A primeira vez que tirei da prateleira de um alfarrabista, por mera curiosidade, um livro da Folio Society percebi que estava perante algo especial. Tratava-se de Walden ou a Vida nos Bosques, o relato autobiográfico dos dois anos que o filósofo e poeta norte-americano Henry David Thoreau passou no meio da natureza, após ter construído na margem do lago uma cabana com as suas próprias mãos. «Fui para os bosques porque queria viver deliberadamente, para confrontar apenas os factos essenciais da vida, e ver se conseguia aprender o que ela tinha para ensinar, para não vir a descobrir, quando a morte chegasse, que não tinha vivido», escreveu celebremente Thoreau. Naquele período, disse ainda, «Cada manhã era um convite jovial a fazer uma vida de igual simplicidade, e posso até dizer inocência, à da própria natureza».
Walden merece o estatuto de clássico indiscutível que conquistou. Mas, naquela tarde no alfarrabista, o que me chamou a atenção não foi o conteúdo do livro, foi a sua forma: o belo grafismo da capa, as ilustrações, a qualidade do papel e dos acabamentos. E, por fim, aquele toque que distingue as edições mais requintadas: o estojo protetor de cartão que assenta que nem uma luva a um bom livro.
Na altura não fazia ainda ideia do que era a Folio Society. A avaliar pelo nome, poderia ser uma sociedade secreta dedicada ao culto dos livros – na realidade, trata-se de uma editora fundada em Londres em 1947 por um veterano da II Guerra Mundial, Charles Ede (que mais tarde venderia a sua quota para abrir um antiquário). De início, só os sócios podiam adquirir aqueles belos livros – uma política que mudou em 2011, quando as edições da Folio Society passaram a estar acessíveis a todos. O primeiro volume publicado foi de contos de Tolstói. Desde sempre, as ilustrações são encomendadas a artistas de renome, entre os quais destaco, por razões óbvias, Paula Rego.
Logo desde esse primeiro contacto tornei-me um dos muitos fãs da Folio Society espalhados por esse mundo fora. Mas, dos livros por ela editados que tenho nas estantes – apesar de tudo, ainda se vai encontrando em Portugal um ou outro exemplar de vez em quando – o que me dá mais prazer possuir é sem dúvida o conjunto formado por The White Nile e The Blue Nile, de Alan Moorehead. Procurava-os desde que lera a referência de Martha Gellhorn ao autor no empolgante Cinco Travessias do Inferno (ed. Tinta da China) e ainda pensei encomendar umas edições baratuchas. Devo esclarecer que nada tenho contra livros baratos – bem pelo contrário! –, mas aqueles pareceram-me tão mal tratados que fiquei à espera de nova oportunidade. Quando um destes dias descobri que um vendedor em Lisboa tinha a edição da Folio Society (cuja existência eu desconhecia) do conjunto, senti como se me tivesse saído um jackpot.
«Os livros são a venerada riqueza do mundo e a herança apropriada das gerações e das nações», escreveu Thoreau. Olhando para estes volumes sólidos, não posso deixar de pensar que o autor de Walden sabia do que estava a falar. E, se os livros são uma riqueza, o catálogo da Folio Society constitui um tesouro que mantém o seu valor, e o seu brilho, independentemente das modas e das flutuações destes tempos precipitados.