António Costa não quer uma crise política, mas só está disponível para dialogar com os partidos de esquerda. A moção que vai levar ao congresso do PS, intitulada Recuperar Portugal, garantir o futuro, defende que «é no diálogo à esquerda que se assegura a estabilidade» e rejeita qualquer aproximação ao PSD.
A aposta do secretário-geral do PS é na recuperação económica, «vencendo a crise aberta pela pandemia», mas esse objetivo deve ser conseguido com o apoio da esquerda. «O PS defende que é no diálogo à esquerda que se assegura a estabilidade e as boas políticas de que o país precisa para recuperar e garantir o futuro, no respeito pelos princípios programáticos do PS», refere a moção entregue esta quinta-feira pelo secretário-geral do PS na sede nacional.
A estratégia é clara. O PS só está disponível para continuar a governar com o apoio do PCP e eventualmente do Bloco de Esquerda. A ideia é colar o PSD ao extremismo do Chega.
Depois de entregar a moção, Costa recusou sentar-se à mesa com um PSD que «anda a namorar o Chega» e «se tem deixado aprisionar e condicionar pela agenda» do partido liderado por André Ventura. «Há um mundo que nos separa», garantiu o líder do PS.
O Governo quer começar a negociar o Orçamento do Estado para 2022 a partir de julho. O PCP, que viabilizou o último, já avisou que antes de se sentar à mesa quer que os socialistas cumpram os compromissos que assumiram e o Governo está a tentar fazê-lo.
Com o Bloco de Esquerda, que votou contra o orçamento para este ano, a conversa é outra. António Costa deixou claro esta semana que não aceita «ultimatos, nem dramatizações», porque numa «negociação é preciso estar disponível para recuar».
A moção com 52 páginas começa por definir como prioridade «erradicar a pandemia» e a seguir apostar tudo na recuperação económica e social com os fundos europeus. «O Plano de Recuperação e Resiliência, pelo seu volume e natureza extraordinária, impõe-nos uma enorme responsabilidade. Temos de ir mais além e mais rápido na nossa ambição de convergência. O PRR é um acelerador, um trampolim do nosso desenvolvimento».
Costa não ignora a regionalização na moção que vai levar ao congresso, mas defende que só há condições para voltar ao assunto em 2024, ou seja, depois das eleições legislativas. Até lá, é preciso consolidar o processo de descentralização.
Daniel Adrião volta a candidatar-se á liderança do PS. Na moção com o lema Democracia plena, que vai levar ao congresso que se realiza nos dias 10 e 11 de julho, o dirigente do PS defende que «o PS tem estado muitas vezes de costas voltadas para os militantes e para a sua base de apoio».