Vasco Lourenço desanca partidos

Capitão de Abril defendeu abertura de exceção para os representantes da Iniciativa Liberal e não gostou de ter ficado com as culpas da decisão que foi sancionada pelos partidos.

O tradicional desfile na Avenida da Liberdade para celebrar o 25 de Abril vai mesmo realizar-se, apesar das restrições impostas pela pandemia, mas os capitães de Abril não escondem a irritação com a polémica à volta da exclusão da Iniciativa Liberal. Sobretudo porque as comemorações do dia da liberdade voltam a ficar marcadas por uma nova polémica, o que já vai sendo também uma ‘tradição’.

Desta vez, o problema foi com a Inciativa Liberal.

O partido de João Cotrim Figueiredo participou nos últimos dois desfiles e manifestou a intenção de voltar a fazê-lo este ano, mas a comissão promotora decidiu limitar o número de participantes por causa da pandemia da covid-19 e das recomendações das autoridades de saúde e fechou a porta aos partidos que não integram a organização das comemorações populares.

Vasco Lourenço, presidente da Associação 25 deAbril, não gostou de ficar sozinho a defender uma decisão tomada por mais de 40 entidades que integram a comissão que organiza o desfile e já colocou em causa a continuidade da Associação 25 de Abril na comissão promotora nos próximos anos.

O capitão de Abril promoveu uma «reunião de clarificação» com todas as entidades da comissão promotora do desfile para ontem à tarde e a reunião prolongou.se durante várias horas.

 

Ao telefone com Cotrim Figueiredo

O Nascer do SOL apurou que Vasco Lourenço foi mesmo um dos defensores de que poderia ser aberta uma exceção para permitir a participação dos representantes do partido liberal.

João Cotrim Figueiredo falou ao telefone com Vasco Lourenço, que lhe afirmou isso mesmo e lhe manifestou abertura para integrar os representantes do partido no desfile da Avenida da Liberdade. Mas a decisão da organização, composta por mais de 40 entidades, entre as quais todos os partidos de esquerda, a CGTP e a UGT, optou, porém, por não abrir a porta à participação de outros partidos. 

A Iniciativa Liberal decidiu tornar pública a situação e organizar o seu próprio desfile.

 

IL na Avenida 1h30 depois

«Esta é a resposta responsável perante o sectarismo de quem se acha dono da Liberdade e da data. Liberdade é também desejar um Portugal mais plural e flexível. A Liberdade conquista-se e defende-se todos os dias. E em 2021 a Iniciativa Liberal irá, mais uma vez, celebrar a Liberdade», afirmou João Cotrim Figueiredo.

Os liberais, em comunicado emitido nesta sexta-feira, recusam ceder a «manobras que têm como objetivo limitar o exercício pleno das liberdade. Vivemos num contexto em que existem demasiadas liberdades colocadas em causa».

Ao Nascer do SOL, a Iniciativa Liberal disse estar a contar com cerca de 150 pessoas no desfile que começou a organizar a meio desta semana. O ponto de encontro será às 14 horas na Praça do Duque de Saldanha e o desfile terá início uma hora depois na Avenida Fontes Pereira de Melo. Às 16h30, uma hora e meia depois do início do tradicional desfile organizado pela Comissão Promotora das Comemorações Populares do 25 de Abril, os liberais têm previsto «início da descida da Avenida da Liberdade».

Os liberais realçam que não prescindem de «nenhum dos seus direitos cívicos e políticos», porque o partido «tem participado nesta celebração desde que é partido político».

«A Iniciativa Liberal é o único partido português que celebra na rua quer o 25 de Abril, quer o 25 de Novembro com a Festa da Liberdade, que em 2018 decorreu na cidade do Porto e em 2019 em Oeiras”, realçou, em comunicado, o partido de João Cotrim Figueiredo.

Os liberais garantem que vão cumprir todas as regras das autoridades de saúde.

