Os conceitos de esquerda e de direita não existem mais. Pelo menos na forma como os entendíamos até finais do século XX. O historiador marxista, já falecido, Eric Hobsbawn escreveu um livro a que chamou A Era dos Extremos no qual delimita o que designa por pequeno século entre a Primeira Guerra Mundial e a queda do Muro de Berlim.
Significa isto que a partir de 1989 com o fim da guerra fria, anos antes, com o desaparecimento da divisão do mundo em dois blocos, com a implosão da URSS, com a afirmação da globalização e das democracias liberais, tudo mudou. Existiu uma reconfiguração da geopolítica mundial que determinou a reavaliação de conceitos que vinham do século XIX, muito associados à revolução industrial, à luta de classes, aos movimentos sindicais e ao proletariado oprimido. Não compreender as mudanças é um erro fatal.
A complexidade da contemporaneidade, que a digitalização veio reforçar, impõe cortes epistemológicos, de conhecimento e de estruturação do pensamento. A modernidade implica ter a consciência de que o passado se interpreta mas não se ressuscita. Novas realidades emergiram. Novas potências surgiram. O poder económico e financeiro deslocou-se para leste onde estão os ‘tigres asiáticos’ como a Coreia do Sul, Singapura, Malásia e mesmo Taiwan por muito que isso incomode o gigante chinês.
É este o novo mundo: o mercado global e as praças financeiras internacionais. A luta de classes é, nos nossos dias, de natureza geracional. Separa os jovens que tentam entrar no mercado de trabalho dos mais velhos instalados em posições e em condições económicas que os mais novos almejam mas de difícil acesso. Para estes falta um discurso político fraturante e inspirador.
Com o declínio dos conceitos de esquerda e direita, e da erosão dos partidos tradicionais, surgiram os partidos radicais e extremistas de ambos os lados do xadrez político clássico. Quase todos de natureza nacionalista e xenófoba. É uma realidade preocupante porque atrai a massa de descontentes e excluídos. Mais do que um voto de aceitação, constitui-se como uma rejeição perante o sistema. É nesta linha que assistimos a partidos emergentes como o Chega com sinais de crescimento que iremos aferir já daqui a poucos meses nas eleições autárquicas.
Com a crise das ideologias, subsistem princípios e valores de que uma educação e um Serviço Nacional de Saúde fortes e universais são apenas alguns exemplos dos novos amanhãs que cantam. Novos.