A ANA – Aeroportos de Portugal exige à Groundforce o pagamento imediato de mais de 10 milhões de euros referente à utilização da plataforma que a empresa de handling do grupo TAP deve àquela entidade, apurou o Nascer do SOL. A empresa que gere os principais aeroportos portugueses (e que pertence ao grupo Vinci) tem em cima da mesa a possibilidade de avançar para uma cobrança coerciva e para um pedido de revogação das licenças de atividade atribuídas à Groundforce, retirando-lhe quaisquer possibilidades de operar no país.
Fonte próxima do processo confirmou ao nosso jornal que esta exigência apanhou Alfredo Casimiro de surpresa, pois a ANA – Aeroportos de Portugal e a Groundforce tinham em aberto negociações com vista a acertar contas através de um desconto e de um plano faseado de pagamento. Alfredo Casimiro estaria convencido que as partes chegariam em breve a um entendimento sobre a matéria. Daí as palavras do privado da Groundforce numa entrevista ao programa Negócios da Semana da SICNotícias, no dia 4 de março: «Estamos hoje a dever cerca de 10 milhões à ANA, com quem já conseguimos um desconto e com quem estamos a negociar um pagamento faseado», afirmou na altura. O timing da exigência também incomoda, pois Casimiro tem manifestado nos últimos dias confiança numa retoma para breve do setor da aviação.
A posição da ANA surpreende, também, porque foi o próprio presidente, José Luís Arnaut, a colocar-se publicamente ao lado de uma solução para a Groundforce, tendo mesmo criticado a postura assumido pelo acionista minoritário (e público) TAP ao longo deste processo. «Sobre a Groundforce, só não percebo como é que tendo já entrado 1.200 milhões de euros na TAP, esta não teve 30 milhões para meter na Groundforce? Ou o dinheiro já desapareceu todo e para onde?», disse José Luís Arnaut em entrevista ao Público, no dia 18 de março, referindo-se aos apoios que o Estado português tinha concedido à transportadora aérea.
O Nascer do SOL tentou obter esclarecimentos oficiais da ANA e da Groundforce sobre o atual ponto da situação, mas nenhuma das duas entidades se mostraram disponíveis para fazer comentários até ao fecho desta edição.
Casimiro esgota soluções Pedro Nuno Santos, TAP, Banco de Fomento, Montepio e, agora, ANA – Aeroportos. Foram estas as pessoas e entidades que, nos últimos meses, foram apertando o cerco a Alfredo Casimiro, deixando o empresário sem soluções para lidar com a crise de liquidez que a empresa de gestão de bagagens atravessa desde fevereiro, na sequência da quebra de atividade devido à covid-19. Alfredo Casimiro nem sequer conseguiu ter acesso às linhas de financiamento definidas pelo Governo para suportar a resposta da economia à pandemia, algo que o empresário tem afirmado insistentemente «não conseguir compreender», sabe o nosso jornal. O presidente da Groundforce (que detém 50,1% da empresa através da Pasogal, enquanto os restantes 49,9% pertencem à TAP) recorda, sempre que pode, os resultados positivos entre 2012 e 2019, período em que passou a liderar a empresa: somando lucros de 28,8 milhões, contra prejuízos de 151.6 milhões ao longo dos cinco anos anteriores de gestão pública. Todavia, o histórico de nada lhe tem valido.
Entretanto, as dívidas vão-se acumulando. Face a este cenário, a possibilidade de venda da Groundforce – que chegou a ser negociada com três entidades estrangeiras (Aviapartner, WFS e Atitlan) – perdeu força e, em sentido contrário, uma eventual insolvência torna-se cada vez mais real. Além da ANA – Aeroportos, também a TAP – que até há bem pouco tempo era única empresa com contas em dia com a Groundforce – reclama os 461 mil euros referentes ao aluguer dos equipamentos que a companhia comprou a Alfredo Casimiro por 6,97 milhões (de forma a injetar capital para pagar os salários de março aos 2.400 trabalhadores da empresa). O acordo foi, porém, ‘rasgado’ por Casimiro no final de abril. E agora o empresário, que garante continuar apostado em «desenvolver uma relação saudável com a TAP», quer a devolução dos equipamentos e restituir os sete milhões a prestações. Governo e TAP não aceitam.
Neste momento, a Groundforce garante ter assegurado o dinheiro para pagar os salários de maio e junho aos trabalhadores (e também as verbas para fazer face aos impostos referentes a este período). Mais: o empresário tem confidenciado junto dos colaboradores mais próximos que, com base nas mais recentes estimativas divulgadas pelo Eurocontrol e pela IATA [Associação Internacional de Transportes Aéreos], está disponível para contratar já a partir de junho, de forma a corresponder ao aumento da atividade – recorrendo a alguns ex-trabalhadores que viram os contratos a termo terminar no meio da crise.