A decisão de excluir os liberais foi condenada pelos socialistas e pela UGT, que integra a comissão promotora. «Houve pouca sensibilidade e alguma inabilidade política para gerir esta situação», afirmou Ana Catarina Mendes, líder parlamentar do PS, no programa Circulatura do Quadrado, na TVI.

Pedro Delgado Alves, deputado socialista e antigo líder da JS, também lamentou a «falta de bom senso».

Por seu lado, o ex-deputado socialista Ricardo Gonçalves acusa a comissão organizadora de voltar «a apresentar-se como dona» do desfile.

«Há partidos e movimentos de esquerda que com as suas atitudes e mensagens mostram a sua pior face e reforçam estes novos partidos que surgiram na direita portuguesa», diz este antigo dirigente socialista.

 

UGT fora do desfile

Carlos Silva, secretário-geral da UGT, também considera um «erro» excluir partidos do desfile do 25 de Abril.

A UGT, que se manifestou contra a realização do desfile por causa da pandemia, alerta que «Abril e Maio são património de todos os portugueses e não só de alguns, que acham que são os seus paladinos e defensores, que só nas ruas, com desfiles e manifestações, conseguem festejar».

A Comissão Promotora das Comemorações Populares do 25 de Abril é composta por 43 entidades. Ao todo, fazem parte desta comissão seis partidos da área da esquerda: Partido Socialista, Bloco de Esquerda, Partido Comunista Português, Partido Ecologista ‘Os Verdes’, Movimento Alternativa Socialista (MAS) e Livre.

A CGTP, UGT, Juventude Comunista, Juventude Socialista, Conselho Nacional da Juventude, Associação Portuguesa de Deficientes e o Movimento Democrático de Mulheres também estão entre as organizações que integram a comissão que promove as comemorações populares.

O PCP congratulou-se, entretanto, com a decisão de as comemorações populares voltarem à rua. Os comunistas não ignoram a polémica e condenam as «ações provocatórias de cariz fascizante e outras manobras de diversão que visam animar polémicas estéreis tendo em vista diminuir o alcance e significado das comemorações».

 

Ex-Presidentes Cavaco e Sampaio ausentes na AR

Já quanto à sessão solene comemorativa da revolução dos cravos na Assembleia da República, este ano contará apenas com Ramalho Eanes como único antigo Presidente da República a marcar presença.

Cavaco Silva volta a estar ausente para «respeitar as regras sanitárias devido à pandemia».

E Jorge Sampaio não estará presente por motivos de saúde.

A sessão solene no Parlamento deverá cumprir as mesmas restrições do ano passado. Na prática, só vão estar no hemiciclo 47 deputados e o número de convidados não deverá ultrapassar os 60.

A cerimónia arranca pouco antes das 10 horas da manhã, com a chegada dos convidados, do primeiro-ministro e, por fim, do Presidente da República.

Depois do discurso do presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, o deputado da Iniciativa Liberal, João Cotrim Figueiredo, será o primeiro a usar da palavra e deverá abordar a polémica sobre o desfile na Avenida da Liberdade.

O PSD voltou a escolher Rui Rio para discursar nas comemorações do 25 de Abril e os centristas optaram por  Pedro Morais Soares.

Beatriz  Gomes Dias, candidata à Câmara de Lisboa, falará em nome do BE e Alma Rivera discursará pelo PCP.

André Silva, que vai deixar o Parlamento em junho, fará a intervenção pelo PAN.

O PS, que fará o último discurso dos partidos, escolheu Alexandre Quintanilha para destacar a importância da ciência durante a pandemia.

Marcelo Rebelo de Sousa fará o primeiro discurso nas comemorações do 25 de Abril neste seu segundo mandato.  Há um ano, a intervenção do Presidente da República destacou-se por dar resposta aos partidos de direita que criticaram a decisão do Parlamento comemorar esta data devido às restrições impostas pela pandemia: «O 25 de abril é essencial e tinha de ser evocado». 

No último discurso do primeiro mandato, Marcelo defendeu que é preciso «retirar, a seu tempo, as lições» da pandemia que,  mostrou «as fragilidades, as desigualdades» e «as clivagens» da sociedade portuguesa.