O presidente da Câmara Municipal de Arganil diz que foi com incredulidade e indignação que recebeu esta quinta-feira a informação de que o concelho ia recuar mais uma casa no desconfinamento. A notícia chegou à hora de almoço, num telefonema do Secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Rebelo, que coordena o acompanhamento da covid-19 na região Centro.
Ao i, Luís Paulo Costa, recandidato à Câmara Municipal de Arganil pelo PSD, classifica a decisão de “perfeitamente irracional” e dá dados que não foram ontem tornados públicos: Nos últimos 14 dias, Arganil teve 33 novos casos de covid-19, o que leva a que esteja atualmente com uma incidência de cerca de 300 casos por 100 mil habitantes, acima da linha vermelha mas metade do que era há uma semana.
Mais: nos últimos sete dias foram diagnosticados no concelho 11 novos casos e neste momento há 15 casos ativos. “Há 15 dias tivemos um castigo e agora com uma situação melhor temos um castigo pior. É quase insultuoso”, diz o autarca, adiantando que, após a decisão, formalizou o protesto junto do gabinete do primeiro-ministro e do Presidente da República.
Não é a primeira vez que o faz mas, até aqui, os critérios têm-se mantido: num concelho com 11 mil habitantes, bastam 27 casos para passar a linha vermelha dos 240 casos por 100 mil habitantes e entrar na situação de maior risco. Foi o que aconteceu em Arganil ao longo do último mês, em focos que começaram na comunidade escolar. O concelho chegou a ter mais de 800 casos por 100 mil habitantes, o que refletia na altura 89 casos em 14 dias. “Tivemos uma turma do primeiro ciclo em que só quatro crianças não foram infetadas. Estendeu-se às famílias e estes casos são ainda consequência disso, apesar de o delegado de saúde ter feito um esforço extraordinário”, diz.
Para explicar a injustiça, invoca o exemplo de Lisboa: “A aplicação do rácio de 240 casos por 100 mil habitantes em Arganil consubstancia 26 casos ao longo de 14 dias. Com 27, estamos nesse nível. Lisboa, para ficar na mesma situação de risco, precisa de ter 1222 casos, com a diferença de que Lisboa tem menos de uma terça parte da área do concelho de Arganil. Gostava que me explicassem como é que 26 casos em 332 quilómetros quadrados têm tanta gravidade como 1222 em 100 quilómetros quadrados.”
Até agora ninguém explicou. Sobre os critérios virem a ser alterados, ironiza: “Há muito que o pedimos. É curioso. De certeza que não tem nada a ver com a situação de Lisboa, é pura coincidência. É pena que não tenha sido no timing de Arganil”.
Para o autarca, na eventual revisão, faz sentido considerar população mas também a área e aplicar a matriz de risco, o que denuncia que não está a acontecer. “A matriz de risco tem dois indicadores, incidência e o RT. Na incidência estamos acima, mas a transmissão tem vindo a baixar e estamos com um RT que será de 0,33, abaixo da média do país”. Na semana passada, apesar de estar no vermelho, Arganil pôde receber o Rali de Portugal com público.
O autarca acredita que a prova não teve “qualquer efeito”, porque dada a “fotografia em torno do concelho”, a lotação, já reduzida, ficou aquém do que aconteceu nas outras localidades por onde passou a prova.