Última etapa do desconfinamento deverá avançar. Que concelhos podem ter travão?

Reunião do Infarmed ainda não fez avaliação da terceira etapa mas peritos não colocaram obstáculos ao avanço do plano. Norte com mais concelhos em risco de manter medidas.

O país deverá avançar para a última etapa de desconfinamento na próxima semana, mantendo-se medidas diferenciadas nos concelhos com maior risco. Da reunião no Infarmed saiu a ideia de que, com o aumento da cobertura vacinal, há uma crescente proteção dos grupos etários mais vulneráveis e tendência para menos hospitalizações, que mantendo-se a epidemia controlada poderão baixar em julho para os 30 doentes com covid-19 em Cuidados Intensivos. As medidas nos concelhos que recuaram ou ficaram a marcar passo parecem ter funcionado. O Norte é a única região do país onde o índice de transmissão continua a ser superior a 1, isto na avaliação feita pelo INSA que diz respeito ao que se passava até dia 21. Entretanto o RT já estará de novo acima de 1, mas as semanas têm tido grandes oscilações na testagem, o que não foi abordado na reunião. Na semana da Páscoa os testes diminuíram, na semana passada bateram recordes e esta semana, ao que o i apurou, estão a ser de novo menos.

Que concelhos podem ter travão Na avaliação que precedeu a terceira etapa do desconfinamento tinham sido 13 os concelhos sinalizados numa espécie de pré-aviso feito pelo primeiro-ministro: mantendo-se acima dos 120 casos por 100 mil habitantes, poderiam vir a ter um travão no desconfinamento na avaliação desta semana, que será feita no conselho de ministros de quinta-feira.

Na semana passada já se tinha verificado uma subida de incidência nos concelhos de Valongo, Vila Nova de Famalicão ou Resende e esta terça-feira, na reunião do Infarmed, André Peralta Santos sinalizou ainda o crescimento da epidemia nos concelhos de Paços de Ferreira e de Penafiel, já com dados para o período entre 18 e 24 de abril, com a zona do Vale do Sousa de novo a fazer soar alarmes. Estes concelhos não ficaram no entanto sinalizados na última avaliação e mantendo-se a estratégia de medidas após dois períodos de avaliação esta semana estão em causa decisões sobre os quatro concelhos que recuaram no desconfinamento: Odemira, Portimão, Moura e Rio Maior. Sobre seis concelhos que não avançaram: Alandroal, Albufeira, Carregal do Sal, Figueira da Foz, Marinha Grande e Penela e sobre os 13 de pré-aviso na última avaliação: Aljezur, Almeirim, Barrancos, Mêda, Miranda do Corvo, Mirando do Douro, Olhão, Paredes, Penalva do Castelo, Resende, Valongo, Vila Franca de Xira e Famalicão.

De acordo com os dados apresentados ontem na reunião do Infarmed, no Algarve, Portimão já não surge acima da linha vermelha, o que se verifica apenas em Aljezur e Lagos. Mantendo-se a situação – o Governo deverá ter em mãos dados já atualizados com dias desta semana – Portimão deverá ter luz verde para seguir. Aljezur que estava de pré-aviso arrisca travão. Lagos, que não estava sinalizado, pode ficar de pré-aviso.

Passando ao Alentejo, Odemira, que teve um travão no desconfinamento, embora com uma evolução positiva, mantinha-se no vermelho. A autarquia já protestou que o concelho tem mais habitantes do que os que surgem nas estimativas, o que deve pesar nas decisões. Beja também está acima do patamar dos 120 casos por 100 mil habitantes, mas na última avaliação acabou por ser retirado do grupo de concelhos que ficavam a marcar passo. Moura e Rio Maior, onde houve um recuo na reabertura, saíram do nível de risco e deverão assim ver ser levantadas medidas mais restritivas.

Em Lisboa e Vale do Tejo, aparecem agora acima do patamar dos 120 casos por 100 mil habitantes Coruche, Alpiarça e Peniche, que não estavam pré-sinalizados. Na área metropolitana de Lisboa não há nenhum concelho acima da linha vermelha e mesmo Vila Franca de Xira, que corria o risco de um travão no desconfinamento, saiu desse patamar na semana passada.

Na região Centro, Figueira da Foz, onde o desconfinamento ficou a marcar passo, mantinha-se acima dos 120 mil casos por 100 mil habitantes.

A situação é mais complexa a Norte, onde se concentram a maioria dos concelhos acima dos 120 casos por 100 mil habitantes e onde poderão vir a ser mantidas medidas mais restritivas numa altura em que na maioria do país, mantendo-se o plano de desconfinamento, devem ser levantadas as restrições de horário ao fim de semana.

Jovens são o novo foco Na reunião do Infarmed os peritos sinalizaram que nas últimas o aumento de casos tem-se verificado, como o i noticiou, sobretudo na faixa etária dos 10 aos 19 anos. Baltazar Nunes, do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), salientou que ainda assim, no geral, a incidência é menor do que a que verificava no primeiro mês e meio de aulas do arranque do ano letivo em setembro. Os gráficos apresentados mostram no entanto que na faixa etária dos 15-19 anos, em que as aulas foram retomadas apenas há uma semana, a incidência de novos casos de covid-19 é agora três vezes superior à que se verificava ao fim de uma semana de aulas no primeiro período. Questionado pelo i, o investigador esclareceu que o objetivo foi comparar a abertura em simultâneo dos vários ciclos letivos em setembro/outubro com a abertura atual faseada, que até ao momento mostrou menor incidência nestas idades do que a abertura em bloco, admitindo no entanto que no caso das crianças dos 15 aos 19 é necessário esperar para ver a evolução.

Para já, os resultados sugerem uma epidemia controlada e com “claros sinais” do impacto do vacinação na população com mais de 80 anos. Baltazar Nunes defendeu a importância de manter o aumento da testagem, redução de contactos extra “bolha familiar”, medidas preventivas na comunidade, locais de trabalho e escolas e aumento da cobertura vacinal acima dos 60 anos. Mantendo-se a atual trajetória, a perspetiva de o país voltar a passar a linha vermelha dos 120 casos por 100 mil habitantes não está num “horizonte próximo” e os especialistas admitem que possa mesmo não tornar a acontecer. Chamada de atenção para o Norte, a única região em que os casos têm estado a aumentar: se não houver uma alteração da tendência, essa marca pode ser atingida em 15 dias a um mês. Na última reunião, essa era a previsão para o país, que não se verificou, mas a incerteza permanece. Um eventual impacto da terceira etapa do desconfinamento na epidemia só deverá começar a ser percetível na próxima semana.