O Governo e a Câmara de Lisboa assumiram que “algo não correu bem” na festa do Sporting, mas ninguém assume a responsabilidade pelas falhas no cumprimento das regras impostas pela pandemia. A líder do PS, Ana Catarina Mendes, condenou “este passa-culpas” depois da festa.
O presidente da Câmara de Lisboa admitiu que “houve várias coisas que não correram bem”. Fernando Medina começou por explicar que a aposta da Câmara foi evitar “a concentração total” de pessoas no Marquês de Pombal e distribuir as pessoas pela cidade para assistir à passagem do autocarro com a equipa.
O autarca de Lisboa quis, porém, deixar claro que a Câmara não tem competências para evitar a aglomeração de pessoas junto ao estádio de Alvalade. “A Câmara não tem nenhum poder de autorizar “manifestações”, reuniões” ou “organizações”, disse. Questionado várias vezes sobre o que aconteceu no estádio do Sporting, onde foi instalado um ecrã gigante que transmitiu o jogo, Fernando Medina explicou que “a Câmara não tem nada a ver com a autorização da manifestação”.
Rejeitando “contribuir para o debate do passa-culpas”, o autarca socialista insistiu na ideia de que a Câmara defendeu a solução de “espalhar os festejos” por vários pontos da cidade.
Cabrita em silêncio O ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, tem sido criticado pelos partidos de direita por não prevenir esta situação, mas continua em silêncio. Foi a ministra Mariana Vieira da Silva a assumir esta quinta-feira que “algo não correu bem”, porque “há regras que não foram cumpridas”, nomeadamente “a impossibilidade de ajuntamentos e o consumo de bebidas alcoólicas em lugares públicos”.
O primeiro-ministro já tinha anunciado que o Governo pediu a abertura de um inquérito à atuação da PSP e sobre o planeamento entre todas as entidades envolvidas. António Costa argumentou que só será possível “retirar as responsabilidade devidas sobre essa matéria” depois do “apuramento dos factos”.
A líder parlamentar do PS também admitiu falhas e condenou “este passa-culpas”. No programa Circulatura do Quadrado, na TVI, Ana Catarina Mendes afirmou que não consegue “perceber como é que, num contexto em que não é possível haver espetáculos de outra natureza, se pode permitir e autorizar a colocação de um ecrã gigante” à porta do estádio.
PSD, CDS, Chega e Iniciativa Liberal condenaram a concentração de pessoas junto ao estádio de Alvalade e responsabilizaram o ministro da Administração Interna.
O PSD/Lisboa apontou o dedo a Fernando Medina. Os sociais-democratas, em comunicado, acusam Fernando Medina de ignorar os pareceres da PSP que alertaram para as consequências de instalar um ecrã gigante próximo do estádio. O autarca de Lisboa garantiu que desconhece a existência desse parecer negativo. “Se o há eu não o conheço. E se o há deve ser dirigido à Polícia ou ao Ministério da Administração Interna”, afirmou.