E que há de falar de Deus?

Se não houver quem fale da nossa verdadeira esperança que é Cristo, não haverá quem pregue e, se não houver  quem pregue, ninguém ouvirá as promessas de Deus.

O mundo está cheio de coisas mundanas, das coisas da terra, mas muito falta quem fale das coisas definitivas. O próprio Jesus tinha dito: «Aquele que vem do alto está acima de todos. O que é da terra, pertence à terra e fala das coisas da terra» (Jo 3, 31). 

Hoje, a nossa preocupação, está em garantir o que é da terra, garantir a comida e a dormida, a todo o custo. Há que procurar sobreviver. Sim. Já não vivemos, sobrevivemos no meio da instabilidade deste mundo. Somos da terra e por isso preocupamo-nos com as coisas da terra. 

Mas não precisamos, nós, de pensar na comida e na bebida? Não precisamos nós de comer e de beber? Não precisamos de todas estas coisas para viver? 

É evidente que precisamos de todas estas e muito mais coisas. Mas não serão estas coisas a dar-nos a vida. Na verdade, o que é do mundo, fala das coisas do mundo e ao mundo pertence.

O discurso da Igreja tem variado ao longo das últimas três décadas. Falamos do setor social, dos desprotegidos, dos imigrantes, dos marginalizados, dos que habitam numa situação de injustiça social. A preocupação que os bispos e os padres e os cristãos em geral têm de uma opção preferencial pelos pobres, tem invadido a alma dos cristãos e não cristãos.

Mas quem nos há de falar das coisas do alto? Quem virá falar-nos de Deus?

O que nos leva, a nós cristãos, a amar os outros é a fé em Cristo. Ora, diz São Paulo, que a fé vem de escutar a pregação. Mas, pergunta-se São Paulo, como há de acreditar se não tiverem ouvido falar? E como poderão ter ouvido falar, se não tiverem quem pregue? E como hão de pregar se não houver quem os envie? 

Este é o circulo perigoso em que a Igreja católica se está a meter. Falamos das coisas da terra, da necessidade de amar, de integrar os imigrantes e os que vivem dificuldades, dizemos que é preciso ter esperança. Mas qual é a nossa esperança? O que é que nós esperamos, na realidade? Não é Cristo a nossa esperança, que ressuscitou dos mortos?

O perigo do caminho que estamos a percorrer está patente no progressivo afastamento de Deus e da missão profética que Cristo confiou aos cristãos de darem continuidade à Missão de Cristo no meio do mundo. É necessário repensar a missão da Igreja a partir da missão de Cristo. Tal como Cristo amou e se entregou pelos homens – para os salvar – assim nós somos chamados a pregar o evento central na vida dos cristãos: a ressurreição de Jesus. 

Se não houver quem fale da nossa verdadeira esperança que é Cristo, não haverá quem pregue e, se não houver quem pregue, ninguém ouvirá as promessas de Deus. Se não escutarem, não ressoará a boa notícia dentro do seu coração e, por isso, deixará de ter acreditar. 

O mundo nunca mudará se não se aproximar de Deus!

O grande mal do homem não são as estruturas injustas – como diriam algumas ideologias – o grande mal do homem está dentro do seu coração e se não houver quem entre no coração (e não são os cardiologistas que o poderão fazer) não haverá mudança social.

E quem pode lá entrar se não for Deus?

Hoje, deveríamos estar a dizer e a pregar a todos os homens que, se querem uma sociedade mais justa e mais humana, uma sociedade que ame, é preciso que volte a ressoar aos ouvidos dos homens a boa notícia de que a morte foi vencida por Cristo na cruz. 

Se a Igreja não o fizer hoje, quem o fará?