Catarina Martins abriu e encerrou a XII Convenção do Bloco de Esquerda com críticas ao Governo e ao PS. Durante dois dias, as principais figuras do partido fizeram um balanço da gerigonça recheado de críticas à atuação dos socialistas desde as últimas eleições legislativas.
“Nada foi mais importante para o PS do que atacar a esquerda nessas eleições”, disse a coordenadora dos bloquistas, na abertura da convenção que se realizou durante este fim de semana em Matosinhos.
Catarina Martins lembrou que os socialistas recusaram, a seguir às eleições legislativas, em 2019, um acordo com “medidas sociais para os quatro anos seguintes” e depois disso assumiu compromissos que não cumpriu.
No encerramento da Convenção, a líder do BE voltou a criticar o Governo por recusar as medidas do partido nas negociações do Orçamento do Estado para 2021, nomeadamente para alterar as leis laborais, melhorar o SNS e “impedir a captura dos dinheiros públicos pela irresponsabilidade financeira”.
Mariana Mortágua foi mais longe e defendeu que “a ideia de enfrentar a elite financeira deixa a direita e a extrema-direita aterradas, mas também assusta o PS”. A deputada do BE, que Francisco Louçã garantiu que vai ser ministra das Finanças, afirmou que os bloquistas não estão dispostos para ser “enfeites nem fantoches da democracia”.
Apesar das críticas, o Bloco de Esquerda não fechou completamente a porta a um novo entendimento com os socialistas. “Não atuamos por ressabiamento, não temos estados de alma, não ficamos zangados pelo facto de o PS ter fechado a porta a uma solução de estabilidade para quatro anos. É a sua escolha, nós abriremos outra porta”, afirmou Catarina Martins. O emprego é a “prioridade das prioridades”, mas a saúde, a proteção social, a alteração das leis laborais e o controlo financeiro “são agora ainda mais importantes depois do sofrimento com a pandemia”.
Os socialistas não disfarçaram que não gostaram do que ouviram durante o fim de semana em Matosinhos. “É difícil de entender”, escreveu, na sua página do Facebook, a líder parlamentar do PS. Ana Catarina Mendes elogiou o PCP, que viabilizou o último orçamento, e escreveu que o Bloco de Esquerda “não consegue sair de um partido de protesto para um partido construtor de soluções nas dificuldades”.
Apesar disso, a socialista deixou um desafio ao BE para retomar o diálogo com a convicção de que a vontade dos portugueses é continuar com um Governo socialista apoiado pelos partidos à sua esquerda. “O PCP percebeu isto e lutou no último orçamento com propostas próprias que estão a ser executadas”.
Rio, Ventura e Suzana Garcia O discurso de encerramento da Convenção do BE ficou também marcado pelas críticas a Rui Rio com a acusação de que quer “levar a extrema-direita para o Governo”.
Catarina Martins defendeu que a única forma de “continuar a vencer esta direita tingida de extrema-direita” é a esquerda dedicar-se “a quem precisa, a quem tem sido esquecido e silenciado” e “ao povo que sofre”.
Esta não foi a única intervenção a apelar ao combate contra a “mentira e o ódio” lançado pela extrema-direita. “Criarão todos os casos que puderem, lançarão a lama que puderem, atearão os ódios que puderem, tudo para exterminar a esquerda, tudo para decapitar a democracia”, disse José Manuel Pureza, numa referência à candidata do PSD à câmara da Amadora que disse esperar que “o Bloco de Esquerda seja exterminado”.
Catarina Martins também alertou, no discurso de encerramento, que “já há gente do PSD a gritar que quer exterminar o Bloco”, porque “a força da esquerda gera do outro lado adversários raivosos”.
Catarina com menos apoio A oposição interna saiu mais forte desta convenção. A lista de Catarina Martins conseguiu 54 dos 80 lugares da Mesa Nacional do Bloco de Esquerda com 224 votos, mas perdeu 16 mandatos em comparação com a última convenção dos bloquistas. O historiador Miguel Cardina, investigador do Centro de Estudos Sociais e o economista Alexandre Abreu, cabeça de lista à Assembleia Municipal de Cascais nas eleições autárquicas, são algumas das caras novas.
A lista E, promovida pelos críticos do movimento Convergência, conseguiu 17 lugares com 68 votos. Na prática, o grupo de Pedro Soares e Mário Tomé ganha mais peso no partido depois de contestar a estratégia da direção e exigir mais debate interno. A lista N alcançou 5 mandatos com 30 votos e, por último, a lista C conseguiu 4 mandatos com apenas 18 votos.