferroviários a portos e aeroportos, definir quais são as linhas nacionais, regionais e metropolitanas, assegurar o transporte de mercadorias e ainda garantir a ligação com Espanha, e consequentemente com o centro e norte do continente europeu.
As linhas de intervenção na ferrovia portuguesa foram anunciadas no ano passado (ver mapa), mas o PFN pode agora ir ainda mais longe: a possibilidade de ligar por comboio todas as capitais de distrito foi agora colocado em cima da mesa, o que pode beneficiar localidades como Viseu, Vila Real ou Bragança, sem ligação ferroviária há várias décadas.
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