A líder da oposição da Bielorrússia, Svetlana Tikhanovskaya, disse, esta terça-feira, que o jornalista e opositor do regime de Alexander Lukashenko, detido após o desvio de um avião da Ryanair, “está a ser submetido a tortura”.
"Não há dúvida de que Román [Protasevich] está a ser torturado na prisão", disse ao conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan. Segundo um comunicado, citado pela imprensa internacional, Tikhanovskaya revelou ainda todos os detalhes conhecidos sobre a detenção do jornalista e da companheira e pediu aos EUA que investigassem o “sequestro do avião comercial”.
"Penso que toda a gente viu o vídeo que Román gravou na prisão. Ele diz que o tratam de maneira normal, mas é claro que foi espancado e está deprimido", disse.
"Fizeram-no refém, assim como nove milhões de bielorrussos", sublinhou.
Também o pai de Protasevich revelou que é “possível que ele seja agredido ou torturado” e que se vê “sinais de agressão na cara”.
"Esperamos que ele consiga lidar. Temos medo de sequer pensar nisso, mas é possível que ele seja agredido ou torturado. Temos muito medo disso", disse Dmitri Protasevich à BBC.
Sobre o vídeo relevado pelas autoridades bielorrussas em que o opositor confessava ter cometido um crime, Dmitri disse à AFP que o filho estava "muito nervoso" e que "falava de uma forma pouco usual dele".
"É claro que ele foi fisicamente maltratado porque se vê sinais de agressão na cara dele", disse. "Ainda não sabemos onde ele está, nem em que condições, nem como se sente".
À Reuters, o pai do jornalista de 26 anos revela que as agressões ao filho foram camufladas com maquilhagem.
"É provável que seu nariz tenha sido fraturado, porque o seu formato mudou e está maquilhado. Toda a parte esquerda da sua cara está maquilhada", explicou.
"Estamos muito chocados e muito transtornados. Este tipo de coisa não devia estar a acontecer no século XXI, no coração da Europa. Esperamos que toda a comunidade internacional, incluindo a União Europeia, apliquem pressão sem precedentes às autoridades. Esperemos que a pressão funcione e que as autoridades se apercebam que cometeram um grande erro", apelou.
Recorde-se que o jornalista em causa foi detido, no domingo, após o Presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, ordenar o desvio de um voo da Ryanair – que viajava entre Atenas (Grécia) e Vilnius (Lituânia) – para Minsk, capital da Bielorrússia. Protasevich pediu asilo político na Polónia no final de 2019. Recentemente foi diretor dos canais Telegram Nexta e Nexta Live, que organizaram os protestos contra Lukashenko, após as eleições presidenciais de agosto de 2002, consideradas fraudulentas.
De realçar que a líder da oposição, Svetlana Tikhanovskaya, também abandonou a Bielorrússia. Dois dias após ter perdido as eleições presidenciais, com 10% dos votos, exilou-se na Lituânia.