Os media alinhados com o Governo, à medida que se aproximam as eleições autárquicas de 2021, vão decretando a morte política do PSD e do CDS e a substituição iminente dos respetivos líderes, Rui Rio e Francisco Rodrigo dos Santos. Essas notícias são manifestamente exageradas e precipitadas. Não só porque faltam quatro meses para as ditas, o que, em política, são a eternidade, mas acima de tudo porque acontecem num momento particular. É suposto que no final do verão de 2021, 70% da população portuguesa esteja vacinada contra o covid 19, após ano e meio de pandemia e dois confinamentos gerais que nos fecharam em casa e deixaram a economia de rastos.
Ninguém consegue calcular com rigor qual o estado geral do ânimo da população: a economia não está bem, muitas empresas fecharam, o desemprego subiu. Porém, ao mesmo tempo, a vacinação, desde que os militares impuseram a sua organização, começou a correr muito bem e as pessoas estão genericamente satisfeitas. Mais, estão envolvidas e motivadas, com vontade de participar e de fazer deste processo um sucesso coletivo. Na vacinação, as autarquias têm estado a desempenhar bem o seu papel e as pessoas reconhecem o trabalho desenvolvido. Quem governa uma cidade com um processo de vacinação bem-sucedido, tendo apoiado com proximidade os mais vulneráveis durante o confinamento, dificilmente perde as eleições.
Contudo, pode perder as eleições por uma sucessão de erros, com um escândalo, ou um caso judicial, ou o simples cansaço, casos que podem funcionar como um gatilho que faz disparar a vontade de mudança.
Vejam-se os casos de Lisboa e Porto, as duas maiores cidades portuguesas. Rui Moreira já cumpriu dois mandatos (oito anos), desde o início marcado pelo caso Selminho que foi evoluindo até esta semana se saber que vai a julgamento com a juíza a dizer que a condenação é muito provável, bem como a perda de mandato autárquico.
Já em Lisboa, Fernando Medina cumpriu mandato e meio (desde 2015), mas no último mês viu-se a braços com a Justiça e mostrou-se fraco no primeiro grande teste pós-covid. Teve buscas relacionadas com todos os grandes projetos urbanísticos desde 2007 (remontando ao tempo de António Costa), envolvendo o vereador do urbanismo Manuel Salgado – o qual passou de vereador a presidente da SRU e depois, quando constituído arguido, a conselheiro com gabinete na Câmara.
Quanto ao caso dos festejos do Sporting, Medina mostrou-se incompetente a prever, planificar e a impedir a aglomeração de dezenas de milhar de adeptos pondo em causa o trabalho das autoridades e a autoridade do Estado em geral. A partir da noite dos festejos, vai ser quase impossível as autoridades imporem-se, obrigar a dispersão de uma multidão ou passarem multas.
Poderão dizer-me que não são casos fatais. Talvez, não matam, mas vão moendo…