Finda a sessão solene no Parlamento, as celebrações do 25 de Abril mudaram-se para o palco habitual: a Avenida da Liberdade, em Lisboa. Mas este ano foi marcado por polémica: o partido Iniciativa Liberal e o Partido Volt vieram acusar o facto de terem sido deixados de fora pela organização do evento, que argumentou que se limitou a seguir regras impostas pela DGS.
A Comissão Promotora acabou por abrir o evento a todas as entidades interessadas em participar, e o Volt alinhou e juntou-se à festa. Mas a Iniciativa Liberal manteve firme a sua decisão de partir com uma celebração própria, o que resultou numa realidade, no mínimo, caricata: Não um, mas dois desfiles celebraram paralelamente pela Avenida da Liberdade. Acabaram, porém, por não se cruzar.
João Cotrim de Figueiredo, líder e deputado único da IL, vincou, durante a manhã de domingo, que o 25 de Abril “não tem dono”, acusando os partidos “da esquerda sectária” de querer apoderar-se da data, não deixando de fora das críticas a “direita ambígua”, que permitiu “por falta de comparência”.
Parlamento deu tiro de partida A comemoração dos 47 anos da Revolução dos Cravos começou na Assembleia da República, onde Eduardo Ferro Rodrigues, Presidente da AR, representantes dos nove partidos com assento parlamentar e Marcelo Rebelo de Sousa participaram numa sessão solene do plenário para celebrar a revolução que pôs fim ao regime do Estado Novo. Tal como nas celebrações em 2020, a ocasião ficou circunscrita a um número reduzido de intervenientes e de convidados, com a diferença de que, nesta ocasião, o uso da máscara foi obrigatório.
Logo de manhã, os discursos no parlamento começaram por saudar, de uma forma praticamente unânime, os militares de Abril que em 1974 puseram um ponto final na ditadura. A partir daí, as opiniões divergiram, e cada interveniente aproveitou o púlpito para, além de discutir as consequências, os resultados e as mudanças que o 25 de Abril trouxe, poder fazer um balanço dos últimos 47 anos, bem como do que significou o Dia da Liberdade. Corrupção, populismo, democracia e justiça foram alguns dos termos comuns a todos os discursos, que abrangeram os partidos da esquerda à direita no plenário, exceto as duas deputadas não inscritas, Joacine Katar Moreira e Cristina Rodrigues, sendo que a ex-PAN se manifestou contra o facto de ter sido excluída da sessão, marcando presença com uma t-shirt de protesto que lia “censura”.
O discurso marcante de Marcelo Se as celebrações do 25 de Abril ficaram marcadas pelas opiniões variadas dos partidos políticos e pela troca de acusações, houve um tema praticamente comum a todos: o elogio ao discurso de Marcelo Rebelo de Sousa na sessão solene no Parlamento. O Presidente da República foi o último a discursar, e aproveitou o estrado para pedir que fossem “tiradas lições” da História do país, nomeadamente na sua vertente colonial. Marcelo Rebelo de Sousa concluiu a sua intervenção fazendo um apelo: “Que saibamos fazer dessa nossa história lição de presente e de futuro, sem álibis, nem omissões, mas sem apoucamentos injustificados, querendo muito mais e muito melhor”. E relembrou que “não há, nem nunca houve um Portugal perfeito, como nunca houve um Portugal condenado, há e haverá sempre um só Portugal, um Portugal que amamos e de que nos orgulhamos para lá dos seus claros e escuros”.
O discurso do Presidente da República abordou os 13 anos de guerra colonial, e os 60 anos desde o seu início, bem como as consequências para quem lutou nessa guerra, e para quem lutou as suas próprias batalhas no país. O momento foi de reflexão, havendo ainda espaço para homenagear António Ramalho Eanes, o único ex-Presidente presente na sessão. Só André Ventura não aplaudiu o discurso de Marcelo. “É prioritário estudar o passado e nele dissecar tudo o que houve de bom e de mau. É prioritário assumir tudo, todo esse passado sem autojustificações, nem autoflagelações globais excessivas”, pediu o Presidente da República, que utilizou a sua própria história de vida como exemplo, relembrando ser filho “de um governante na ditadura e no império que viveu na que apelida de sua segunda pátria [Moçambique] o ocaso tardio inexorável desse império, e viveu depois, como constituinte, o arranque de um novo tempo democrático, charneira, como tantos portugueses, entre duas histórias da mesma História”.
António Costa acabou por saudar o facto de Marcelo Rebelo de Sousa ter relembrado a sua história pessoal nesta data simbólica, enquanto o Presidente do Governo Regional dos Açores, José Manuel Bolieiro, descreveu o discurso como “brilhante, sobretudo para desvalorizar o contexto de circunstância, mas valorizar a substância do que é a história da democracia e da liberdade e o que representa a unidade nesta conquista”.
Dos partidos, as reações foram geralmente de saudação. André Ventura, apesar de elogiar a falta de “revisionismos”, criticou o Presidente da República por não “confrontar a AR e o Governo”, pelo que, defende, o seu discurso “falhou no essencial”.
Também Os Verdes acusam Marcelo Rebelo de Sousa pelo que “não foi dito”, apontando o dedo à escassez de temas como os apoios sociais, “as famílias que têm feito um esforço grande para que o orçamento familiar estique” ou “graves problemas” na Saúde e Justiça.