A população portuguesa tem o maior défice de qualificações da União Europeia. Esta é a conclusão principal do relatório “Estado da Nação: Educação, Emprego e Competências em Portugal” da Fundação José Neves (FJN), uma iniciativa produzida em conjunto com investigadores da Universidade do Minho e da Universidade de Aveiro.
Recorrendo a dados do Instituto Nacional de Estatística, do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social e do Brighter Future, entre outras fontes, a FJN percecionou que a percentagem de adultos portugueses que não terminaram o ensino secundário (47,8%) é mais do dobro da média europeia (21,6%) e o valor mais baixo entre os países que compõem a União Europeia.
Por outro lado, verificou-se que “Portugal apresenta também o maior fosso inter-geracional nos níveis de qualificação da sua população ativa”, como é possível ler no comunicado a que o i teve acesso.
Assim, 75,2% dos jovens adultos (dos 25 aos 34 anos) têm pelo menos o ensino secundário completo, mas nem metade dos adultos mais velhos (35 aos 64 anos) concluiu esse nível de escolaridade (apenas 46,5%). Por este motivo, a FJN frisa que “na média da União Europeia esta diferença entre gerações é de 7,9%, enquanto que em Portugal está nos 29%, a maior diferença de todos os estados-membros”.
Salário médio dos jovens licenciados cai desde 2010 O estudo permitiu compreender que o salário médio real dos jovens licenciados caiu 17% entre 2010 e 2018, “uma situação que acarreta o risco de um incumprimento das expectativas no valor da educação”, segundo a FJN, que acrescenta que “apesar da queda generalizada dos salários, mais educação garante emprego e melhores remunerações”.
Os portugueses licenciados ganham, em média, mais 750 euros do que aqueles que só têm o ensino secundário, ainda que estas “vantagens” sejam “menos pronunciadas entre os mais jovens “.
Desigualdade de género Naquilo que diz respeito às diferenças entre mulheres e homens e à sua presença no mercado laboral, constatou-se que as elas são mais qualificadas do que eles, contudo, a disparidade salarial continua a penalizá-las independentemente do nível de educação e área de estudo.
“Em média, os homens licenciados ganham mais 38% do que as mulheres com o mesmo grau de ensino, o que também se verifica nos restantes níveis de escolaridade: mais 32% nos mestrados e mais 28% no ensino secundário”, lê-se no comunicado, que também refere que as qualificações de ambos melhoraram nos últimos anos, mas são as mulheres que têm maior propensão a prosseguir para o ensino superior.
E o futuro? “Perspetivando o futuro e o objetivo de tornar Portugal uma sociedade do conhecimento”, a FJN espera que, em 2040 os adultos (25 aos 64 anos) com baixa escolaridade sejam no máximo 15%, uma diminuição de 33 pontos percentuais face ao valor atual (47,8%).
Por outro lado, almeja que pelo menos 25% dos adultos participem em educação e formação – atualmente esse valor situa-se nos 10,5%.
E, por último, deseja que Portugal integre a lista de dez países da União Europeia com maior peso do emprego em setores tecnológicos e intensivos em conhecimento, o que representaria uma melhoria de nove posições face ao ranking atual.