O número de vítimas continua a subir na Palestina depois de quatro dias contínuos de lançamentos de mísseis por parte de Israel: pelo menos 103 mortos, 27 dos quais são crianças, e 830 feridos.
«É engraçado falar como a situação pode escalar», disse a investigadora palestiniana, Shahd Wadi. «Israel já ocupou tantas terras, já ceifou tantas vidas humanas e ainda estamos a pensar onde é que as consequências podem chegar, com tanto sofrimento e brutalidade que o povo palestiniano está a sofrer. Nem quero imaginar onde pode chegar».
Na madrugada de sexta-feira, o exército israelita realizou a maior operação na Faixa de Gaza desde o início desta nova ofensiva militar, na segunda-feira, lançando cinquenta rondas de bombardeamentos por terra e ar em quarenta minutos.
Segundo um porta-voz militar, Israel utilizou 160 aviões, artilharia e infantaria durante o ataque ao enclave palestiniano, algo que obrigou centenas de famílias palestinianas a procurarem refúgio em escolas dirigidas pelas Nações Unidas e em abrigos antibomba.
Além dos ataques aéreos, as tropas israelitas circundaram a Faixa de Gaza e estão a realizar ataques a alvos com a artilharia e tanques. O ministro de Defesa de Israel aprovou a mobilização de mais 9 mil soldados.
Em comparação, as milícias palestinianas responderam com 50 rockets contra Israel durante a madrugada. No conjunto, os ataques palestinianos provocaram 8 mortes.
Um conflito com 73 anos
A investigadora palestiniana explica que os novos desenvolvimentos dos ataques de Israel à Palestina são a continuação de uma «catástrofe» que começou em 1948. «Muitas pessoas falam desta situação como se tivesse aparecido agora, mas é uma continuação que acontece há 73 anos», explicou Wadi, recordando que este domingo é assinalado o aniversário da Nakba Palestiniana de 1948, a Catástrofe palestiniana onde 80% da população foi expulsa do seu território, exilada pelo exército de Israel.
«Até os momentos mais calmos só parecem calmos porque os media não estão a cobrir todos os eventos que acontecem na Palestina», considera a investigadora. «Existe brutalidade da ocupação israelita todos os dias. Os bombardeamentos são mais frequentes do que aquilo que aparece nos jornais».
Os ataques israelitas foram desencadeados pela tentativa de organizar as paradas anuais das celebrações do Dia de Jerusalém, em que sionistas, judeus nacionalistas, atravessam os bairros muçulmanos de bandeiras na mão, para assinalar a ocupação da zona este de Jerusalém, em 1967, uma ação que não é reconhecida por parte da comunidade internacional.
Este evento, que viu a sua rota ser alterada de forma a não atravessar os bairros, é considerado como um insulto pela comunidade palestiniana, e a sua confirmação surge após diversos ataques ao longo do fim de semana, que deixaram centenas de palestinianos feriados, devido ao despejo de seis famílias das suas casas em Sheikh Jarrah, um bairro palestiniano no leste de Jerusalém, uma ação que acabou por se tornar um símbolo do esforço de Telavive para afastar palestinianos de regiões estratégicas.
«Há um povo que vive no sistema de apartheid há muitos anos e este é só mais um momento do processo da limpeza étnica, que não começou com o bairro Sheikh Jarrah, nem sequer é a primeira vez que foi observada uma situação de despejo nestes bairros, existem vários bairros de Jerusalém, onde Israel está a realizar planos de limpeza étnica», afirma Wadi, alertando que o primeiro-ministro israelita avisou que vai intensificar os ataques.
Existe uma solução?
Face aos ataques desproporcionais levados a cabo por Israel, o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou que entrou em contacto com o primeiro-ministro israelita procurando encontrar uma solução pacífica para o problema.
Respondendo a perguntas de jornalistas, Biden notou, ainda assim, que «Israel tem o direito de se defender». «Tenho esperança de que a situação se resolva o quanto antes, mas Israel tem o direito de se defender quando milhares de projéteis são lançados contra o seu território», disse.
Face a estes comentários, Wadi confessou que «já não contava com os Estados Unidos para nada», e virou as atenções para a Europa na procura para uma solução pacifica para este conflito.
«A Europa deve parar de financiar a guerra e o armamento israelita. É preciso haver um embargo de armas, que deve ser praticado também por Portugal, e pensar muito bem antes de fazer negócios com empresas israelitas, que testam as suas armas nos palestinianos antes de as venderem», esclareceu a investigadora.
«É preciso começar a deixar de fazer negócios e eventos culturais com países cúmplices de guerras e de ocupações».