A autonomia do indivíduo deveria ser absolutamente prioritária e o objetivo principal de qualquer aprendizagem ou processo formativo. Sem autonomia não existe consistência, continuidade e, mais importante, conversão de conhecimento em valor.
Antes da maioridade, o ser humano é absolutamente dependente dos seus progenitores. Se por um lado nos primeiros anos de vida a dependência é de absoluta proteção e providência, nos que se seguem a preocupação é moldar o jovem adolescente, mantendo-o dentro dos padrões ditos saudáveis. Sãos os encarregados da educação aqueles que nos mantinham, seguramente, alinhados com as tarefas menos apetecidas, mas necessárias.
Contudo, nunca vi ninguém explicar a um jovem que atingir a maioridade significa, para além de muitas outras coisas, que passamos a ser nós próprios os responsáveis pela motivação necessária à execução aborrecida de todas as cláusulas embutidas no termo ‘responsabilidade’. Esta típica transição atabalhoada aumenta, julgo, a probabilidade de esse mesmo indivíduo ser dependente de terceiros para cumprir com as suas obrigações sociais, nomeadamente as que dizem respeito ao cumprimento dos seus deveres como cidadão, contribuinte, e muitos outros.
Existindo outras razões pelas quais acredito que fazer das próximas gerações autónomas seja imprescindível e estrategicamente prioritário, julgo que a principal seja a garantia de continua aprendizagem e consistência. Trata-se da velha história do pedinte: tem mais valor ensinar o pobre a pescar do que dar-lhe a comer um belo peixe naquele dia.
Durante um ano normal de qualquer cidadão português são preenchidos impostos, é gerada uma fonte de rendimento (pelo menos), dão-se transações de conhecimento e outras formas de valor, surgem desafios quotidianos familiares, entre muitas outras circunstâncias. Contudo, não tenho memória de, em algum ponto da formação académica ou escolar, ter tido alguma indicação prática de como preencher os meus impostos, gerar segundas e terceiras fontes de rendimento, lidar com os desafios emocionais e sociais do dia-a-dia, ou deveras qualquer outro assunto relacionado com competências transversais.
Para além disso, está em falta a capacitação da sociedade para aprender. Pessoas diferentes requerem métodos também eles distintos e ajustados às características do indivíduo. Da mesma forma, faltam métodos. Educação é um completo apalpão no escuro, na medida em que o método mais utilizado é dos mais ineficientes e insustentáveis: decorar. Existem outras formas, e ‘aprender a fazer’, que é das mais simples e eficientes, é pouco utilizada. Repare-se que tentar e errar funciona, mas é insustentável e comprometedor. O leitor sabe isso muito bem, não precisou de pôr a mão no fogo para saber que queima e que não deve lá colocá-la.
Eu quero viver neste país extraordinário, poder olhar para os meus concidadãos e reconhecer-lhes, como gostaria de reconhecer a um filho, a autonomia financeira, a capacidade para fazer uma aprendizagem e adaptação continuada ao longo da vida e, muito importante, a resolução natural de desafios emocionais e intelectuais, sem depender de terceiros para ter bem-estar.
A autonomia deste país mede-se pela autonomia das suas partes. Capacite-se as próximas gerações para os verdadeiros desafios da vida!